Se a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil, a cada 23 minutos uma família negra pode vir a desenvolver graves problemas psíquicos. O efeito da violência na saúde mental das pessoas negras e periféricas pode não ser percebido, mas também pode ser fatal, como foi com Janaína Soares.
Em 2015, Janaína viu o filho mais velho morrer após ser baleado por um policial em Manguinhos, na zona norte do Rio. Janaína passou três anos sofrendo de depressão e morreu em 2018, segundo os médicos por causa ''indeterminada''. Para os familiares e amigos, foi de tristeza.
A história de Janaína ilustra a consequência extrema da violência institucional na vida das pessoas pretas, mas será que é possível relacionar de forma mais ampla as doenças mentais com as violências que fazem parte do cotidiano das periferias?
O data_labe levantou dados no Sistema de Informação sobre Internações Hospitalares (SIH), do Datasus, para encontrar essa resposta. Foram analisadas todas as internações que ocorreram entre setembro de 2019 e setembro de 2020 por causas externas e agressões e também as internações por causas psiquiátricas. Como previsto, elas são mais frequentes nas áreas pobres da cidade e com Índice Brasileiro de Privação (IBP) mais alto.
O IBP foi criado pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde/Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) para revelar o quão desfavorecidas as pessoas são no nível social e econômico, baseado em três medidas coletadas pelo censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2010: renda, escolaridade e moradia. Quanto mais alto é o índice de privação, mais vulnerável a região é em relação a essas medidas.