Josias: Lula acusa deputados e senadores de tentarem usurpar trono
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O presidente Lula (PT) engrossa seu discurso e acusa o Congresso Nacional de tentar atrapalhar seu governo após a derrubada do aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), avaliou o colunista Josias de Souza na edição de hoje do UOL News.
Em entrevista à Rede Globo na Bahia, nesta manhã, Lula criticou o embate com deputados e senadores. "Se eu não entrar com um recurso no Poder Judiciário, não for à Suprema Corte, não governo mais", disse o presidente.
Quem sabe escutar nas entrelinhas, percebe que Lula acusa deputados e senadores de usurpação do trono. Ele disse que, se não recorresse à Suprema Corte, não conseguiria governar. Advogados vêm dizendo que cabe a ele, como presidente da República, e não aos congressistas, fixar a alíquota do IOF.
Na prática, Lula está dizendo com outras palavras que os deputados e senadores tentaram desalojá-lo do trono de presidente e decidir algo que é uma atribuição dele. Em outras crises, o Executivo e o Legislativo divergiam. Na crise atual, é pior: já nem se falam. Lula acusa Hugo Motta de descumprir a palavra, algo impensável e inaceitável em termos políticos.
Motta quebrou a palavra, levou o IOF ao plenário e impôs ao governo uma derrota humilhante. Com um agravante: na gestão anterior, sob Arthur Lira, havia uma diferença entre Câmara e Senado. Sempre que Lira puxava o tapete do governo na Câmara, Rodrigo Pacheco não o acompanhava no Senado.
Subitamente, Davi Alcolumbre se associou a Motta para os dois puxarem o tapete do governo a quatro mãos. Houve uma inédita conciliação entre os interesses de Motta e Alcolumbre. Josias de Souza, colunista do UOL
Para Josias, o equilíbrio no relacionamento entre Executivo e Legislativo desejado por Lula está muito longe de se concretizar.
Não existe mais normalidade no relacionamento entre Legislativo e Executivo no Brasil, e isso há muito tempo. Hoje, os parlamentares ganharam uma independência em relação aos chefes da Câmara e do Senado, que já não falam pelos deputados e senadores.
Até os líderes de bancadas têm dificuldades de falar pelos deputados. Cada deputado é dono de suas próprias emendas orçamentárias e dão uma banana para todo mundo. É como se houvesse no Congresso 513 partidos políticos na Câmara e mais 81 no Senado.
Essa conciliação que havia entre Lula, Motta e Alcolumbre não encontrava eco nas bancadas. Os deputados estão com o nariz virado para o Palácio do Planalto. Mudou a realidade, e isso não é de agora. Não é de hoje que os deputados ganharam essa autonomia.
O governo tem hoje um Legislativo duro de roer. Lula está sonhando com uma normalidade que não existe. Josias de Souza, colunista do UOL
Ronilso: Discurso de Lula de 'ricos x pobres' faz sentido, mas não cola
Embora Lula esteja correto ao enfatizar o combate aos privilégios que os ricos têm no Brasil, esse discurso dificilmente convencerá os mais pobres de que haverá alguma mudança, analisou o colunista Ronilso Pacheco.
Temos uma história farta sobre os privilégios dos ricos no país. Lula teve tempo para enfatizar esse jogo de interesses, no qual não é preciso muito esforço para entender e explicar que eles nunca são pautados e decididos pelos mais pobres no Brasil, mas sim pelos mais ricos e por aqueles que têm poder de decisão.
Houve um tempo em que o governo teve mais chances de fazer esse debate, trazer isso à luz e minimamente mostrar essa relação. É difícil isso acontecer agora e esse discurso colar.
O discurso faz todo o sentido, mas a maioria da população, sobretudo os mais pobres, vê isso como dizer o óbvio. Não é preciso fazer um comercial para dizer isso às pessoas, aos trabalhadores, a quem vive nas periferias e acorda cedo para pegar um ônibus apertado e paga caro nas compras que faz. Elas sabem.
Um comercial como esse é chover no molhado. Isso volta muito pouco em termos de engajamento. Não acredito que o pessoal do PT ache que esse comercial fará as pessoas se revoltarem e irem às ruas para uma manifestação pedindo para o Congresso mudar de postura. Ronilso Pacheco, colunista do UOL
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