Socorro por WhatsApp

Com fome, famílias pedem ajuda em mensagens pelo celular a ONG que faz doação em Alagoas

Carlos Madeiro (texto) e Gabriel Moreira (fotos) Colaboração para o UOL, em Maceió Gabriel Moreira/UOL

Era noite de um sábado quando Zenilda Silvino da Silva, 44, viu que não tinha nada em casa e decidiu enviar uma mensagem pedindo socorro a uma ONG de Maceió. "A gente realmente não tinha o que comer, faltava mesmo", conta.

Zenilda veio com o marido no início do ano passado de São Paulo para Maceió, mas com a pandemia as coisas ficaram difíceis.

"A gente está tendo dificuldade pela falta de serviço, e aí acaba sem nada em casa para comer. Somos diabéticos, e você sabe que diabético não pode ficar muito tempo sem comida. Então acaba faltando as coisas dentro de casa, e a gente não tem muita ajuda das pessoas. Só quem veio ajudar a gente mesmo foram eles", dizem.

A entidade que ela procurou se chama Instituto Amigos da Sopa. O coordenador da ONG, Tibério Jorge, conta ao UOL que pedidos assim se tornaram constantes.

"Nós ajudamos pessoas cadastradas, são 520 famílias. Mas quase todo dia recebemos pedidos de pessoas que não são cadastradas, sempre pedindo socorro porque não têm comida", diz.

Tentamos sempre ajudar porque a fome tem pressa, não pode esperar."
Tibério Jorge, coordenador do Instituto Amigos da Sopa

A instituição faz doação de sopa todas as terças e quintas na sede da entidade. Aos sábados, as entregas são feitas em pontos nas ruas. Além disso, dá cursos e aulas a crianças.

"O número de pessoas que vem nos procurando aumentou absurdamente. Está faltando serviço, percebemos isso todos os dias aqui", conta.

A reportagem acompanhou a entrega de sopa a 150 famílias. Com vasilhas de até 3 litros, elas pegam a sopa que serve para mais de um dia.

Naquele dia, Antônio Ferreira da Silva, 73, chegou para pedir ajuda. Ele já era beneficiado com a sopa, mas precisou pedir mais um pouco.

"Eu pedi porque passei cinco meses doente, tive gastos. Tenho de pagar água, luz, gás, remédios, e está tudo muito caro. Uma cesta básica que for já me ajuda porque, em vez de gastar no mercado, sobra para pagar contas que tenho", conta ele, que mora com a esposa, um filho e uma enteada.

Já Luciana dos Santos, 23, é cadastrada há alguns meses na ONG e conta que, se não fosse a sopa e a cesta básica mensal que recebe do instituto, não conseguiria se alimentar bem com seu marido e três filhos.

"Eu não tenho emprego, recebo R$ 171 de Bolsa Família, e meu marido está ganhando R$ 150 de auxílio emergencial. É pouco. Com os preços de hoje, não dá nem para comprar comida para o mês todo. Por isso precisamos de ajuda", diz ela, que hoje é voluntária da ONG. "A gente ajuda porque é uma forma de retribuir."

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