Foram 827 dias nas celas, cada um deles encerrado com um agradecimento e o seguinte mantra: "um dia a mais na prisão, um dia a menos para a liberdade". Dessa forma, Eduardo Chianca Rocha, terapeuta holístico que hoje vive em Pernambuco, passou por um "retiro espiritual obrigatório", como ele mesmo define, em sete prisões diferentes na Rússia.
Chianca foi detido em 31 de agosto de 2016 no aeroporto de Domodedovo, nos arredores de Moscou, com chá de ayahuasca. Ele, que utiliza a bebida em meditações pessoais, não sabia que a substância lhe renderia uma condenação pesada por tráfico de drogas em um país onde não conseguia se comunicar ou entender a legislação.
O terapeuta desembarcou de volta no Recife em 6 de dezembro, beneficiado por um acordo entre Brasil e Rússia que o permitiu cumprir aqui o último dos três anos de condenação. Segundo decisão da Justiça Federal no Recife, ele cumprirá esses 12 meses em liberdade condicional. Ele tem outras restrições, como retornar para casa até 22h, comparecer mensalmente à Justiça Federal e solicitar autorização para viagens nacionais e internacionais.
O que poderia ser experenciado como traumático em sua trajetória foi visto, segundo ele mesmo, como uma oportunidade de testar sua coragem e fé. Dedicando sua rotina a práticas de meditação e estudos sobre expansão da consciência, ele usou o confinamento obrigatório para isso. "Foi como um monastério no Tibete, só que muito mais intenso", diz ele ao UOL, em seu sítio nos arredores do Recife.