Professor: Tarcísio não humilhou árabes, mas dá prato cheio para oposição

Ao aparecer enrolado na bandeira de Israel durante participação na Marcha para Jesus, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, não humilhou os árabes, ao contrário do que disse o ministro Márcio França, mas deu um prato cheio para seus opositores políticos, avaliou Leandro Consentino, cientista político do Insper, ao UOL News de hoje.

Não acho que Tarcísio de Freitas humilhou a comunidade árabe como o Marcio França colocou, mas, de fato, sugere um desconforto, deveria ser muito mais bem pensado, se é um governador de São Paulo, se alguém tem ambições para ocupar o Palácio do Planalto em algum momento, deveria pensar muito bem cada gesto que faz.

E aí se enrolar uma bandeira de outro país, Tarcísio de Freitas já repete um gesto que colocou em outros elementos, anteriormente colocou um boné do Trump, quando o Trump ganhou as eleições dos Estados Unidos. Agora se enrola na bandeira de Israel, isso vai gerando muito mais cisões, isso vai afastando muito mais o potencial eleitor de Tarcísio de Freitas que está fora das suas hostes bolsonaristas, mais radicalizadas, e isso dá um prato cheio para eventuais opositores o criticarem.
Leandro Consentino

Márcio França criticou a postura de Tarcísio em vídeo publicado hoje nas redes sociais. O ministro do governo Lula afirmou que o governador fez um "gesto de humilhação", cometeu "erro grave" e destacou que o estado tem uma expressiva comunidade árabe, principalmente de descendentes de sírios e libaneses. Pesquisa divulgada em 2020 pela Câmara Árabe Brasileira apontou que 11,61 milhões de pessoas no Brasil são árabes ou descendentes de árabes.

O professor Leandro Consentino disse que Tarcísio estava ou mal assessorado, ou pensando em flertar com algum ganho de imagem ao se enrolou na bandeira de Israel, mas acabou se enrolou também em uma narrativa bastante complicada.

O Tarcísio de Freitas foi a Marcha para Jesus, que é um evento ligado à comunidade evangélica, e nessa questão dos evangélicos está inserido aí um culto, uma busca de aproximação com símbolos judaicos e nesse contexto que de alguma forma se aproxima com a ideia de Israel, talvez ou mal assessorado, ou de alguma forma pensando em flertar com algum ganho de imagem com relação a isso, se enrolou na bandeira de Israel e se encolou também numa narrativa complicada.

O Márcio França, que não é ingênuo, que tende a enfrentar Tarcísio de Freitas numa eventual candidatura à reeleição, ou, se Tarcísio de Freitas for a presidência da República, um sucessor de Tarcísio na disputa pelo Bandeirantes, explorou muito bem essa contradição, essa questão e puxou para si a comunidade árabe.

Então, mesmo que a intenção possa não ter sido humilhar a comunidade árabe, é uma fotografia que talvez Tarcísio de Freitas deveria pensar muito melhor em fazer, tal qual o boné Trump, a bandeira de Israel agora também, porque a gente não sabe as consequências tanto da presidência Trump quanto da escalada que Israel está promovendo dentro do oriente médio.

Se alinhar automaticamente a esses símbolos pode causar prejuízos eleitorais no futuro para Tarcísio de Freitas e isso compromete de alguma forma a própria liturgia do cargo que ele está investindo como governador de São Paulo também.
Leandro Consentino

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