Pombas amontoadas disputam o último farelo de pão que ainda descansa pelo chão das escadarias da Praça da Liberdade, no centro de São Paulo. Já faz horas desde o último tropeço de comida que alguém, sem querer, deixou cair por ali. Bairro-residência de japoneses em São Paulo, a Liberdade está muda em meio à pandemia de Coronavírus que assombra o mundo. E pouco colorida. Com algum esforço, escuta-se até passarinhos matracando...beeeeem lá de longe.
O silêncio, desconfortável aos ouvidos de quem está acostumado à algazarra da maior metrópole do Brasil, é interrompido, de bate-pronto, por um grito.
Até quando vai durar isso, meu Deus? Eu não aguento mais.
A voz, perdida no ar, cujo dono não deu as caras, se misturava às cores sóbrias que na sexta-feira (27) caracterizavam a Liberdade. Ou a falta dela.
O ponto de táxi da praça, geralmente cercado por mesas na calçada e bebeuntes bebericando suas cervejas durante o pôr do sol, estava na miséria. Dos 20 taxistas que ali trabalham —e que, em sextas comuns, não ficam um minuto sequer parados—, apenas três aguardavam alguma migalha de movimento.
Com idades entre 45 e 80 anos, os motoristas contam à reportagem que, às cinco daquela tarde, R$ 20 foi o máximo faturado por eles naquele dia.