Altas expectativas

A dias da divulgação dos resultados da prova, prevista para 11/2, jovens relatam espera por notas do Enem

Ana Carla Bermúdez Colaboração para o UOL Keiny Andrade/UOL

Ana Paula quer sair da escola pública diretamente para uma bolsa integral em uma faculdade privada. Dante deseja cursar medicina. A cubana Márcia de las Mercedes mira a Unicamp.

Mais de dois meses depois da realização do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), com os resultados da prova previstos para serem divulgados no dia 11 de fevereiro, a expectativa para os estudantes é grande e justificável. Com a nota obtida no exame, é possível conquistar uma vaga no ensino superior, em universidades públicas ou privadas, por meio de programas como o Sisu (Sistema de Seleção Unificada) e o Prouni (Programa Universidade para Todos).

A nota do Enem traz ainda dois fatores capazes de dar frio na barriga de muitos participantes. O primeiro deles tem a ver com a redação: aplicada no primeiro dia do exame, essa parte vale de zero a mil e pode ser decisiva na busca pela vaga desejada.

O outro tem a ver com o sistema utilizado para a correção do Enem, chamado TRI (Teoria de Resposta ao Item), que diferencia as questões de acordo com o nível de dificuldade.

Esse modelo prioriza a coerência entre as respostas dos participantes —por isso, nem sempre conferir o gabarito oficial e ver o número de acertos no Enem pode dar pistas sobre o desempenho do aluno na prova.

O UOL conversou com três candidatos que fizeram a última edição do Enem para saber como eles se sentem, o que esperam das notas e o que estão fazendo enquanto aguardam a publicação dos resultados. Conheça, a seguir, suas histórias.

Keiny Andrade/UOL Keiny Andrade/UOL

A espera como parte do processo

Dante Henryco de Carlo, 20, quer usar a nota do Enem para tentar uma vaga em medicina. As expectativas estão altas: o jovem errou apenas uma das 90 questões aplicadas no segundo dia do exame, que cobra conhecimentos das áreas de matemática e ciências da natureza.

"Quando vi [que acertei] 89 questões pelo gabarito oficial, foi surpreendente. Não estava esperando um desempenho tão bom assim. Fiquei muito feliz", diz ele, que soma ainda outros 75 acertos no primeiro dia do exame, quando são aplicadas as questões de linguagens, ciências humanas e a prova de redação.

Esta é a terceira vez que Dante participa do Enem. Ex-aluno de uma escola particular de São Paulo, ele estudou nos últimos anos no cursinho Poliedro, também na capital paulista. Apesar de dizer não ser "nada bom" ter de esperar quase três meses pelos resultados do exame, o jovem considera que é uma etapa que faz parte do processo.

O Enem, por já ter acontecido, representa um nervosismo a menos. É só ficar esperando o resultado, porque sua parte você já fez. Acho que, para mim, [fica] a esperança desse resultado bom."

Dante Henryco de Carlo, que busca entrar em medicina

Keiny Andrade/UOL Keiny Andrade/UOL

Em meio à maratona de vestibulares, ele diz que, muitas vezes, não dá tempo de parar para pensar apenas na divulgação dos resultados do Enem.

"Agora está um pouco mais tranquilo, porque as provas de segunda fase já passaram, então às vezes acabo pensando que está demorando", afirma.

Dante, que conta ter tomado um cuidado especial com a saúde mental neste último ano, diz acreditar que esse foi o diferencial para que ele encarasse a rotina de vestibulando com menos nervosismo e tensão do que nos anos anteriores.

Além de fazer terapia —o que, segundo ele, ajudou no "desapego de ter que estudar 12 horas por dia"—, o jovem procurou ter hábitos como fazer exercícios, comer bem e tocar violão.

"Você chega com a cabeça mais tranquila e a prova sai [de forma] mais natural. Então, este ano foi bem mais tranquilo", afirma.

Keiny Andrade/UOL Keiny Andrade/UOL

A nota como um caminho

A chegada da pandemia do coronavírus ao Brasil, em março de 2020, forçou uma pausa na rotina de estudos de Ana Paula Silva de Melo, 19. Ex-aluna de escola pública, ela concluiu o ensino médio em 2019, ano em que prestou o Enem pela primeira vez. Só conseguiu se preparar novamente para o exame em 2021.

"Veio a pandemia e veio também a dificuldade de estudar sozinha em casa", explica. Moradora da zona leste de São Paulo, Ana Paula conseguiu, no ano passado, uma vaga no cursinho popular Tia Gê, que manteve as atividades online, e prestou novamente o exame.

"Como era a minha segunda vez fazendo o Enem, eu já sabia mais ou menos o que esperar", afirma Ana Paula, que diz ter acertado mais da metade das questões do primeiro dia da prova. Já no segundo dia, por opção própria, ela preferiu não levar o caderno de questões para casa —e, por isso, não tem uma estimativa de como foi.

Com o desempenho obtido, Ana Paula quer conseguir uma bolsa integral pelo Prouni (Programa Universidade para Todos) para cursar bacharelado em design na Universidade São Judas Tadeu, em São Paulo.

A espera pelos resultados, para ela, está sendo "até que tranquila" —a ansiedade, diz, vem mais quando pensa no processo de inscrição após a divulgação das notas.

"Acho que a minha questão não é a insegurança pela nota que vai vir, é desse monte de coisas que vêm junto com ela. Vou ter que ir atrás de jogar a nota no sistema, ficar esperando se a nota vai ser boa o suficiente para passar por outros participantes", afirma.

Acredito que vou conseguir uma nota suficiente para o Prouni, até pelo fato de o meu curso não ser dos mais concorridos. Mas, dentro da faculdade que eu quero, não é um curso barato. Sei que preciso de uma nota de média a boa [para conseguir a bolsa], mas me sinto confiante."

Ana Paula Silva de Melo, que vai tentar o Prouni para prestar design

Keiny Andrade/UOL Keiny Andrade/UOL

Enquanto espera o resultado do Enem, Ana Paula já começa a tocar seus planos para 2022, que envolvem trabalhar e estudar.

A primeira meta já foi alcançada com sucesso: a jovem está em processo de admissão em uma empresa e deve começar a trabalhar em breve, em um cargo de jovem aprendiz.

"Escolhi de caso pensado, pela carga horária ser mais baixa, e por ter um horário mais maleável para eu poder estudar e fazer faculdade à noite, que é o plano", afirma.

É justamente essa a intersecção que ela diz ver também no Enem. "Sinto que o Enem é essa porta de entrada para tudo, tanto para o estudo acadêmico como para a carreira", diz.

"[O Enem traz] uma oportunidade para subir de vida e de conhecer outros âmbitos também, porque a faculdade proporciona que você conheça outros tipos de pessoas, de diferentes idades, etnias, de diferentes regiões, e que você cresça no mercado de trabalho pelo newtworking."

Roniel Felipe/UOL Roniel Felipe/UOL

Sonho de uma cubana

As expectativas para o resultado do Enem também estão altas para Márcia de las Mercedes Maure Beatón, 18. Nascida em Cuba, a jovem mora no Brasil há quase cinco anos e quer usar a nota do exame para entrar no curso de medicina.

"Em 2020 eu me inscrevi como treineira, mas não fui muito bem, porque ainda precisava de outras informações", afirma. "Neste ano, estou mais confiante de que vou conseguir um bom resultado e vou entrar em uma boa faculdade."

O sonho de Márcia é estudar medicina na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) —instituição que conheceu, por acaso, antes mesmo de vir para o Brasil, em um livro didático utilizado na escola onde estudava em Cuba.

"Era um problema de matemática em um livro do 8º ano, que falava assim: 'Existe uma faculdade chamada Unicamp, tem tantos alunos'. Eu não sabia nem que era uma faculdade do Brasil", diz. Foi então que, pesquisando, ela desenvolveu o interesse pela instituição.

Tanto em Cuba como no Brasil, Márcia foi aluna de escola pública. No último ano, estudou também no cursinho Oficina do Estudante, em Campinas. Para ela, a rotina intensa de estudos e simulados a preparou melhor para o Enem, além de deixá-la mais tranquila na espera pela nota do exame.

Mas uma outra tática, diz Márcia, também tem ajudado: como estratégia para não alimentar a ansiedade, a jovem optou por não levar para casa o gabarito de nenhum dos vestibulares que prestou no último ano.

Na minha opinião, isso [levar o gabarito para casa] acaba sendo uma pressão que deixa o aluno mais nervoso. Ainda que eu faça uma simulação de notas, aquilo vai me deixar mais ansiosa, ou então menos esperançosa. Por isso, preferi não levar o gabarito e não conferir [os acertos]."

Márcia de las Mercedes Maure Beatón

Roniel Felipe/UOL Roniel Felipe/UOL

Mesmo no escuro quanto ao número de questões que acertou no Enem, ela acredita ter se saído bem na prova e espera uma boa nota.

"Graças a Deus, não tive dificuldades para fazer a prova. Consegui colocar em prática todos os conteúdos que aprendi ao longo do cursinho e também na escola", afirma.

Enquanto aguarda o resultado do Enem, Márcia diz que aproveita para dar "uma revisada nos estudos de vez em quando", além de trabalhar com os pais na loja de roupas da família. No comércio, ela ajuda na parte de marketing digital.

A jovem também não deixa de fazer planos para o futuro. Ainda na escola, ela tocou, junto a dois colegas, um projeto de iniciação científica para o desenvolvimento de uma escova de dentes biodegradável —e não quer deixar a pesquisa para trás.

"Isso me guiou para que eu realmente soubesse que queria estudar medicina e fazer depois uma pós-graduação em biotecnologia", afirma. "Através dessa pós, quero contribuir para a pesquisa, tanto para a universidade como para o Brasil."

Topo