Rita Cadillac caminha entre ervas, flores e folhagens enquanto conversa com o UOL numa manhã de quarta-feira. A cada latido do poodle toy Pietro, de dois aninhos, ela pede que o filhote se acalme, o aperta contra o peito e sorri: "Esse cachorro é minha companhia nessa quarentena".
Rita perde o fôlego ao nomear cada uma das espécies de plantas que cultiva na varanda do apartamento em que mora, no centro de São Paulo. "Santacecilier", a artista vive no bairro há dez anos, tem samambaia pendurada na parede e piso de taco de madeira, que, ela garante: quase estragou de tanto cloro que jogou na casa por medo de pegar covid-19.
A "histeria passou" e agora Rita sente medo da possibilidade de o Brasil voltar a ser uma ditadura militar. "Eu vivi a ditadura. O Chacrinha foi levado para o DOI-CODI várias vezes depois do programa. Tinha um censor que ficava ali todo dia. Eu não abria a minha boca, tinha medo de falar qualquer coisa. Só de lembrar disso, fico apavorada".
Com sua autobiografia pronta, cuja data de lançamento precisou ser adiada por causa da pandemia do novo coronavírus, Rita passa fins de semana fazendo entregas para restaurantes do bairro. De grana, garante, não ganha nada, nem dos estabelecimentos, nem dos próprios projetos —atualmente, parados.
Ela conta que até recorreu aos R$ 600 do governo e que "foi ótimo, paguei minha internet, minha luz e parte do aluguel. Agora, quem não tem grana guardada faz o que com R$ 600?".
Nesta entrevista, Rita diz que será Cadillac "até morrer", mesmo quando estiver velhinha vendendo marmitas em vez de colocar a bunda para fora. Confessa que detesta política, mas bate panela porque "esse governo não dá". Ameaça, rindo, que "se você me chamar de senhora nessa reportagem, eu te processo", e lamenta a morte de amigos por covid-19: "Vá pra porra, grupo de risco".