Este episódio com o Olívio foi o ponto baixo de uma trajetória que começou na década de 1960. Quando vivia com meus pais, eu tinha aquela energia que caracteriza alguns jovens. Minha mãe pedia para meu pai me levar nos compromissos do PTB. Ele era da ala janguista do partido, foi vereador, vice-prefeito. Eu acompanhava as discussões, os debates e fui tomando gosto.
Como aquele guri que vai com o pai ao futebol e se apaixona pelo esporte. Entrei no movimento estudantil com 14 anos, fui preso no congresso da UNE em Belo Horizonte em 1966, parei no Dops em Porto Alegre e acabei por me exilar dois anos no Uruguai. Recomecei depois minha carreira advogando nos sindicatos, já em Porto Alegre.
Tudo isto para nesta fase da vida ver um integrante do governo federal fazer um vídeo copiando um líder nazista! Sobre este assunto tenho uma memória pessoal amarga porque minha família por parte de mãe descende de judeus alemães. Meu avô Herman Herz morou na nossa casa e sempre falava dos irmãos.
Um deles, o Carl Herz, era jurista, social-democrata e foi prefeito de um distrito de Berlim na época em que o Hitler tomou o poder. Precisou fugir para Inglaterra. Mas um filho dele não conseguiu escapar. Foi levado para Auschwitz [maior símbolo do holocausto] e morreu lá.
O outro irmão, o Jorge, ficou 60 anos sem conseguir ver meu avô. Então, aquele vídeo toca muito a gente e de uma maneira muito dolorosa. Tão triste, mas muito mais desconcertante, foi ver que num evento na Hebraica o Bolsonaro foi chamado de "Mito" pelo público. Mito é como o Hitler se apresentava na sociedade alemã.
Mas estes fatos só me dão mais impulsos para seguir na luta. Espero chegar aos 90 anos e ver que o PT, a esquerda e o Brasil estarão diferentes e melhores. Quem sabe até me animo, daí, a de participar da festa de aniversário do partido.