Quem falou para os passageiros que íamos fazer um pouso forçado foi o comandante. Eu, para ser bem sincero, estava encomendando minha alma. Eu não rezei ave-maria ou Pai Nosso. Nada disso. Virei para Jesus e falei: "Que merda, hein, meu amigo! Mas tudo bem. Muito obrigado por você ter permitido realizar meu sonho de infância de ser piloto".
Da poltrona de copiloto, pedi três coisas a Ele. Não me faça sentir dor porque você sabe que não gosto. Perdão por qualquer coisa de errado que eu tenha feito na Terra. E, a terceira, coloca alguém para me receber aí deste lado.
E fiquei pensando na morte.
Imagina saber que daqui a 15 minutos esta existência que você conhece vai acabar. Você está sadio, é jovem e está consciente. É uma sensação horrorosa. É angustiante.
E a morte era o desfecho provável daquela situação. Eu estava na cabine, o primeiro da fila em um Boeing da Varig que ia cair sobre árvores imensas da Floresta Amazônica. A data da minha morte seria 3 de setembro de 1989, somente 12 dias antes do começo das primeiras férias da minha vida.
Outro lado da vida porra nenhuma
Estava envolto nesses pensamentos sombrios e tristes quando o comandante bateu no meu ombro e disse a seguinte frase: "Desculpa velho, o erro foi meu. A gente se encontra no outro lado da vida".
Rapaz, nessa hora eu saí do meu transe. Pensei: "O comandante já está morto"! Ele me mostrou que não acreditava em outro final. A evidência era enorme. Mas neste momento uma força me dominou e fez lutar. Outro lado da vida porra nenhuma.
Eu lutei por mim e por todos que estavam naquele avião. Respondi ao comandante que iríamos nos dar bem.