O advogado Joel Luiz Costa, 30, tem uma história inusitada. Ele se formou em direito com a ajuda do pai. Até aí, nada de novo. Mas o pai dele bancava a família atuando no tráfico de drogas da favela do Jacarezinho, uma das maiores comunidades do Rio de Janeiro.
Depois da formatura, o pai de Joel deixou o comércio de drogas e foi viver numa cidade do interior do estado.
"Ali foi a nossa grande troca. Ele esperou muito aquele dia [da formatura], mas acabou não indo à festa. Ele temia ser preso. Logo em seguida, meu pai entregou tudo o que tinha lá e foi morar fora com a família", afirma o advogado.
Joel se define como "um jovem, preto, favelado, que faz direito e confronta o sistema". Hoje o advogado trabalha na favela. Tem um escritório de advocacia e coordena um curso pré-vestibular no Jacarezinho.
Em entrevista ao UOL, Joel conta detalhes da sua trajetória até se formar, diz que o pai sonhava com o filho na Polícia Federal e não esconde que defende traficantes.
"Quando falo que soltar bandido é melhor que prender, eu falo de alçar um espaço de privilégio que possuo hoje e utilizo isso para resguardar as pessoas de onde já estive", diz o advogado, que também milita no movimento negro e costuma dar palestra em faculdades cariocas. Ele atua ainda na Reforma (Rede Jurídica pela Reforma da Política de Drogas) e no Fórum Grita Baixada, movimento social que debate segurança pública e direitos humanos na região.
No mês passado, Joel deu um curso de três dias no Instituto de Relações Internacionais da PUC-RJ. O tema foi a seletividade do aparato penal e a política de drogas.
"Além do grande conhecimento do direito, a experiência de vida do Joel é o grande diferencial. É algo que toca muitos estudantes", disse a professora Renata Summa. Assim como no ano passado, o minicurso de Joel teve o recorde de inscritos no instituto.