O estudante Evandro Smarieri, 29, começou neste ano o doutorado em sociologia na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Ele conseguiu participar do programa da Univesp, como facilitador de aprendizagem, e estava recebendo uma bolsa equivalente à de doutorado por cinco meses, prorrogável por mais um ano.
Em meados de abril, recebeu um email do Programa de Pós-Graduação informando que estava disponível uma bolsa da Capes. "Seria uma bolsa de quatro anos, que facilitaria meu planejamento para fazer a pesquisa", avaliou. Para ter acesso ao recurso, bastava levar a documentação até 3 de maio. Ele levou antes e assinou o contrato por volta de 20 de abril.
"Eu tive que abrir mão da bolsa que já estava garantida e esperar pelo período de 30 dias de implementação para receber essa bolsa em junho", afirmou. Mas a bolsa não chegou.
"Agora, eu vou ter que arcar com um contrato de aluguel, sair de Campinas ou procurar um trabalho para conciliar com o doutorado. Mas é difícil manter a qualidade do trabalho sem bolsa", disse o estudante, que atua na área de sociologia da ciência e tecnologia. "O sentimento total é de total insegurança e incerteza."
A "ociosidade" da bolsa, muitas vezes, era apenas decorrente do tempo de implementação, ou seja, de passar de um pós-graduando que acabou de defender a tese para outros que começaram o curso.
"A plataforma da Capes abre no início do mês e fecha na segunda quinzena, então os programas precisam se cadastrar até o dia 15 para que as pessoas recebam no início do mês seguinte", diz a professora Luciana Alves, coordenadora do programa de pós-graduação em demografia da Unicamp.
Em seu programa, houve o caso de uma aluna, Yeda Carvalho, que se exonerou de seu cargo público para pegar a bolsa.
Yeda estava na rede estadual de ensino no ano passado e dava o mínimo de aulas para poder conciliar o tempo de trabalho com o mestrado. Como havia conseguido bolsa, optou por se exonerar.
"Eu me exonerei no dia 29 de abril e levei os documentos no dia 2 de maio. Mas o sistema da Capes não abriu mais. No dia 8 fiquei sabendo que a bolsa havia sumido", relatou a estudante. Como seu programa de pós-graduação possui nota 6, ela soube, após alguns dias de transtorno, que conseguiria recuperar a bolsa.
"Isso é um erro de gestão e foi uma irresponsabilidade com as universidades e com os programas. O desenvolvimento da sociedade depende de resultado de pesquisa, que vem em sua maioria da universidade pública", avaliou Luciana.
Flávia Calé, presidente da ANPG (Associação Nacional de Pós-Graduação) e mestranda do programa de história econômica da USP, questiona o conceito da Capes para definir "bolsa ociosa" em um cenário em que menos de 50% dos pós-graduandos são contemplados, segundo ela. "Nós temos um déficit de bolsas no Brasil. Eu gostaria de entender o argumento da Capes", afirma.