A comunidade pesqueira de White River gira em torno de uma pequena área de atracação de barcos a cerca de 400 metros de onde o rio deságua no Mar do Caribe. Certa manhã, quando a luz arroxeada do amanhecer se infiltra no céu, Simpson e Bailey entraram numa lancha de 28 pés chamada Interceptor.
Os dois viveram e pescaram a vida inteira nessa comunidade. Recentemente, eles passaram a acreditar que precisavam proteger os recifes de coral que atraem peixes tropicais, enquanto estabeleciam limites para a pesca para garantir que o mar não seja esvaziado rápido demais.
Na área de White River, a solução foi criar uma área protegida para peixes imaturos crescerem e atingirem a idade reprodutiva antes de serem capturados.
Há dois anos, os pescadores se uniram a empresas locais, incluindo proprietários de hotéis, para formar uma associação marinha e negociar os limites de uma zona de pesca proibida que se estende por 3 km ao longo da costa.
Uma simples linha na água dificilmente é um empecilho. Para tornar a fronteira significativa, ela deve ser vigiada. Hoje os pescadores locais, incluindo Simpson e Bailey, se revezam patrulhando a fronteira no Interceptor.
"Estamos procurando violadores", com os olhos fixos na costa rochosa. "Às vezes você encontra pescadores com arpão. Eles pensam que são espertos. Tentamos vencê-los no jogo deles", diz Bailey.
A maioria dos pescadores mais velhos e mais estabelecidos, que possuem barcos e espalham linhas e gaiolas de arame, passaram a aceitar a zona de pesca proibida. Além disso, o risco de ter seus equipamentos confiscados é muito grande.
Mas jovens caçam com arpões leves, nadam para o mar e disparam a curta distância. São os mais prováveis infratores. As patrulhas não são armadas, então precisam dominar a arte da persuasão.
Às vezes esses esforços são arriscados. Dois anos atrás, Jerlene Layne, gerente do Santuário de Peixes de Boscobel, chegou ao hospital com uma perna ferida depois de ser atacada por um homem que ela repreendeu por pescar ilegalmente no santuário. "Ele usou um pau para bater na minha perna porque eu estava fazendo meu trabalho — dizendo que ele não podia pescar na área protegida", disse ela.
De volta à área de atracação de White River, Rick Walker, um pescador submarino de 35 anos, está limpando sua lancha. Ele se lembra da oposição inicial ao santuário de peixes, quando muitas pessoas diziam: "Não, eles estão tentando cortar nosso ganha-pão".
Dois anos depois, Walker, que não está envolvido no trabalho do santuário, mas apoia seus limites, diz que pode ver os benefícios. "Está mais fácil capturar pargos e barracudas", diz ele. "Pelo menos meus bisnetos poderão ver alguns peixes."
O Santuário de Peixes da Baía de Oracabessa foi o primeiro dos esforços liderados pelas comunidades para reviver os recifes de coral da Jamaica. Seu santuário foi legalmente incorporado em 2010, e sua abordagem de recrutar pescadores locais como patrulheiros tornou-se um modelo para outras regiões.
"Os pescadores estão navegando e felizes. É por isso que está funcionando", diz o gerente do santuário, Inilek Wilmot.
David Murray, diretor da Associação de Pescadores de Oracabessa, observa que os 60 mil pescadores da Jamaica operam sem uma rede de segurança. "Pescar é como jogar, é um jogo. Às vezes você pega alguma coisa, às vezes não", diz ele.
Quando as populações de peixes começaram a entrar em colapso, há duas décadas, algo teve que mudar. "É um processo de fazer as pessoas chegarem a um acordo sobre os limites do santuário", diz ele. "É um trabalho duro dizer a um homem que pescou a vida toda que ele não pode pescar aqui."
Mas uma vez que ficou claro que uma zona isenta de pesca realmente ajudou as populações de peixes próximas a se recuperar, ficou mais fácil obter apoio.
O número de peixes no santuário dobrou entre 2011 e 2017, e os peixes individuais aumentaram de tamanho —quase triplicando de comprimento, em média— de acordo com estudos anuais da Agência Nacional de Planejamento e Meio Ambiente da Jamaica. E isso aumenta as capturas nas áreas ao redor.
Após a notícia de Oracabessa, outras regiões passaram a pedir conselhos.