Descubra alguns mitos e verdades sobre enxaqueca

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Quem tem enxaqueca enxerga pontos brilhantes e luzes. MITO: não necessariamente. A enxaqueca com aura é um tipo que se caracteriza por vir acompanhada de sintomas neurológicos como visão de flashes luminosos, alterações na fala e nos movimentos, sensação de dedos e lábios dormentes. Em geral, tal fenômeno antecede as crises de dor. "A maior parte dos pacientes não tem aura e são raros os que manifestam crises sempre acompanhadas ou precedidas por ela. Também há indivíduos que só sofrem com a aura, mas não com a dor de cabeça que se seguiria", explica Abouch Krymchantowski, neurologista especialista em dor de cabeça e enxaqueca. Estudos apontam que, a cada cinco pacientes com enxaqueca, um apresenta a aura Mais
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Ingerir muita cafeína pode detonar os sintomas. MITO: excesso de cafeína pode provocar não enxaqueca, mas, sim, dor de cabeça. Em geral, cefaleia tipo tensional, ou seja, algia de leve a moderada, sem náuseas, e que piora com o decorrer do dia, salienta o neurologista Flávio Sallem. Porém, atenção: a cafeína pode, sim, detonar a enxaqueca, porém por abstinência do elemento. Em outras palavras, o sujeito está acostumado a ingerir várias xícaras de café por dia e aí, repentinamente, suspende o hábito, e o distúrbio vem à tona. Abouch Krymchantowski salienta que a cafeína é um analgésico de ação central (age no cérebro) que aumenta a velocidade de absorção de vários analgésicos usados nas crises. "Observe que muitos remédios têm cafeína, como Neosaldina, Cefalium e Tylenol DC. Se consumida em excesso, a substância pode detonar a dor de cabeça, assim como parar repentinamente de consumi-la não é bom, pois ocorre a abstinência." Segundo a Sociedade Brasileira de Cefaleia, o ideal é ingerir até 200 mg por dia, distribuídos entre vários alimentos (chocolate, café, chá preto e refrigerantes). "Um estudo apresentado no Congresso Internacional de Cefaleia em 2001, em Nova York (EUA), apontou que, dentre os indivíduos queixosos de enxaqueca apenas nos fins de semana, 91% reduziam a dose de cafeína em mais de 50% no sábado e no domingo. Quer dizer, sofriam com a privação" Mais
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Para resolver o problema, basta ingerir um analgésico. MITO: este é um dos erros mais comuns, e perigosos, em relação ao distúrbio. "Tomar um analgésico de vez em quando, menos de uma ou duas vezes ao mês, para uma dor de cabeça qualquer não traz maiores problemas se o paciente não for alérgico à droga. No entanto, ingeri-lo mais de dois dias na semana traz, além dos malefícios da substância propriamente dita, piora progressiva das crises, provocando o que se denomina cefaleia por uso excessivo de medicamentos", adverte Abouch Krymchantowski. O colega Flávio Sallem complementa dizendo que as medicações empregadas no tratamento, diferentemente dos analgésicos, são de uso contínuo, os chamados profiláticos. "Entre eles, temos vários antidepressivos, anticonvulsivantes e outras classes de fármacos" Mais
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Alguns exames, como tomografia e raio-X, ajudam a confirmar a doença. MITO: conforme garante o neurologista Flávio Sallem, o diagnóstico é feito em consultório, com levantamento de dados do histórico e da análise neurológica normal. "Os estudos servem para descartar outras doenças que poderiam, supostamente, estar causando os sintomas." Como a enxaqueca é uma disfunção química e genética do cérebro, não aparece em nenhum exame complementar. "Se fizermos um pet scan durante uma crise, veremos alterações já conhecidas e não suficientes para comprovar o problema, cuja diagnose é essencialmente clínica e baseada em consultas demoradas, criteriosas e completas. Em testes de ressonância magnética funcional do cérebro, nos últimos dez anos, também tem se evidenciado que o cérebro de pacientes com o distúrbio apresenta alterações em áreas de processamento da dor, mas isso não serve para diagnóstico. Cuidado com médicos que fazem consultas de dez minutos e pedem uma série de exames. Isso é incorreto e injustificado", completa o membro da American e International Headache Society, Abouch Krymchantowski Mais
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Embora incômoda, a enxaqueca não traz problemas mais sérios. PARCIALMENTE VERDADE: depende do ponto de vista. Se pensarmos que é uma doença benigna que raramente gera complicações sérias, podemos apostar na afirmação. "Embora uma forma específica de enxaqueca, a com aura, seja associada a risco maior de infartos cerebrais isquêmicos no futuro, isso nunca ficou totalmente entendido e parece ocorrer apenas em mulheres que fumam, têm varizes profundas e maior propensão a fenômenos tromboembólicos", destaca o neurologista Abouch Krymchantowski. Já Flávio Sallem alega que a enxaqueca causa grandes prejuízos para quem estuda ou trabalha, "pois a dor literalmente joga a pessoa na cama por horas ou dias, impedindo-a de exercer suas funções de forma correta". É fato: muitos pacientes ficam menos produtivos e perdem oportunidades sociais e profissionais por medo de que a disfunção apareça Mais
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Alguns alimentos como chocolate, queijo e vinho, provocam crises. VERDADE: conforme assegura o neurologista do Hospital das Clínicas e do Hospital do Coração (SP), Flávio Sallem, há vários portadores de enxaqueca que apresentam piora dos sintomas com tais alimentos. "E não somente estes, vários outros como frituras e embutidos podem agravar ou desencadear uma crise." Acredita-se que um a cada quatro pacientes tem ataques relacionados com a ingestão de determinados alimentos Mais
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Quem tem propensão, não deve ficar muitas horas em jejum. VERDADE: o jejum prolongado é fator de risco para crises de enxaqueca em portadores da doença, e mesmo em quem não a apresenta, já que ficar muitas horas sem comer não raro detona dores de cabeça. Segundo a Sociedade Brasileira de Cefaleia, trata-se do aspecto alimentar mais importante para desencadear o problema, pois gera uma baixa de açúcar no sangue com produção de substâncias que causam dor. "O ideal, então, é comer algo em intervalos regulares, a cada três ou quatro horas, para manter o metabolismo ativado", recomenda Abouch Krymchantowski, acrescentando que estresse, ansiedade, sol forte, odores pronunciados e mudanças de temperatura e de umidade do ar são outros gatilhos comuns. O cigarro, vilão para muitas outras doenças, neste caso não influi Mais
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A doença tem a ver com disfunções do fígado e do estômago. MITO: como muitas pessoas sofrem com náusea e vômito durante os ataques, é comum que os associem a problemas nesses órgãos. Porém, tais incômodos ocorrem como parte do processo químico da dor, que faz com que o estômago se dilate e fique paralisado, originando indigestão e enjôo. "A mobilidade gástrica diminui, enquanto a distensão gástrica provoca náusea e vômito, às vezes com secreção biliar esverdeada. Assim, se entende erradamente que há problema no fígado ou no estômago", considera o docente da pós-graduação em Neurologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Abouch Krymchantowski Mais
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Algumas frutas, como as cítricas, pioram a dor. VERDADE: a l'octopamina, derivado metabólico da tiramina que age diretamente nos vasos sanguíneos, está presente em algumas frutas e deflagra crise em pessoas propensas. As principais são laranja, limão, abacaxi e banana, especialmente a banana d'água. "Mas o fenômeno é pessoal e nem todos os pacientes reclamam disso", observa o neurologista Flávio Sallem Mais
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Problemas de vista e sinusite causam enxaqueca. MITO: "Não há, absolutamente, nenhuma relação. É mais fácil um antibiótico para sinusite originar uma crise do que a sinusite fazê-lo", assegura o neurologista Abouch Krymchantowski, que já publicou 11 livros sobre cefaleia. Apenas as sinusites agudas, e não as crônicas, são capazes de detonar dor de cabeça, e não enxaqueca. Além disso, muitas pessoas começam a ter dor de cabeça e acham que precisam usar óculos ou aumentar a lente porque o grau subiu. Outro grande mito, segundo os especialistas. Miopia, hipermetropia e presbiopia não são causas do problema e só astigmatismo muito grave em crianças causa cefaleia. Novamente, estamos falando de dor de cabeça e não enxaqueca Mais
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Dor de cabeça crônica, antiga e intensa pode ser sinal de tumor cerebral ou aneurisma. MITO: "Impossível uma dor de cabeça que ocorre ao longo de vários anos e isoladamente ser provocada por tais problemas ou doenças. Um tumor cerebral causa só dor de cabeça por poucas semanas. Depois, aparecem outros sintomas neurológicos", explica o neurologista Abouch Krymchantowski. O colega Flávio Sallem observa que até mesmo algias promovidas por distúrbios crônicos da articulação da mandíbula (disfunção têmporo-mandibular) ou do pescoço (cervicalgias) podem levar a sintomas assim. "É sempre prudente uma consulta neurológica para investigação das causas da dor" Mais
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Crianças não sofrem com o distúrbio. MITO: acredita-se que entre 4% a 8% das crianças têm enxaqueca. As dores podem começar por volta dos 5 anos e, em cerca de 40% dos casos, acabam espontaneamente na puberdade. As crises de dor nestes casos duram menos, de 30 minutos a duas horas. E, apesar de, na fase adulta, o problema afetar mais as mulheres, na infância é ligeiramente mais regular nos meninos. "Embora acometam menores de 5 a 7 anos, o período mais comum de início é na adolescência. Comumente, a doença se manifesta com tonturas que vão e voltam, desconfortos abdominais sem explicação e as famosas 'dores do crescimento'. Na cabeça, podem ser latejantes", diz Flávio Sallem Mais
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Alguns alimentos ajudam a melhorar o problema. MITO: não há alimentos que combatam a dor. "No entanto, vários especialistas sugerem o consumo de itens como peixe, óleo de linhaça e espinafre, este rico em vitamina B2, como forma alternativa de prevenção", pondera o neurologista Flávio Sallem Mais
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Praticar atividade física é um ótimo caminho para prevenção e tratamento. VERDADE: a prática de ginástica ou esporte auxilia na liberação de substâncias e hormônios que combatem o estresse e a dor. No entanto, conforme reconhece o neurologista do Hospital das Clínicas, Flávio Sallem, nem todos os pacientes se beneficiam com o hábito. "Mas vale adotá-lo, pois ajuda a manter um estilo de vida saudável e a conservar a boa forma." O diretor do Centro de Avaliação e Tratamento da Dor de Cabeça (RJ), Abouch Krymchantowski, concorda. "A prática regular e intensa de exercícios aeróbios diminui a frequência de crises. Publicamos um estudo que avaliou 100 frequentadores de uma academia de ginástica e vimos que, embora a prevalência de cefaleias e de enxaqueca fosse semelhante a da população normal, o impacto provocado pelos episódios era bem menor, sugerindo que malhar seja fator decisivo nesta redução" Mais
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Enxaqueca não tem cura, mas pode ser controlada e até desaparecer um dia. VERDADE: como doença neurológica genética, ela realmente não tem cura. No entanto, os sintomas, sejam dor de cabeça ou não, podem desaparecer espontaneamente um dia ou como consequência de um tratamento bem feito. "Tenho muitos pacientes que ficaram sem crises de dor ou com sua constância pelo menos 90% menor após métodos bem empregados. Alguns permaneceram assim mesmo com a suspensão dos remédios, pois adotaram hábitos saudáveis como a prática de exercícios, regularidade de alimentação e sono, vida sexual ativa e gerenciamento do estresse", atesta Abouch Krymchantowski. Em muitos pacientes, em especial nas mulheres, a dor pode desaparecer com a menopausa, por conta de fatores hormonais Mais
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Há vários tratamentos para o distúrbio. VERDADE: o mais eficaz é multidisciplinar e calcado em três pilares, ressalta o neurologista Abouch Krymchantowski. O primeiro deles é a educação do paciente, com orientações sobre o que é a doença e como reduzir seu impacto. Em segundo, há métodos preventivos com emprego de drogas de uso diário que vão modular os mecanismos do distúrbio no cérebro. "Nesse sentido, podemos usar remédios como neuromoduladores, betabloqueadores e antidepressivos tricíclicos. Todos, em maior ou menor grau, regulam os sistemas dos diferentes neurotransmissores." Por fim, na hora de cuidar da crise propriamente dita, o médico pode combinar triptanos com anti-inflamatórios. O também neurologista Flávio Sallem complementa dizendo que há caminhos não farmacológicos, como o biofeedback, método que usa um aparelho com eletrodos que são ligados a diferentes partes do corpo. "Há, ainda, outras opções, como estimulação magnética transcraniana (foto) ou o uso de toxina botulínica, que está sendo testada em indivíduos que não reagem a outras técnicas." Importante: a maioria dos médicos defende que medidas preventivas devem ser instituídas quando acontecem pelo menos dois ataques por mês, ou quando há aumento na incidência das crises. Como as medicações costumam apresentar efeitos indesejáveis, devem ser prescritas por médicos experientes. Acredita-se que, em média, 2/3 dos portadores que recebem tratamento preventivo se beneficiam com redução de 50% no número de ataques Mais
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Quem tem enxaqueca, precisará tomar remédio a vida toda. MITO: há pacientes que apresentam crises raras de enxaqueca, com evolução benigna e, dessa forma, o uso ocasional de analgésicos é suficiente. "Quem sofre com dores crônicas ou frequentes, e necessita de medicações profiláticas diárias, muitas vezes obtêm uma melhora importante das dores após meses ou anos de tratamento, ou com o emprego de medidas alternativas", sustenta o neurologista Flávio Sallem, acrescentando que os cuidados devem ser holísticos. Em outras palavras, englobar mudanças de estilo de vida com controle de peso, melhora do padrão de sono e distância de fatores desencadeantes como excesso de exposição ao sol e jejum prolongado. "Cotidiano regrado e saudável é essencial", reforça o colega Abouch Krymchantowski Mais
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A enxaqueca é mais comum nas mulheres. VERDADE: mulheres apresentam fatores hormonais que as tornam mais propensas a desenvolver a doença, com as flutuações normais dos níveis de estrógeno e progesterona ao longo do ciclo ovulatório e menstrual. "Mas há também fatores genéticos envolvidos, ainda não totalmente elucidados, que tornam a mulher mais suscetível às dores do que os homens. Em média, após a primeira menstruação, elas ficam duas vezes mais suscetíveis à doença do que eles", explica o neurologista do Hospital do Coração, Flávio Sallem, acrescentando que, antes da menarca, a frequência do distúrbio é igual para ambos os sexos Mais
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Acupuntura é uma das terapias que ajudam. VERDADE: há estudos científicos que demonstram a utilidade da acupuntura em conjunto com outros tratamentos. "Isoladamente, é bom ressaltar, ela não tem esse poder", pondera o médico neurologista especializado em dor de cabeça e enxaqueca, Abouch Krymchantowski. Além de acabar com a dor na hora dos ataques, a técnica vem sendo empregada para preveni-los Mais
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Quem dorme mal, está mais sujeito ao problema. VERDADE: a irregularidade do sono é um dos fatores que deflagra os episódios. "Dormir mais ou menos do que o normal é prejudicial e o ideal é repousar em horas regulares todos os dias, mesmo que menos do que desejado", salienta Abouch Krymchantowski. Um quadro comum é a chamada "enxaqueca de fim de semana", na qual o paciente reclama da dor porque dorme muito mais do que o habitual Mais
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Fazer sexo ajuda a combater a enxaqueca. VERDADE: um grupo do departamento de neurologia da Universidade de Münster, na Alemanha, descobriu que a atividade ajuda a combater a enxaqueca e as dores de cabeça pontuais. Entre os entrevistados, 60% revelaram sentir um alívio depois do sexo, com 43% dos pacientes sentindo o poder analgésico imediatamente após o orgasmo e 17% no momento do ápice sexual. A explicação apresentada pelos pesquisadores é simples: sexo pode desviar o foco da dor e, além disso, libera endorfina. O neurologista Abouch Krymchantowski inclui vida sexual ativa em sua lista de hábitos saudáveis para aqueles que querem evitar o mal Mais