Qual o novo normal nas praias do Rio?

Herculano Barreto Filho e Ricardo Borges

Do UOL e colaboração para o UOL, no Rio

A julgar pela fotografia nada parece ter mudado nas praias cariocas com a pandemia do novo coronavírus. De fato, o cenário na orla do Rio não exibe mudanças, mas elas se manifestam no corportamento —mais ou menos prudente— nas areias. Já no Piscinão de Ramos, o que se vê é abandono.

Do Leme à Barra da Tijuca, passando por Copacabana e Ipanema, e no Piscinão, banhistas revelaram ao UOL como voltam às praias após a flexibilização da quarentena. Meu remédio, válvula de escape, sensação de aprisionamento —a praia e a distância do mar ganharam novas metáforas de banhistas que adotam hábitos diferentes após a covid-19 matar mais de 16 mil pessoas no estado.

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Maricy Perón e Sá, 40

Advogada

Me encontro com os 'cachorreiros' perto do Arpoador porque é mais tranquilo. Prefiro vir pra cá durante a semana porque não quero ficar no meio de aglomeração. A gente não tem tanta liberdade como gostaria de ter. Mas é o nosso novo normal. A gente precisa se adaptar, né?

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Romulo Pereira Azevedo, 28

Advogado (ao centro)

Tinha cinco meses que eu não frequentava a praia. Moro no Rio. Eles vieram de São Paulo para curtir um pouco. Parece que estou me sentindo vivo novamente. Está sendo maravilhoso.

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Richard Alves, 26

Administrador e ex-jogador de futebol

Fui demitido quando começou a pandemia. Tive crises de ansiedade. A altinha é como se fosse o meu remédio. Moro em Jacarepaguá e peguei um ônibus para chegar aqui na Barra e ficar jogando. Fico umas seis horas na praia. No começo da pandemia, vi uns guardas vindo aqui para reprimir. Mas viram que tem muita gente e desistiram.

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Bruna dos Anjos, 21

Professora de capoeira

Faz poucas semanas que voltei a frequentar a praia. Costumo ficar sozinha, para pegar um sol e ler um livro. Hoje a praia não está lotada, né? Isso é positivo, porque não gera tanta aglomeração.

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Carlos Alberto Porto Reis, 58

Garçom (à esquerda)

A gente costumava montar a nossa 'sala' na areia, com barraca e cadeira de praia. A gente trazia petiscos e ficava por aqui, jogando conversa fora. Não fazemos mais isso.

Paulo Silva, 70

Médico (em pé)

Antes, a gente vinha quase todo dia pra cá. Agora, só no final de semana. Estamos com uma idade mais avançada. Tem horas que a gente precisa sair de casa pra não se deixar abater. Quando sair uma vacina, talvez as coisas comecem a voltar ao normal.

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Jefferson da Silva Oliveira, 33

Gari

Comecei a malhar aqui [Arpoador] há mais de 15 anos. A academia ficou interditada por uns meses. Voltou tem um mês. Moro no Cantagalo e venho todo dia para cá. Fico das 7h até o meio-dia. Depois, dou uma corridinha na areia e dou um mergulho, pra refrescar.

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Thayssa Isidoro, 31

Advogada

Eu saio de casa de manhã para dar uma corrida até o Arpoador e volto. Levo uns 30 minutos para fazer um trajeto de 5 km. Às vezes, dou um mergulho. Mas não fico mais na praia pegando sol e só corro de máscara

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Márcio Silva do Nascimento, 35

Vendedor ambulante

Vou falar, mas tem que ser rápido. Tenho que correr para vender mate e biscoito. Antes, eu chegava a fazer R$ 120 das 9h às 16h. Agora, quando a praia tá boa, consigo uns R$ 40. Fico mais aqui no Arpoador, vendendo para a rapaziada do surf. Fiz a minha clientela por aqui. Tá liberado para o ambulante, mas proibiram as pessoas de sentar na areia. Daqui a pouco, a Guarda Municipal aparece e manda todo mundo sair da praia. Depois do expediente, dou um mergulho. Para tirar o olho grande e dar uma relaxada.

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Washington Vivano, 31

Instrutor de surf

Eu trabalhava em uma gráfica em Copacabana, mas fiquei desempregado quando começou a pandemia. Agora, um amigo de infância me chamou para alugar pranchas e trabalhar como instrutor de surf aqui no Arpoador. Estou pegando o jeito. Antes, gostava de sair de casa, no Cantagalo, para dar um mergulho. Agora, não posso nem sentar na areia, porque está proibido. A praia virou o meu ganha pão. Se tiver um solzão, eu vou estar aqui.

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Cristiane Carius, 30

Enfermeira

Quando sentei na areia, procurei manter a distância das outras pessoas. Não dá para ficar muito aglomerado. Antes da pandemia, eu vinha para a praia todo o fim de semana. Agora venho com menos frequência e procuro me cuidar.

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Maria Luiza Serrano, 24

Advogada

Tenho medo de me aproximar das pessoas e contrair o vírus. Mas a gente só vem para cá para fazer atividade física e dar um mergulho. É muito difícil ficar longe da praia.

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Ana Luisa Rodrigues, 27

Publicitária

É a segunda vez que venho para a praia desde que começou a quarentena. Aqui vejo pouca gente usando máscara. É difícil usar máscara e pegar sol. É estranho ficar sem vir à praia. Dá uma tristeza. A sensação era de aprisionamento. Agora estou vindo para pegar um sol, mas fico pouco tempo, para evitar aglomeração

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Marta Lima, 24

Auxiliar de loja (sentada)

Carioca é família, é povão. Gosta de ficar juntinho. Mas agora não pode. A gente fica com aquela tensão quando alguém se aproxima. Não fazemos mais amizades na praia como antes. Confesso que não sei bem quais são as restrições. Sei que tenho que usar máscara, mas não sabia que não podia sentar na praia e consumir bebidas alcoólicas

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PISCINÃO

No Piscinão de Ramos, o que se vê durante a pandemia é um cenário de abandono. A água que costumava refrescar moradores do subúrbio do Rio que lotam a praia artificial nos finais de semana dá lugar hoje a uma pequena extensão de lodo. Como de costume, o Piscinão foi esvaziado para manutenção. Devido à pandemia, esse serviço só começou a ser feito agora, com previsão de conclusão para a 2ª quinzena de outubro.

Apesar disso, a área de lazer do bairro da Maré, na zona norte carioca, é procurada para caminhadas, empinar pipas e banhos de sol. Em um domingo quente de agosto, e de baixo movimento, apenas um quiosque servia clientes em cadeiras de praia, que procuravam guardar distanciamento social.

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Tatiane Barbosa de Oliveira

Autônoma

Me chamam de Tati Bronze. Vim para cá para fazer biquíni de fitas para as minhas clientes no Piscinão de Ramos. O movimento tá mais fraco. Antes da pandemia, bombava. Eu chegava a atender cem pessoas por fim de semana. Hoje, atendo 20 clientes, no máximo.

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Rayane Fernandes, 22

Dona de casa

Moro em Guaratiba e vim para Ramos para visitar a família do meu marido. Esperava ver o Piscinão cheio, com churrasco, pagode, crianças e festa, como sempre. Mas tá vazio. O sentimento é de tristeza. Mesmo assim, trouxe as crianças para brincar na areia com os primos

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Maria Angela da Rocha, 58

Cuidadora de idosos (à esquerda)

Nos conhecemos aqui mesmo no Piscinão. Combinamos por 'zap' e decidimos vir pra cá, para pegar um sol. Pode ver que a gente tá cumprindo o distanciamento. Tem álcool e máscara aqui na bolsa. Se tiver que ir para a praia de Copacabana, preciso pegar dois ônibus, ficar uma hora no trânsito e ainda ficar no meio da aglomeração. Aqui, chego em cinco minutos

Fabio Amaro, 41

Dono de barraca

O público até vem, mas vê que tá vazio e volta para casa. Mesmo assim, mantenho o meu comércio aberto. Como vou fechar? É melhor pingar do que secar, né? Aqui é o paraíso para o povão da zona norte e da baixada, que não tem condições de ir para as praias da zona sul. O Piscinão foi esvaziado e desativado para manutenção no meio da pandemia, mas ainda não voltou. A sensação é de abandono.

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Publicado em 6 de setembro de 2020.

Edição: Silvia Ribeiro;

Edição de Imagem: Lucas Lima;

Reportagem: Herculano Barreto Filho;

Fotos: Ricardo Borges