Depoimento de Bruno Zanchetta
Todo dia eu fico na cantina para ajudar a funcionária durante os intervalos das aulas. Naquele dia, cheguei às 9h10. O intervalo era às 9h30. A inspetora Eliana [Regina de Oliveira Xavier] veio tomar um café e bater um papo. Ela brincou comigo, a gente deu risada. Não lembro qual foi a brincadeira. Todo dia ela brincava comigo. Deu o sinal, a Eliana ficou na parte de cima, bem em frente à secretaria, na entrada.
O intervalo é muito cheio nos primeiros dez minutos. Às 9h40, olhei o celular. Foi bem na hora em que escutei o barulho do tiro. No momento, falei para a minha funcionária: 'nossa, os meninos estão soltando bombinha de novo'. Porque vira e mexe os alunos fazem isso nas escolas. Aí vi o atirador. Ele disparou mais dois tiros e começou a descer a escada. Começou toda a movimentação, a gritaria.
Chutei a porta da cantina para sair. Tentei estourar o cadeado de um portão que dá acesso à quadra e não consegui. O atirador estava descendo, tendo acesso ao pátio, e o pátio é aberto, não tem onde se esconder. No desespero, corri para o banheiro masculino com uns 30, 40 alunos. Não tinha como fechar o banheiro. Só tínhamos as portas de madeira dos boxes. Acho que tinha uns cinco, seis alunos em cada box.
Liguei para a polícia enquanto ouvia os tiros e a gritaria. Pensava se ia viver ou não. Se ele entrasse lá, não tinha para onde correr nem como sair. Estava todo mundo encurralado. Foram uns dez minutos, mas na hora parecia mais tempo.
Ficamos lá até aparecer o policial à paisana que ajudou na saída.
Saímos correndo do banheiro e vimos que tinha bastante gente morta, muita gente chorando e gritando, vidros estourados. É essa a cena que não sai da cabeça. Vi o corpo da Eliana no chão, e ela não estava mais com vida.