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Comitiva brasileira em Israel foi orientada a propagar versão pró-governo

Álvaro Damião, prefeito de Belo Horizonte, foi um dos integrantes de comitiva de autoridades brasileiras que ficou presa em Israel Imagem: Reprodução/UOL

Do UOL, em São Paulo

23/06/2025 16h56Atualizada em 24/06/2025 12h25

Integrante da comitiva de autoridades brasileiras que ficou presa em Israel, o prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião (União Brasil), afirmou que o grupo foi orientado por um integrante do exército do país a propagar versão pró-governo israelense.

O que aconteceu

Porta-voz de Israel pediu que autoridades fossem "embaixadores da verdade" pró-governo no retorno ao Brasil. "Eu quero que vocês, quando voltarem ao Brasil, que vocês possam ser embaixadores, não de Israel, mas embaixadores da verdade", disse o brasileiro Rafael Rozenszajn, representante do Ministério da Defesa israelense. Os vídeos com as falas do porta-voz foram publicados pelo site O Potiguar e tiveram o conteúdo confirmado por Damião, que acompanhou a palestra.

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Palestra ocorreu no dia 15 de junho. O pedido para as autoridades propagarem a versão do governo israelense, segundo Álvaro Damião, ocorreu um dia antes de a comitiva deixar Israel.

Damião teria questionado porta-voz sobre autoridades terem sido levadas a Israel às vésperas de ofensiva contra o Irã. "Vocês sabiam que essa guerra ia acontecer e, mesmo assim, trouxeram a gente para cá?", relatou o prefeito ao UOL ao dizer que questionou o representante do Ministério da Defesa. O grupo de 40 autoridades, que incluía governadores, prefeitos, vice-prefeitos e secretários municipais, viajou para Israel a convite do país em 8 de junho. No dia 12, durante a missão oficial, os ataques começaram.

UOL procurou a Embaixada de Israel no Brasil para comentar as falas do porta-voz. Se houver resposta, o texto será atualizado.

Rafael afirmou que a imprensa brasileira publica "narrativas enganosas" contra Israel. Durante a apresentação, ele disse que os veículos de comunicação do Brasil propagam a versão do grupo extremista Hamas e do Irã, em detrimento da verdade dos fatos, que, segundo o porta-voz, viria do regime de Benjamin Netanyahu.

Damião disse que foi ao evento por achar que se trataria de uma reunião para falar do retorno ao Brasil. "O que eu pensei? Nessa reunião do exército, eles vão nos dar as condições que estamos exigindo para nos levar com segurança até a fronteira da Jordânia", relatou o prefeito.

Quando a palestra começou, Damião disse ter percebido que o assunto não era este. "O rapaz que comandou a reunião, na verdade, deu uma palestra. E ele só falava números da guerra e chegou a falar que nós seríamos representantes de Israel no Brasil."

"Ele estava querendo fazer propaganda de Israel", disse Damião. "Não achei aquilo apropriado", declarou também. Após a palestra, o prefeito contou que participou de uma reunião com representantes da diplomacia israelense, na qual foram garantidas as condições para que a comitiva deixasse o país em segurança.

Palestra não estava na programação da visita oficial. Segundo Damião, as autoridades só foram avisadas do evento, que ocorreu na noite de 15 de junho, na tarde daquele dia.

O prefeito não acredita que o objetivo da viagem tenha sido doutrinar os prefeitos para propagar a versão israelense. "Não acredito nisso. Nós fomos lá para esse evento sobre segurança urbana. No meio dessa programação, começou a guerra e aproveitaram o evento para isso."

O que prefeitos foram fazer em Israel

Viagem foi custeada integralmente pela Mashav, uma agência israelense de cooperação internacional. Segundo a Embaixada de Israel no Brasil, duas delegações oficiais do Brasil visitaram Israel nos últimos dias a convite do ministério israelense. Segundo a embaixada, as visitas tiveram como foco a troca de conhecimentos em áreas relacionadas à inovação, métodos de trabalho e tecnologias avançadas em segurança pública, cidades inteligentes, medicina, agricultura e desenvolvimento social.

Delegação —que incluiu prefeitos, vice-prefeitos e secretários de segurança urbana— visitou "municípios inteligentes" do país. Segundo a embaixada, eles também conheceram programas israelenses focados na segurança nas cidades, incluindo um programa especial chamado "Cidade Sem Violência" —que tem como ponto central serviços de inteligência e vigilância.

Damião afirmou que aceitou convite de viagem para conhecer tecnologias de monitoramento de Israel. O prefeito contou que pretende usar câmeras produzidas no país semelhantes às usadas no SmartSampa, sistema de monitoramento por câmeras inteligentes da prefeitura de São Paulo no combate à criminalidade. "Maior parte das câmeras do SmartSampa é de Israel", justificou o prefeito.

Comitiva tinha maioria dos prefeitos de direita ou extrema direita. Além de Álvaro Damião, estavam também Cícero Lucena (PP), prefeito de João Pessoa, Jhonny Maycon (PL), prefeito de Nova Friburgo, Gilson Chagas, secretário de Segurança de Niterói, e as vice-prefeitas de Goiânia, Claudia Lira, e Divinópolis, Janete Aparecida, do Avante.

Itamaraty afirmou que grupo viajou "a despeito" de orientação dada pela Embaixada do Brasil em Tel Aviv. Em nota, o ministério informou que mantém alerta desde outubro de 2023, que "desaconselha toda viagem não essencial àquele país".

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