A ficha caiu nas comunidades de São Paulo e Rio, e as ruas estão vazias. Mas engana-se quem pensa que o silêncio é fruto da paz. Espíritos estão inquietos, seja na Maré, em Heliópolis ou no Alemão.
O medo é da doença - confinados em cômodos pequenos, os moradores de vilas e favelas aguardam o que já corre na boca miúda em corredores de hospitais e governos Brasil afora: quando o coronavírus bater na camada mais pobre da população, "vai ser um massacre".
As saídas, como de costume no Brasil pobre, são criativas. A laje virou terraça, e dali se observa o pouco movimento no Jardim Canhema, em Diadema. Bares vendem cachaça pela grade em Embu das Artes, também no entorno de São Paulo.
Até mesmo o delivery no Canhema ganhou versão renovada: cerveja em cima do muro, dinheiro no chão, para evitar contato entre os moradores.
O problema é o preço, inflado pela alta procura. O capitalismo não está de quarentena em Embu das Artes (SP).
À procura de álcool 70 para limpar o umbigo do filho que vai nascer, o empreendedor social e psicólogo Emerson Martins Ferreira, 31, acompanha o ágio.
"Alguns dias atrás, eu vi que o frasco de 100 ml custava R$ 4,90. Ele pagou R$ 6,80 e me vendeu por R$ 10. Todo mundo tá tentando lucrar em cima do desespero alheio. Faz parte."