Tapas, socos e cuspe no rosto, humilhações públicas e em meios digitais. A lista de constrangimentos relatados pelos calouros no trote da faculdade de medicina da Unisa (Universidade Santo Amaro), em São Paulo, é extensa. Inclui faxinar a casa de veteranos, ajoelhar-se para ouvir xingamentos aos gritos, aceitar apelidos --inclusive de cunho racista--, seguir regras de vestimenta e de circulação, além de enviar ou receber fotos de genitais masculinos por redes sociais ou aplicativos de mensagens. É cobrado também que se demonstre conhecimento sobre o histórico de uma cultura de abusos que se arrasta há anos, de acordo com alunos e ex-alunos, que serão apresentados com nomes fictícios.
O UOL investigou por dois meses relatos que envolviam estas práticas na universidade.
A lei 10.454 do estado de São Paulo proíbe trotes "sob coação, agressão física, moral" ou outros constrangimentos que representem risco à saúde ou à integridade física dos alunos desde 1999. Quem pratica corre o risco de expulsão e de sofrer sanções penais e civis. As universidades devem adotar medidas para impedir o trote e punir os infratores. Caso contrário, responderá por omissão ou condescendência.
A reportagem ouviu estudantes e egressos do curso de medicina na condição de anonimato e teve acesso a documentos e conversas de grupos no WhatsApp, além de um perfil no Instagram com denúncias sobre os trotes, que saiu do ar. "Contas que violam as Diretrizes da Comunidade do Instagram podem ser removidas", afirma a Meta, empresa dona da rede.
Procurada ao menos 13 vezes pela reportagem, que chegou a ir a 2 dos 4 campi, a Unisa não se pronunciou. A atlética negou relação com os abusos e, assim como o centro acadêmico, afirma ser contra o trote.
No últmo final de semana, ganharam repercussão e provocaram revolta vídeos nos quais alunos homens de medicina da mesma universidade e do Centro Universitário São Camilo abaixam as calças durante um torneio amistoso de vôlei feminino.