Ele denuncia a destruição da floresta, o capital sem ética, diz que sua instituição está aberta a todos e que os imigrantes precisam ser recebidos. Ataca populistas e nacionalistas, se abraça a líderes indígenas rejeitados por governos e pede que os marginalizados sejam colocados no centro de todas as políticas sociais.
Com um discurso por uma nova Igreja, o papa Francisco deu um novo ar ao Vaticano. O primeiro pontífice do hemisfério Sul transformou a imagem da Santa Sé, se reuniu com indígenas e lavou os pés de prisioneiros.
Mas ele também se transformou no próximo alvo da extrema-direita que, ao longo dos últimos meses, tem unido forças para debilitar o argentino.
Vaticanistas e funcionários da Santa Sé ouvidos pelo UOL não acreditam que o objetivo seja de derrubá-lo —poucos acreditam que dois papas consecutivos renunciariam. Mas a meta é a de criar as condições suficientes para que, no próximo conclave, a escolha dos cardeais seja determinada por um clima de apelo a um nome escolhido entre os conservadores.
No Vaticano, não são poucos os que confirmam que a campanha para a sucessão no trono de São Pedro já começou e tem sido liderada de uma forma explícita por grupos ultraconservadores. Para isso, eles têm se organizado em torno de políticos e também proliferando encontros e seminários.
O que chama a atenção desta vez, porém, é a inusitada aliança entre as alas descontentes do Vaticano, irritadas com o caráter progressista do papa, e políticos pelo mundo que começam a vê-lo como um obstáculo a uma agenda populista, anti-imigração e nacionalista.
A aliança, de fato, passou a ser uma realidade quando Steve Bannon, o homem que projetou Donald Trump e passou a ser consultado inclusive por aliados de Jair Bolsonaro, decidiu desembarcar em Roma.
Bannon tem declarado que seu problema não é a visão espiritual do argentino nem sua doutrina, mas sim seu posicionamento sobre geopolítica, temas sociais, de imigração, de valores e mesmo ambientais.
A ideia é de que um papa conservador, em seu lugar, legitimaria posições políticas que, hoje, são atacadas pelo Vaticano. Resultado esperado: um número maior de eleitores dispostos a dar o passo à direita populista.