Universo em expansão

Os bastidores dos 25 anos da história do UOL

Diego Assis colaboração para UOL

Era uma daquelas quintas-feiras de clima abafado, que só se desfaz com tempestades. Às 18h, como de costume, a sirene que é marca registrada da sede do edifício da Folha, no centro de São Paulo, ecoou pelos onze andares do prédio. Mas, naquele 19 de março de 2020, como nunca se viu, não havia ninguém para ouvi-la na ampla laje do sexto andar — repaginada com colunas amarelas, dutos expostos de ar-condicionado e ares de startup do Vale do Silício. A redação do UOL, normalmente ocupada por mais de 300 jornalistas, designers, engenheiros e técnicos, vivia o primeiro dia de uma nova era: de home office, distanciamento social e pandemia.

Nada impediu que toda a equipe se mantivesse firme no propósito de levar informação e entretenimento a todos os brasileiros conectados à internet. E que naquele mês o UOL atingisse um recorde histórico de audiência: quase 995 milhões de sessões*.

*994.772.130 sessões. Fonte, Google Analytics, março 2020 (soma de estações de conteúdo, home e apps UOL)

25 anos do UOL: como vivíamos sem?

Até este abril de 2021, o sexto andar permanece vazio, tal qual cenário de séries sobre futuros distópicos, com os pertences das equipes esquecidos sobre as extensas bancadas de trabalho. No mundo real, como era de se esperar de um veículo digital, as estruturas físicas têm pouquíssima influência sobre as engrenagens que garantem ao UOL a terceira posição entre os domínios mais acessados pelos brasileiros, com audiência média mensal de 134 milhões de usuários únicos. Nas primeiras posições, apenas Google (Busca e YouTube) e Facebook.

"Hoje o UOL completa 25 anos, movido a revoluções", comemora Murilo Garavello, diretor de conteúdo desde novembro de 2018 e responsável por muitas delas. Faltaria espaço aqui para enumerar a quantidade de novos conteúdos, eventos e formatos que o UOL criou só nos últimos dois anos: marcas editoriais, como Splash e Nossa; a reinvenção da TV ao vivo na web com programas como Otalab, de Otaviano Costa; uma nova grade de programação diária de jornalismo e entretenimento; séries jornalísticas contundentes, como a que contou a história do PCC, e furos de reportagem, como o que revelou o esquema de rachadinha adotado em todos os gabinetes da família Bolsonaro; além de eventos, presenciais e online, como Universa Talks e Conexão VivaBem. O conteúdo do UOL também está presente em uma dezena de podcasts e boletins para assistentes de voz como a Alexa, da Amazon, e o Google Nest.

E pensar que tudo isso começou há 25 anos com um anúncio que comparava o nascimento do UOL ao lançamento da TV Tupi, primeira emissora de televisão brasileira. "No futuro, isso vai ser estudado como a revolução de 28 de abril."

Megalomaníacos

Faltavam menos de 24 horas para a estreia e a equipe de tecnologia corria contra o tempo para alterar o endereço digital de todas as páginas do portal, que tinham sido escondidas sob uma "sopa de letrinhas" para evitar vazamentos antes da hora.

"Estávamos lá desde a manhã de sábado, todo mundo preocupado. E aquilo começou a não dar certo. Teve gente que foi pro cinema, outros foram comer pizza. Deu nove horas, meia-noite e nada. Aí eu tive de tomar a decisão: pára com a migração e entra tudo do jeito que está", lembra Caio Túlio Costa, então diretor geral do UOL.

Às 4h15 da madrugada de domingo, 28 de abril de 1996, o Universo Online abria suas portas. Pouca gente se deu conta, mas com exceção da home, muitas das páginas internas do site estavam sob um enigmático diretório /mxyzptlk. "Era o nome do vilão do Superman nos quadrinhos, o Sr. Mxyzptlk!", revela Daniel Amaral, gerente de tecnologia do portal à época, que 25 anos depois ri do erro, mas não se esquece da dor de cabeça que deu.

Até a estreia, foram quase nove meses de gestação, que incluíram visitas às sedes de grandes players da tecnologia da época nos EUA, como a Sun, fabricante de computadores, Netscape e Microsoft, que disputavam o mercado de navegadores de internet, e CompuServe e América Online, então líderes no mercado norte-americano de serviços da rede mundial de computadores.

Mas o UOL não estava sozinho na corrida para plugar os internautas brasileiros na web. "Nas visitas às sedes das empresas americanas, ficava sabendo que a [Editora] Abril já tinha passado por lá. Eles estavam fazendo o Brasil Online. Seríamos maiores que eles: a gente ia fazer o Universo Online", conta Caio Túlio.

"Éramos exagerados, megalomaníacos. O briefing era que a gente deveria ser a porta de entrada para o público fazer qualquer coisa que fosse possível na internet", explica Márion Strecker, primeira diretora de conteúdo do UOL, que ficaria no cargo até 2011.

Melhor que tevê: internet

Se o lançamento do UOL, lá em 1996, marcou uma revolução na história da internet no Brasil, os anos que se seguiram foram repletos de primeiras vezes.

Em 1997, quando o vídeo na web ainda engatinhava, nascia a TV UOL, a primeira TV web do país. Três anos depois, viria o UOL News, primeiro telejornal da internet brasileira. "Quando a gente olha o que é o vídeo na internet hoje parece que se passaram séculos em relação ao que a gente fazia. O UOL News era uma coisa bastante pioneira. Ninguém tinha um produto como aquele. Era para uma elite de usuários que tinha acesso à banda larga. Havia um interesse de passar para o público e para o mercado uma imagem de que o UOL estava à frente da tecnologia", lembra Irineu Machado, editor-chefe de UOL News de 2000 a 2007 e, atualmente, gerente geral de conteúdo.

Em 2001, o portal se associou ao SBT para a transmissão ao vivo de "Casa dos Artistas" e inaugurou a tradição de cobertura de reality shows que é febre na web até hoje. No ano seguinte, num acordo com a CBF, faria a primeira transmissão online de uma partida de futebol da seleção. Em 2010, com a Folha, realizaria o primeiro - e único até esta data - debate presidencial da internet brasileira.

"A inovação sempre fez parte do nosso DNA. Temos uma pegada de sempre buscar o que está acontecendo no mercado, trazer para dentro, analisar e lançar produtos de forma pioneira", explica Paulo Samia, CEO do UOL Conteúdo e Serviços. "O UOL foi rádio na web antes do Spotify, lançou VoIP antes do Skype, e plataforma de vídeos antes do YouTube".

Sobrevivente, não. Vencedor

(17:52:48) Thelo grita com Sandy e Junior: Sandy, vcs tem internet, qual o seu e-mail, sou seu fã, tem como vc me mandar uma foto sua?

Em outubro de 1997, quando milhares de fãs disputavam quem gritava mais alto na sala do Bate-Papo UOL para teclar e ganhar um beijo de Sandy e Junior, ninguém poderia prever que, dez anos depois, o maior fenômeno pop do Brasil acabaria por se separar. O mesmo aconteceu com marcas que dominavam a internet naquele tempo, como Netscape, Altavista e a própria America Online, que anos depois acabariam sumindo de vez ou perdendo relevância. O universo do UOL, porém, nunca parou de expandir.

"A gente entendeu melhor do que todo mundo o modelo de negócio", explica Caio Túlio Costa, referindo-se ao tripé de conteúdo e serviços apoiado em cobrança de assinatura em que a empresa se apoiou desde o início, sobrevivendo inclusive à temida explosão da Bolha Ponto.com na virada do milênio.

"Em 2001, já tínhamos mais de 1 milhão de assinantes. Já éramos muito fortes e, com a chegada da banda larga e o corte dos custos com linhas telefônicas, o negócio começou a ficar muito mais viável do ponto de vista econômico", explica Gil Torquato, atual CEO da Compasso UOL.

"A maioria dos grupos de mídia do mundo foi absorvida por empresas que nem eram do ramo, como a AOL, que foi comprada pela AT&T, ou a própria Amazon. Nós montamos um grupo de empresas que conseguiu manter o grupo de mídia ativo e hoje conseguimos dizer, com muito orgulho, que estamos entre os poucos do mundo que são lucrativos e crescem."

Inovar, sempre

Presente na vida de nove em cada dez brasileiros, o UOL marcou também a trajetória do ministro do STF Luís Roberto Barroso, que classifica a relação com o portal como seu "momento pessoal de revolução tecnológica". "Foi meu primeiro e-mail e foi quando todos nós passamos a ler notícias online", explica. Das tantas vezes em que apareceu nas páginas do UOL, ele se lembra de uma em especial, em junho de 2013, quando viu na home page a notícia de sua nomeação para o Supremo Tribunal Federal. "Eu já sabia, eu soube de manhã, mas na vida a gente só confirma as coisas mesmo quando saem na imprensa."

Foram anos até que o UOL se consolidasse como um dos veículos de maior credibilidade no jornalismo nacional. Mas se até algum tempo atrás a principal associação era com seu aspecto noticioso, nos últimos anos o UOL vem se esforçando para criar marcas que ampliem seu alcance a outros segmentos.

"Decidimos criar marcas editoriais com mais personalidade e protagonismo em seus universos, que funcionem como grandes guarda-chuvas em que se pode conectar eventos, criar programas em vídeo, podcasts, trabalhar presença em redes sociais", explica Murilo Garavello, atual diretor de conteúdo do UOL, fazendo referência a plataformas lançadas mais recentemente, como Universa, focada no público feminino, Viva Bem, dedicada a saúde e bem-estar, Start e Tilt, focadas em games e tecnologia, além de Nossa (estilo de vida), Ecoa (iniciativas transformadoras) e Splash (antigo UOL Entretenimento).

Junto com essas reformulações, a TV UOL mudou de posicionamento e virou produtora audiovisual, o MOV — que vai do noticiário aos programas de entretenimento — e o conteúdo do UOL passou a ganhar cada vez mais as redes sociais e plataformas de vídeo.

Os canais UOL no YouTube, juntos, somam 3,1 milhões de assinantes; no Facebook, 30 milhões de fãs; no Instagram, 5,8 milhões de seguidores. Entre os jovens do TikTok já contabiliza 2,2 milhões de likes.

"O UOL passa por um momento de reinvenção. É aquela coisa de quando você chega aos 25 anos, já quase virando 30, e se pergunta: o que eu vou ser da minha vida?", compara Paulo Samia, CEO do UOL Conteúdo e Serviços. "Nós queremos atrair um público mais jovem, lançando novos produtos e revisitando outros, focando sempre no que a gente sabe fazer bem: informar, entreter e facilitar a vida do brasileiro. A gente nunca vai esquecer a nossa tradição, que é produção de jornalismo de qualidade e credibilidade, mas isso não exclui uma forma de falar mais moderna e adequada ao que hoje as pessoas estão acostumadas a consumir conteúdo."

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