4 de dezembro de 1989. O muro de Berlim já havia caído e uma transformação inédita no mundo parecia estar ocorrendo. Mas na cidade de Erfurt, um prédio soltava uma estranha fumaça negra que vinha de um de seus pátios. Era uma das sedes regionais da Stasi, a polícia secreta do Estado.
Rapidamente, correu a informação de que a temida máquina de repressão comunista estava queimando milhares de documentos, com provas dos crimes cometidos durante décadas por uma das maiores agências de espionagem do mundo.
Ali estavam dados sobre operações de assassinatos, a identidade de agentes secretos e manipulação de informações.
Na noite anterior, moradores da cidade já tinha se dado conta de que algo diferente ocorria no prédio. Já era madrugada quando alguns vizinhos se reuniram e decidiram que precisariam agir. Naquela mesma noite, imprimiram milhares de alertas em uma máquina rudimentar e, ainda na escuridão gelada, colocaram 4 mil panfletos nas caixas de correios da cidade.
Décadas antes da ideia das redes sociais ou grupos de Whatsapp, a estratégia funcionou e, no dia seguinte, uma pequena multidão estava na porta do escritório do Ministério de Segurança do Estado - o nome oficial da Stasi.
Ficaria conhecido ainda o ato de um caminhoneiro que, diante da suspeita de que os arquivos estavam sendo retirados do local, buscou seu veículo e o estacionou no portal do prédio, impedindo a saída dos funcionários do local.
Imediatamente, centenas de pessoas entraram no edifício. Ao abrir as portas dos diferentes escritórios, levaram um susto: todos os funcionários estavam picotando milhares de páginas de documentos.
Ao longo das semanas seguintes, todas as sedes da Stasi pela Alemanha Oriental foram sendo ocupadas. Até que, em meados de janeiro, o prédio central do serviço em Berlim foi alvo dos manifestantes. Sua ocupação entrou para a história como uma espécie de segunda queda do muro.
Assim, a partir da ação de cidadãos fartos de mentiras e da repressão, o último ato da Stasi conseguiu ser impedido: a destruição de milhares de páginas de um dos maiores arquivos secretos do século 20 e que revelaria uma máquina de repressão, espionagem e desinformação sem precedentes.