Duelo entre Poderes
"Eu já fiz a minha parte." A frase dita pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) em resposta ao presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM), resume a crise política que se instalou na relação entre o Executivo e o Legislativo desde a última quinta-feira. O impasse sobre como deve ser feita a negociação entre os Poderes na "nova política" defendida por Bolsonaro ameaça travar o andamento do principal projeto do governo: a reforma da Previdência.
O estopim para a crise foi uma publicação nas redes sociais feitas pelo filho do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ). Após sofrer cobranças do ministro da Justiça, Sergio Moro, sobre andamento de seu projeto anticrime, Maia foi alvo da ironia de Carlos. A partir dessa fissura, líderes partidários e bolsonaristas inundaram a imprensa e as redes sociais com acusações e indiretas. Os disparos eram sobre a quem compete a responsabilidade e o poder de articular o projeto de maior visibilidade nestes três meses de governo.
No mercado, dólar registrou a maior alta em dois anos e a Bolsa sofreu um revés.
Em viagem ao Chile, o presidente Jair Bolsonaro colaborou para a escalada da crise ao passar os dias seguintes trocando farpas com o deputado. No mais emblemático dos diálogos mediados pela imprensa, Bolsonaro sinalizou que essa é a "nova política", sem "toma-lá-dá-cá", com a qual "alguns não estão acostumados". "A bola está com ele, não está comigo", afirmou, sinalizando que não entraria na articulação política.
Ouviu de Maia a sugestão de que ele foque mais na Previdência e menos no Twitter. "Eu preciso que o presidente assuma de forma definitiva seu papel institucional, que é liderar a reforma da Previdência, chamar partido por partido e mostrar os motivos dessa necessidade", disse o deputado.
Nos diálogos, paira a questão: de quem é a função de negociar o andamento no Congresso de um projeto proposto pelo Executivo e como se dará a articulação política no governo?