Uma outra escola

Após 6 meses fechados, colégios públicos e particulares da cidade de São Paulo se preparam para receber alunos

Ana Carla Bermúdez Do UOL, em São Paulo Ana Carla Bermúdez/UOL

Após mais de seis meses de portas fechadas, escolas públicas e particulares da cidade de São Paulo poderão receber os alunos de volta a partir de amanhã. Mas o colégio para o qual estudantes e professores podem retornar será muito diferente daquele que foi deixado para trás, em março, por causa da pandemia do novo coronavírus.

Abraços, beijos e contatos próximos deverão ser substituídos por medidas de distanciamento, o uso de máscaras e cuidados constantes de higienização das mãos. Aglomerações e atividades em grupo que envolvam qualquer tipo de contato estão proibidas.

Para cumprir todas essas regras, espaços físicos tiveram de ser adaptados. O UOL visitou duas escolas públicas e duas particulares para saber como essas unidades se prepararam para a volta. As condições são diferentes e cada prédio tem suas particularidades. Mas, em todos, há sinalizações indicando o uso obrigatório de máscaras, álcool em gel disponível e distanciamento entre as carteiras nas salas de aula.

Na capital paulista, foram autorizadas apenas atividades extracurriculares —isto é, que não façam parte do currículo obrigatório. É o caso, por exemplo, de aulas de línguas, música, teatro e também de atividades de reforço e acolhimento, como rodas de conversa com os alunos.

Neste primeiro momento, a volta será opcional tanto para os alunos como para as escolas.

A expectativa, até agora, é de baixa adesão, principalmente na rede pública. A Secretaria Municipal de Educação informou ontem que apenas uma das cerca de 4 mil escolas municipais voltará a receber os alunos no dia 7 de outubro.

Na rede estadual, apenas 100 das 1.100 escolas localizadas na capital paulista sinalizaram que abrirão as portas. Ainda não foi divulgado um levantamento dos colégios particulares que reabrirão as portas.

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A chegada

Limpar a sola dos sapatos em tapetes com solução sanitizante, medir a temperatura e higienizar as mãos com álcool em gel. Estas são algumas das medidas adotadas pelas escolas logo na chegada dos alunos, que só poderão entrar se estiverem usando máscara.

No colégio Conte, que fica na Vila da Saúde, zona sul, além dessas medidas, foram instaladas quatro novas pias logo na entrada para que os alunos façam a lavagem das mãos.

Já no colégio Dante Alighieri, na zona oeste, câmeras de reconhecimento facial que também fazem a aferição de temperatura foram acopladas às catracas. Caso o aluno esteja com temperatura elevada, a entrada não será autorizada e ele será encaminhado para uma "tenda covid", onde ficará acompanhado de pelo menos uma médica e um funcionário da escola até que o pai ou responsável apareça para buscá-lo.

O reconhecimento facial é feito pelas câmeras mesmo se a pessoa estiver usando máscara. A escola, que possui mais de uma portaria, dividiu os alunos em grupos para que cada um deles entre e saia por uma portaria diferente, reduzindo a circulação pelas dependências da escola.

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Na escola estadual Major José Marcelino da Fonseca, no Parque Mandaqui, zona norte, as duas portas de vidro que separam o prédio do ambiente externo permanecerão abertas para garantir uma melhor ventilação do ambiente.

Assim que entrarem no edifício, os alunos limparão os sapatos e terão a temperatura aferida. Além disso, poderão ler um recado deixado pela direção em um mural: "Nossa escola é mais alegre quando você está aqui".

A Emef (escola municipal de ensino fundamental) Dom Veremundo Toth, localizada no Jardim Parque Morumbi, na zona sul, é uma das unidades municipais que não irão reabrir amanhã.

A decisão foi tomada pelo conselho que reúne representantes da gestão da escola, dos alunos e professores. Segundo o UOL apurou, os professores indicaram que não têm intenção de retornar e os pais disseram que têm receio de enviar os filhos à escola.

Ainda assim, o prédio já passou por adaptações. Quando voltarem, os estudantes deverão higienizar os sapatos em tapetes sanitizantes e seguir direto para a sala de aula —sem parar no refeitório, que fica logo depois do portão de entrada.

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Sinalizações e circulação

Neste novo ambiente escolar, os alunos irão se deparar com várias placas e avisos com orientações sobre como se comportar e manter o distanciamento.

Na escola estadual Major José Marcelino da Fonseca, foram colados adesivos no chão de todos os corredores para indicar o distanciamento de 1,5 metro. A diretora Mônica Maria Maschietto diz que a sinalização também será usada para ensinar aos alunos as noções de direita e esquerda.

Os adesivos também foram colados no chão das salas de aula para garantir que as carteiras não saiam dos lugares. Todo o trabalho de medição e adesivagem foi feito pela diretora e pela coordenadora Simone Heloísa de Souza Almeida.

O Dante também recorreu à adesivagem do chão. Foram feitas trilhas para dirigir até a sala de aula. Para o ensino infantil, os adesivos têm temas relacionados a animais, ao alfabeto ou a números.

Na Emef Dom Veremundo Toth, as sinalizações se concentram principalmente na entrada da sala de aula, onde há um totem com álcool em gel. As placas alertam para o uso de álcool em gel e máscaras.

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Capacidade reduzida

Por determinação da Prefeitura, as escolas só poderão receber 20% da capacidade total de alunos em cada período. Junto à necessidade do distanciamento, essa redução se traduz em uma menor número de carteiras disponíveis dentro das salas de aula.

Nenhum dos colégios visitados pela reportagem optou por incorporar proteções de acrílico às carteiras nas salas de aula. Na Emef Dom Veremundo Toth, essas proteções foram colocadas na biblioteca e no refeitório. Nas salas de aula, o máximo permitido será de 12 ou 13 alunos.

No colégio Conte, há apenas seis cadeiras para os alunos do berçário. O espaço é fechado, mas a escola instalou um filtro de ar, semelhante ao usado nos aviões, para renovar o ar ambiente. Para outras etapas de ensino, as salas deverão ter de quatro a seis alunos.

No Dante, os espaços da educação infantil e do ensino fundamental foram adaptadas. Para o ensino médio, o espaço que antes era um ginásio agora irá receber os estudantes em aulões de reforço.

A escola estadual Major José Marcelino da Fonseca receberá até 58 alunos no período da manhã e outros 60, no máximo, no período da tarde. Serão de seis a nove alunos em cada sala de aula.

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Atividades e acolhimento

Cada colégio oferecerá atividades extracurriculares diferentes para os alunos nesse primeiro momento de retomada. Em todos eles, no entanto, haverá atividades de acolhimento dos estudantes, como rodas de conversa com os alunos, por exemplo.

No Dante, os alunos da educação infantil e do fundamental 1 terão atividades envolvendo a rotina de biossegurança, oficinas de arte, hora da história e reforço para alfabetização e matemática. Já os estudantes do 3º ano do ensino médio terão atividades de reforço para o vestibular.

O acolhimento será o foco principal da primeira semana de retorno na Major José Marcelino da Fonseca. "Vamos falar sobre a rotina, o dia a dia, como foi e como tem sido em meio à pandemia. E dar abertura para se a criança quiser falar como foi o período da pandemia, afastada das atividades presenciais na escola", diz a professora coordenadora Simone.

O Conte, por sua vez, terá atividades envolvendo histórias e fantoches, além de judô —adaptado apenas para rolamentos e quedas, evitando contato, dança, inglês e teatro. Sérgio Terra, mantenedor da escola, afirma que será dada preferência à realização de atividades em espaços abertos. Os recreios acontecerão por escala em um parquinho aberto e, entre cada turma, os brinquedos serão higienizados.

Nas atividades em quadra esportiva, por exemplo, ele conta que a responsabilidade por manter o distanciamento entre os alunos será do professor. "Se alguma criança não mantiver o distanciamento ou tiver atitudes que o colocam em risco, vai ser pedido para os pais que ela fique em casa", afirma.

O que dizem as regras

O retorno às atividades presenciais acontece em meio a diferentes expectativas de pais, alunos e professores. Por um lado, há quem tema a volta pelo fato de ainda estarmos na pandemia e não haver vacina ou remédio comprovado contra a covid-19. Por outro, há quem diga que as escolas estão prontas para o retorno e que o período longe do ambiente escolar pode ter efeitos negativos sobre as crianças.

Uma instrução normativa publicada pela Prefeitura no dia 26 de setembro detalha as regras que devem ser seguidas no retorno facultativo.

Nas escolas da rede municipal, os alunos poderão ser recebidos apenas duas vezes na semana e por no máximo duas horas por dia. Não há limite para a rede privada.

Todos os colégios, no entanto, ficam obrigados a receber apenas 20% dos alunos em cada turno.

As escolas particulares devem submeter um plano de retorno à Prefeitura e receber uma autorização antes de voltarem a funcionar.

As regras são complementares às estabelecidas pelo governo estadual para o retorno das atividades nas escolas públicas e particulares de todo o estado.

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