Para receber o diploma na Unidade Educacional Nacional Bolivariana Ana María Campos, localizada em um bairro popular de Caracas, na capital venezuelana, é preciso mais que boas notas no boletim. Os alunos do último ano do ensino médio têm que reformar a escola como parte do "trabalho de conclusão de curso" e ainda fazer uma monografia sobre o tema.
O grupo da estudante O.B.P., de 17 anos, remodelou o enferrujado letreiro do colégio.
"Cada equipe ficou com [a reforma de] um banheiro, das escadas, da quadra... Cada um tinha um programa para recuperar a escola ou então não podia se formar", diz ela.
Até a pintura do busto do herói nacional, Simón Bolívar, virou tema de tese.
O material para recuperar a escola veio dos próprios alunos. Alguns pediram aos pais, outros conseguiram doações.
Apesar da obrigatoriedade imposta pela diretoria desta escola, Nicolás Maduro, em abril deste ano, afirmou que 80% da educação venezuelana é pública, gratuita e de qualidade.
"O colapso dos serviços básicos e a deterioração do sistema de educação" integram as queixas apresentadas no relatório apresentado pela ONU Direitos Humanos após a visita à Venezuela, em junho passado, da alta comissária Michelle Bachelet.
A falta de infraestrutura das escolas públicas impacta também o orçamento familiar. A maioria dos alunos ainda depende dos pais.
O.B.P. quer ser policial para ajudar em casa. A mãe dela tem dupla jornada de trabalho para reforçar o orçamento doméstico. Moradoras de um apartamento do Misión Vivienda, o plano habitacional criado pelo ex-presidente Hugo Chávez, elas não pagam aluguel, mas o dinheiro quase não sobra.
Uma vez por mês conseguem comprar, por 6.500 bolívares, a caixa do CLAP (Comitê Local de Abastecimento e Produção), que contém cerca de dez quilos de alimentos subsidiados pelo governo bolivariano.