"Se virar" para comer também é realidade na casa de Maria da Guia (foto), 56 anos, que trabalha há 30 como camelô. Na casa com a filha, o genro e dois netos, a trabalhadora da feira noturna de Copacabana não consegue sustentar a casa completamente. Apesar de ter conseguido o auxílio emergencial em 2020, ela explica que o valor é baixo, "ajuda, mas não dá para pagar comida, aluguel e as contas".
Em Niterói, quinta cidade mais populosa do estado do Rio de Janeiro, 90% dos ambulantes registraram queda no faturamento diário ao longo de agosto de 2020, primeiro mês de reabertura após os fechamentos provocados pela pandemia.
Os trabalhadores ambulantes idosos, com mais de 65 anos, registraram a maior perda: 61%. Os dados são da pesquisa "Impactos da pandemia da Covid-19 - Retomada do Comércio ambulante em Niterói", fruto de uma parceria entre a Associação dos Ambulantes (Acanit) e pesquisadores da Universidade Federal Fluminense do projeto UFF nas Ruas - Extensão Universitária e Assessoria Popular
Para a pesquisa foram ouvidos 253 comerciantes ambulantes, entre 24 e 29 de agosto, semana que marcou um mês da reabertura do comércio. Estima-se que 944 pessoas sobrevivem diretamente do comércio ambulante na cidade. A movimentação diária de R$ 81 mil caiu para R$ 37 mil depois do início da pandemia.
Vanuzia Drummond também é extensionista do projeto UFF nas Ruas, que além de produzir pesquisas, organiza campanhas de arrecadação de alimentos para a categoria. A pandemia, segundo ela, tornou ainda mais urgente uma discussão que as cidades parecem evitar: a necessidade de se pensar políticas públicas para os ambulantes.
"Temos atuado para mitigar esse sofrimento através de campanhas de doações de alimentos, mas sabemos que não é suficiente. O auxílio só foi destinado a determinada parte da categoria. No primeiro momento nem os licenciados seriam agraciados, mas lutamos para conseguir. Ainda assim, o número de 'perde-ganha' é alto e, por isso, temos uma quantidade imensa de trabalhadores e trabalhadoras que não têm acesso a esses benefícios. É uma categoria que traz receita para as cidades e fica à margem das políticas públicas".