A hora de Frota

De ex-ator pornô e ativista político, deputado chega ao PSDB com status de parlamentar disputado

Bernardo Barbosa Do UOL, em São Paulo Aloisio Mauricio/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Em outubro do ano passado, após o primeiro turno das eleições, uma frase dita pelo jornalista Merval Pereira simbolizou como Alexandre Frota era lembrado até aquele momento. Ao comentar o resultado das urnas na GloboNews, Merval destacou que um "ator pornô" também tinha sido eleito para a Câmara.

Agora, depois de uma breve e turbulenta trajetória no PSL --foi expulso do partido após as incessantes críticas ao presidente Jair Bolsonaro-- o deputado federal Alexandre Frota chega ao tradicional PSDB com status de estrela da companhia.

Ao assinar sua ficha de filiação, recebeu as boas-vindas de tucanos como o governador paulista e virtual adversário de Bolsonaro pela Presidência em 2022, João Doria; o prefeito de São Paulo, Bruno Covas; e o presidente do partido, Bruno Araújo.

Foi justamente ao lado de Bolsonaro que Frota foi visto em várias ocasiões nos últimos anos, quando o ex-ator começou a trilhar seu caminho na política.

De ativista nas ruas e nas redes, Frota chega a agosto de 2019 não como um neófito na política, mas como um parlamentar cortejado. Segundo seu próprio depoimento, teve conversas com sete partidos após ser expulso do PSL: DEM, PRB, Podemos, PL, MDB e PP, além do PSDB.

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Luis Macedo/Câmara dos Deputados

No 'elenco' da Câmara

A atual encarnação de Frota como parlamentar é apenas o papel mais recente de alguém que, quando criança, sonhava em ser Tarcísio Meira, como relatou na biografia "Identidade Frota" (BB Editora, 2013).

O carioca de 55 anos foi galã de novelas da TV Globo, celebridade de reality show (no Brasil e em Portugal), empresário de grupos de funk, jogador de futebol americano e apresentador de talk show.

A aproximação com a política começou durante a onda de protestos no país em 2013. Depois, Frota passou a ser presença constante nas manifestações pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Em seguida, conheceu o então deputado federal Jair Bolsonaro, com elogios de parte a parte. Frota seguiu Bolsonaro e se filiou ao PSL, partido pelo qual se elegeu deputado federal em São Paulo com 155 mil votos.

"Os maiores atores e atrizes pornôs já estão lá dentro. Eu só vou me colocar junto ao elenco", disse um dia depois da sua eleição.

Michel Jesus/ Câmara dos Deputados

Um aliado fora do tom

Empossado na Câmara, Frota começou cumprindo o que se esperava de um aliado de um presidente eleito com discurso anti-esquerda: elogios ao governo e críticas à oposição, principalmente a partidos como PT e PSOL.

Aos poucos, no entanto, o deputado começou a desafinar o coro pró-Bolsonaro.

No primeiro semestre, começou a ter desentendimentos com o partido ao não conseguir emplacar aliados na Ancine (Agência Nacional do Cinema).

Ainda no começo do ano, defendeu a prisão de Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente. Queiroz fez movimentações atípicas de R$ 1,2 milhão entre 2016 e 2017 e recebeu repasses de outros funcionários do gabinete de Flávio quando este era deputado estadual. O caso é investigado pelo Ministério Público do Rio.

Depois, mostrou indignação com a demissão do general Alberto Santos Cruz do cargo de ministro da Secretaria de Governo, que atribuiu à influência do escritor Olavo de Carvalho na gestão Bolsonaro.

"Tem sido muito difícil defender o governo aqui", disse em junho, da tribuna da Câmara.

Só duas vezes tivemos paz: quando o Twitter ficou fora do ar e quando Bolsonaro tirou o dente

Alexandre Frota, em entrevista à Folha, em julho

Ataques a Eduardo foram estopim

Apesar do aumento na frequência e no tom das críticas ao governo, Frota se engajou na aprovação da reforma na Previdência na Câmara, uma das principais bandeiras do mandato de Bolsonaro.

O deputado se aproximou do ministro da Economia, Paulo Guedes, depois de ter feito uma espécie de "escolta" a Guedes nas audiências na Câmara sobre a reforma, usando até táticas de futebol americano para blindar o ministro.

Frota abriu mão de sua vaga na comissão de Cultura da Casa para poder participar da comissão especial da Previdência, na qual atuou como coordenador.

Em paralelo, no entanto, o deputado comprou briga com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, pelo comando do PSL paulista --Eduardo comanda o diretório estadual.

Os embates intrapartidários com Eduardo não pareceram incomodar Bolsonaro. No entanto, quando Frota voltou sua metralhadora verbal para a indicação de Eduardo como embaixador do Brasil nos EUA, a paciência do presidente acabou.

Segundo o colunista do UOL Tales Faria, Bolsonaro cobrou do presidente do PSL, deputado federal Luciano Bivar (PSL-PE), a expulsão de Frota do partido --o que Bivar nega.

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Casa nova, polêmicas novas

Quando recebeu o UOL para entrevista em junho, Frota já afirmava estar decepcionado com Bolsonaro e demonstrava estar ciente de sua situação de risco no PSL.

"Eles não podem me expulsar do partido. Ou até podem. Me manda embora do partido, eu levo o meu fundo partidário. Eu te garanto que, três horas depois, eu estou em outro partido, porque o que não falta é convite", declarou na ocasião.

Três dias depois de ser expulso do PSL, Frota estava na sede do PSDB em São Paulo sendo filiado ao partido. Creditou sua entrada na legenda a João Doria, a quem demonstrou lealdade.

"João soltou a rédea, eu vou pra cima. Quem vai soltar é ele", afirmou.

Mas Frota é Frota, e não demorou mais que alguns minutos de filiação para que ele se visse obrigado a comentar polêmicas do passado e do presente.

Questionado por jornalistas se estava constrangido de fazer parte da mesma legenda que o deputado federal Aécio Neves (PSDB-SP), Frota negou e disparou: "Não fico [constrangido], imagina. Eu estava num partido que tinha o Queiroz. Vou ficar constrangido?"

Frota também afirmou que não vai pedir desculpas ao ex-governador paulista Geraldo Alckmin, quadro histórico do PSDB, por xingamentos que fez a ele no passado.

"Isso é do passado. O novo PSDB para mim começa agora", afirmou. "Eu não tenho que pedir desculpas a ninguém, nem ao Alckmin."

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