Uma rodovia de 18 quilômetros às margens do Rio Guandu, que liga o Rio de Janeiro aos municípios da Baixada Fluminense, é monitorada com atenção pela maior milícia do país.
Olheiros da "Firma", antiga "Liga da Justiça", cumprem plantão e se comunicam pelo WhatsApp, onde repassam informações sobre a movimentação de veículos suspeitos, viaturas policiais ou qualquer tipo de confusão nas imediações da BR-465, a antiga estrada Rio-São Paulo. Milicianos também fazem rondas pelo trecho com carros adaptados, com fuzis projetados para fora.
Documentos aos quais o UOL teve acesso com exclusividade mostram como a milícia ampliou seu território da capital fluminense para a Baixada em um movimento que começou a ser orquestrado nos últimos três anos.
As trocas de mensagens pelo grupo "Conexão Baixada" mostram como a quadrilha da zona oeste do Rio se articulou para expulsar traficantes e ampliar sua área de atuação com a criação de "franquias" do crime em um território responsável por uma movimentação financeira de pelo menos R$ 10 milhões por mês, segundo estimativa do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro).
Os olheiros faziam plantões para monitorar os bairros Cabuçu, Valverde, Rosa dos Ventos e Palhada, em Nova Iguaçu, em um dos acessos da antiga estrada Rio-São Paulo. Os diálogos pelo WhatsApp com outros milicianos apontados como administradores da quadrilha revelam uma estrutura empresarial.
A denúncia apresentada pelo MP-RJ enfatiza o que chama de "sistema de poder hierarquizado".
As primeiras evidências de que a principal via de acesso ao municípios da Baixada estava na mira da milícia foram registradas pelo MP-RJ em junho de 2018. O grupo paramilitar ainda estudava a movimentação dos traficantes do CV (Comando Vermelho), que até então dominavam o território. O monitoramento se intensificou desde então.