Moçambicana que atendeu vítimas de tsunami vai atuar no programa Mais Médicos
Crédito: Rondon Vellozo - ASCOM/MS
Nascida em Moçambique, Maria Pereira saiu da África aos 22 anos porque queria terminar o curso de Medicina. Faltava apenas um ano para se formar quando houve uma revolução no país e a faculdade ficou sem professores. Ela, então, viajou para Lisboa, onde concluiu o curso. Depois, trabalhou um tempo em Moçambique e, mais tarde, retornou a Portugal.
Em 1999, foi para o Timor Leste, atender as vítimas do conflito desencadeado após a independência do país. Viajou a pedido da Oikos, uma organização não governamental portuguesa. Na época, tinha contato com os militares brasileiros que ajudavam a proteger o país e era vizinha do diplomata Sérgio Vieira de Mello (morto há dez anos em um atentado no Iraque), que chefiava a Administração de Transição das Nações Unidas no Timor Leste. Em 2004, atendeu, a pedido da Oikos, as vítimas do tsunami em Banda Aceh, na Indonésia. Conta que nunca viu uma catástrofe tão grande. “Até hoje me dói a alma lembrar dessa época. Eu atendi só emergências e vi muita gente morrer”, recorda.
Maria acredita que tem grande capacidade de adaptação e, apesar de ainda não ter tido contato com alguns tipos de enfermidades comuns no Brasil, afirma que irá aprender a lidar com essas situações durante o módulo de acolhimento e avaliação. “Enquanto outros vão melhorar o português, eu vou aprender mais sobre essas doenças. Sei que posso ajudar a identificar e resolver os problemas de saúde da população”, avalia.
A especialista em medicina familiar diz que acha o Programa Mais Médicos muito interessante. Segundo ela, também houve no passado, em Portugal, um projeto para distribuir melhor os profissionais de saúde no país. Ela era representante de um grupo que apoiava essa ideia. “Na época, ocorreu o mesmo que no Brasil. Muitos médicos resistiram, houve críticas. Mas agora há médicos para todos e ninguém se lembra mais das críticas”, relata.
A guineense Eurizanda Lopes, 49 anos, também avalia que o Mais Médicos é bom para o Brasil. Ela se inscreveu no programa para ter uma nova experiência profissional e atuar em atenção básica. “Trabalhei em urgência por 15 anos, em centro de saúde por dois anos, e me especializei em medicina legal. Mas gosto mesmo é de tratar doentes”, conta.
Eurizanda se formou na Ucrânia, depois de ganhar uma bolsa de estudos (na época, Guiné-Bissau não tinha faculdade de Medicina). Assim que terminou o curso, voltou ao país onde nasceu. Em 1998, deixou Guiné-Bissau novamente e foi para Portugal, onde fincou raízes.
Agora, Eurizanda deixa a cidade portuguesa Agualva-Cacém para trabalhar no município de Santa Vitória do Palmar (RS). “Queria ter uma nova experiência e ir para um país onde tenho amigos. Conheço médicos que moram em Tocantins e Goiás e que também se inscreveram no programa”, afirma.