Moraes põe Braga Netto e Cid frente a frente para questionar divergências

O general Walter Braga Netto e o tenente-coronel Mauro Cid ficarão frente a frente amanhã no STF para esclarecer divergências em seus depoimentos sobre a tentativa de golpe de Estado.

O que aconteceu

Defesa de Braga Netto fez pedido de acareação. Trata-se de um procedimento jurídico para confrontar os réus que prestaram depoimentos divergentes sobre um mesmo fato.

Advogados apontam duas principais divergências nas versões de Cid e Braga Netto. Eles questionam as declarações de Cid sobre a reunião na residência do general para supostamente discutir um plano para monitorar e matar autoridades. O segundo ponto é o suposto repasse de dinheiro para financiar a ação.

Na acareação, as partes ficam frente a frente para confrontar suas versões. Será a primeira vez que Braga Netto irá pessoalmente ao STF (Supremo Tribunal Federal) desde que foi preso, no ano passado. Ele participou remotamente dos interrogatórios.

Moraes também autorizou acareação entre o ex-ministro Anderson Torres e o ex-comandante do Exército Freire Gomes. Os dois serão questionados à tarde, após a sessão de Cid e Braga Netto.

Dinheiro em caixa de vinho

Em sua delação, Cid afirmou ter recebido dinheiro vivo de Braga Netto em uma caixa de vinho. Em seguida, o montante teria sido entregue para o major Rafael de Oliveira, um dos envolvidos no "Punhal Verde e Amarelo", suposto plano para matar o presidente Lula (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro Alexandre de Moraes.

Ao ser interrogado por Moraes, o ex-ajudante de ordens disse não saber quanto havia na caixa. Segundo ele, o dinheiro teria vindo "do pessoal do agronegócio". O ajudante de ordens conta que procurou Braga Netto para pedir os recursos.

Cid disse que recebeu o dinheiro no Palácio do Alvorada. No entanto, não se lembrou do local exato. "O local efetivo eu não me lembro, talvez na garagem ou ali no corredor, na sala dos ajudantes de ordens, mas eu lembro que o que me marcou foi que eu peguei e até escondi pra deixar embaixo da mesa, pra ninguém mexer."

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Braga Netto nega. Ele confirma o pedido, mas diz que nunca entregou dinheiro a Cid e que tomou conhecimento do plano "Punhal Verde e Amarelo" pela imprensa.

O general Braga Netto trouxe uma quantia em dinheiro, que eu também não sei precisar quanto foi, mas com certeza não foi os 100 mil, porque até pelo volume não era tanto. Foi passado para o major de Oliveira no próprio Alvorada. Mauro Cid

Estava em uma caixa de vinho. Depois, acho que no mesmo dia, eu passei para o Major de Oliveira. Mauro Cid

O Cid veio atrás e perguntou: 'General, o PL pode conseguir algum recurso que nós estamos precisando?' Na minha cabeça, tinha alguma coisa a ver com campanha. Eu viro para ele, como está nos autos, e falo assim: 'Procura o Azevedo, procura o tesoureiro, que era o Azevedo'. Braga Netto

Eu não tinha contato com empresários. Então, eu não pedi dinheiro para ninguém e não dei dinheiro nenhum para o Cid. Braga Netto

Reunião na casa de Braga Netto

Braga Netto confirma a realização de uma reunião em sua residência em 12 de novembro de 2022. Na delação, Cid disse que foram discutidas ações para mobilizar a população e gerar "caos social" para que Bolsonaro decretasse estado de sítio.

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Também estavam presentes o major Rafael de Oliveira e o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima. Braga Netto diz que Cid "faltou com a verdade" e que os militares conversaram "amenidades" na reunião. "Só os recebi porque eu conhecia o Cid e ele disse que as pessoas queriam me cumprimentar", falou.

Cid diz que ficou na reunião somente por 15 minutos. Segundo ele, Braga Netto teria concordado com a saída para "não aproximar nada do presidente", já que a partir daquele momento seriam discutidos "assuntos operacionais". O ex-ministro contradiz essa versão, alegando que Cid ficou o tempo todo em sua casa e saiu junto com os outros dois militares.

Eles estavam insatisfeitos com o rumo do processo eleitoral, insatisfeitos com o rumo que até as Forças Armadas estavam tratando esses assuntos. Foi uma conversa nesse nível, inicialmente desse nível, o que poderia ser feito, o que deveria ser feito, sempre nessa toada. Mas não teve nada, naquele momento que eu estava presente, de radicalismo ou de planejamento, ou de apresentação formal de alguma ideia ou de alguma ação. Mauro Cid

Então, eu peguei o início da reunião ali e logo depois eu já me ausentei para ir de volta para o Alvorada. Mauro Cid

Eu deixei eles subirem, eles subiram, eu não os conhecia, inclusive, foi uma das primeiras perguntas que eu fiz para eles, eu não os conhecia, perguntei se já tinham servido comigo. Eu não os conhecia, eles conversaram comigo 20, 30 minutos. Os dois mais o Cid saíram juntos da minha casa. Braga Netto

Ele ficou o tempo todo na minha casa. Eles chegaram, subiram, não me conheciam, queriam me conhecer, por eu ser uma pessoa de certo renome, falaram amenidades porque a distância era muito grande. Eu os recebi muito bem e saíram os três juntos. Braga Netto

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Eles não tinham intimidade para entrar em assuntos detalhados, delicados comigo, não tinham essa intimidade. Não tocaram em assunto nenhum de operação. Braga Netto

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