É começo da noite e jovens se esquivam de postes ao final da rua. Mãos treinadas fecham baseados finos como cabo de carregador de celular. O cigarro é diferente por fora e por dentro da seda. O efeito nada tem a ver com o da maconha comum.
Renato* é uma vitrine do que acontece com quem usa K9 —também conhecida como K2 ou spice—, uma nova droga que se espalha como praga pelas ruas da cidade de São Paulo desde o fim de 2022.
O rapaz de 22 anos vai ficando com a voz empastada até perder a faculdade da fala. Os olhos traduzem o estado catatônico. Como a boca, estão semiabertos e parecem desligados. Dormir de olhos abertos soa esquisito, mas a cena é chocante porque Renato adormece de pé. Como um zumbi.
Ele está desfalecido, mas não imóvel. Os ombros pendem para a frente e o tronco inclina de forma lenta para a esquerda. A impressão é que o cérebro entrou em stand by e deixou o corpo sem controle.
Parece questão de segundos para ele desmoronar na calçada —às vezes acontece.
*Os usuários citados nesta reportagem tiveram suas identidades protegidas por nomes fictícios.