Diante do aumento no número de queixas, a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (DPRJ) criou o canal "Onde está sem água?" para receber denúncias e dados de falta d'água por parte dos moradores e encaminhar as demandas às autoridades responsáveis.
A primeira parcial foi liberada pela Ouvidoria Geral da Defensoria Pública em relatório cinco dias após o início do canal (18 de março). Das 475 denúncias recebidas, 397 (83,57%) estão associadas à falta de água de forma contínua ou intermitente no âmbito familiar do próprio denunciante, problema que foi apontado em 140 locais em 14 municípios.
Dessas 397 denúncias, 6,8% são da Rocinha principalmente na região de Vila Verde, Rua 1, Rua 2, Rua 3, Rua 4, Cachopa e Casa da Paz.
É justamente na Rua 2 que Rose vive com sua família:
Na minha casa a água está caindo de dois em dois dias nesse momento de pandemia, mas costuma ficar uma semana, oito dias sem cair,aí a gente compra água pra beber e às vezes tem que comprar também pra tomar banho. Na minha casa, o maior tempo que ficou foi duas semanas e meia sem água, foi horrível, passamos muito sufoco"
Mesmo a estratégia de ferver a água para torná-la potável é um desafio com a inflação que fez disparar o preço do botijão de gás. "Como nosso gás, aqui na Rocinha, está muito caro, R$ 100, passamos a ferver água na churrasqueira, comprar carvão sai mais barato que usar o gás. A gente bota um panelão de seis litros de água e um saco de carvão que dá pra usar durante quatro dias consecutivos, então a gente ferve bastante água. Depois de fria, água é filtrada e levada à geladeira para ser consumida."
No dia 25 de março a Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) foi notificada dos dados preliminares da DPRJ pelo Núcleo de Defesa do Consumidor (Nudecon). A Cedae respondeu, em ofício, que segue atendendo a todas as solicitações em 24 horas e que tem trabalhado em caráter emergencial com 40 caminhões pipa para atender melhor à região metropolitana.
No último dia quatro, a Cedae iniciou um novo programa de abastecimento de água visando o combate à pandemia de coronavírus em áreas de ocupação irregular e sem rede distribuidora. De acordo com o programa serão instaladas caixas d'água com capacidade de até dez mil litros com redes distribuidoras ligadas a bicas, sendo as caixas d'água abastecidas diariamente por caminhões pipas. A comunidade do Brejo na Cidade de Deus já está recebendo o sistema, que vai avançar para as comunidades Camarista no Méier, Engenho de Dentro e Fim do mundo no Complexo da Maré.
Daniele Vicino, de 22 anos, é moradora da região conhecida como Fim do Mundo, situada às margens da linha vermelha, se estendendo pelas comunidades da Vila do Pinheiro e Salsa e Merengue, no Complexo da Maré. A região é conhecida pela precariedade no saneamento básico, principalmente pela presença de valões e deposição de lixo.