Conheça alguns mitos e verdades sobre o fígado

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A enxaqueca é causada pelo fígado. MITO: segundo os especialistas entrevistados, alguns alimentos podem até desencadear uma enxaqueca, mas isso nada tem a ver com o fígado. "A enxaqueca é uma dor de cabeça de origem vascular e tem componente genético", conta o hepatologista Raymundo Paraná. "Há diversos tipos e causas de enxaqueca, e a maioria deles está associada ao cérebro", diz Liliana Ducatti Lopes, cirurgiã da equipe de transplante de fígado e órgãos do aparelho digestivo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. O coordenador do Instituto do Fígado do Hospital Beneficência Portugusa, Ben-Hur Ferraz Neto, alerta que, no caso de ressaca, não devemos fazer uso de paracetamol. "Aliás, o uso do paracetamol deve ser feito com parcimônia, uma vez que se trata de medicação hepatotóxica, ou seja, danosa ao fígado". Mais
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Os sintomas da ressaca são provocados pelo fígado. PARCIALMENTE VERDADE: a ressaca pode acontecer sem que o fígado esteja agredido. "Trata-se de um mal-estar causado pelo efeito anticolinérgico do álcool, associado à desidratação. Um produto do metabolismo do álcool gerado no fígado (o acetaldeido) explica em parte esses sintomas", afirma o hepatologista Raymiundo Paraná. "Outro sintoma é a desidratação, por isso é importante tomar bastante água. Se sabe que terá uma festa e vai beber no dia seguinte, tome isotônico um dia antes. Ou para cada taça de álcool, tome duas de água", ensina a hepatologista Monica Viana, acrescentando que o uso do paracetamol para a dor de cabeça deve ser feito com cuidado, uma vez que se trata de medicação hepatotóxica, ou seja, prejudicial ao fígado Mais
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Toda bebida alcoólica passa pelo fígado. VERDADE: "O metabolismo do álcool começa no estômago e termina no fígado", diz o hepatologista Raymundo Paraná. "Sempre! Além do álcool, todos os medicamentos e toda alimentação passa por ele. Por isso, melhor não tomar paracetamol após beber, pois a mistura pode causar danos ao fígado", alerta a hepatologista Monica Viana Mais
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Enjoo é sinal de problemas no fígado. PARCIALMENTE VERDADE: enjoo é um sintoma genérico que ocorre em diversas doenças, inclusive nas do fígado. "Enjoo pode sinalizar um sintoma associado a muitas outras situações clínicas, inclusive problema nos olhos", conta Raymundo Paraná, professor da Universidade Federal da Bahia Mais
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O fígado abastece o corpo quando ficamos em jejum. VERDADE: o fígado tem reservas de glicose, que é o combustível das nossas células. "A glicose gera a nossa energia", explica o hepatologista Raymundo Paraná. A cirurgiã Liliana Ducatti detalha que o fígado armazena glicose em forma de glicogênio e, numa situação de jejum prolongado, este é liberado para suprir o organismo Mais
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Chás fazem mal ao fígado. PARCIALEMENTE VERDADE: o hepatologista Raymundo Paraná diz que alguns podem fazer, se consumidos em excesso. E ele faz um alerta em relação a chás com suposto efeito terapêutico: "A ideia de que o natural faz bem é completamente falsa e obedece a um interesse de mercado. O que faz bem é o que é devidamente estudado sob as normas da ciência médica", afirma o médico, que é professor da Universidade Federal da Bahia. Ele lista alguns chás que podem causar danos ao fígado: picão preto (carrapicho), sacaca, cáscara-sagrada, espinheira-santa, confrei, erva-mãe-boa, sene e poejo. "Melhor optar por chá de erva-cidreira ou erva-doce. Já tive um paciente que ficou na UTI por causa de excesso de chá verde. Melhor ainda é tomar água", alerta a hepatologista Monica Viana Mais
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O ideal é comer doces quando se tem hepatite. MITO: para Raymundo Paraná, médico hepatologista, este é um conceito absolutamente ultrapassado. Ele afirma que nenhum alimento faz mal diretamente ao fígado, nem mesmo a pimenta."O fígado odeia açúcar, que se transforma em gordura. O ideal é evitar doces!", diz Monica Viana, hepatologista do Hospital do Servidor Público de São Paulo Mais
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Medicamentos precisam passar pelo fígado para fazerem efeito. VERDADE: a hepatologista Monica Viana diz que há o metabolismo hepático de primeira passagem, quando o medicamento é absorvido pelo trato gastrointestinal. Antes de entrar na circulação geral, ele passa pela chamada "circulação porta", que transporta o sangue dos órgãos abdominais para o fígado Mais
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Pele amarelada é um dos sinais de problema no fígado. VERDADE: sobretudo se os olhos também estão amarelos e a urina escura, comenta o hepatologista Raymund Paraná. A hepatologista Mônica Viana completa que o amarelão é provocado pelo acúmulo de bilirrubina, um subproduto dos glóbulos vermelhos velhos. "Pode ser um tipo de hepatite ou até câncer de pâncreas", avisa Mais
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O fígado é o único órgão que sempre se regenera. PARCIALMENTE VERDADE: segundo a cirurgiã Liliana Ducatti, ele se regenera e chega ao tamanho habitual, mas cresce em massa. Exemplificando: se retiramos o lobo direito, extraímos muitas vezes a veia direita e artéria direita do fígado junto. Este fígado com lobo esquerdo que restou vai crescer até ficar no tamanho habitual, mas ele não irá criar um "novo lobo direito". Também não terá mais a veia e a artéria direitas, que foram retiradas. Segundo o coordenador do Instituto do Fígado do Hospital Beneficência Portugusa, Ben-Hur Ferraz Neto, após a regeneração do fígado, todas as capacidades iniciais estarão mantidas ou restabelecidas. "Não há qualquer comprometimento na função hepática", diz. O coordenador de transplantes do Hospital Israelita Albert Einstein, Marcelo Bruno de Rezende, esclarece que um fígado normal retoma suas funções. "Porém, se falarmos em um cirrótico ou em casos de câncer, quando o paciente faz quimioterapia, a parte que ficou após a cirurgia irá se regenerar em tamanho, mas não em funções, pois não se trata de um órgão saudável" Mais
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O fígado é a maior glândula do corpo humano. VERDADE: não é só a maior glândula como também o segundo maior órgão, perdendo apenas para a pele. "É uma usina que produz as nossas proteínas e um órgão imunológico que nos defende das infecções", aponta o hepatologista Raymundo Paraná, professor da Universidade Federal da Bahia. A hepatologista Monica Viana completa dizendo que o órgão produz vários hormônios importantes como, por exemplo, a trombopoetina, hormônio que regula a produção de plaquetas pela medula óssea Mais
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É o fígado que envia energia para todo o organismo. PARCIALMENTE VERDADE: as células do fígado atuam como reserva de energia, dessa forma, quando alguma outra parte do corpo necessita dela, o órgão envia a glicose pela circulação. "Não especificamente energia, mas o fígado se conecta com todo o organismo como um grande maestro. Se o fígado falha, podem falhar os rins, o pulmão, o coração e as glândulas suprarrenais, por exemplo", diz o hepatologista Raymundo Paraná. Já a médica Monica Viana faz um alerta: "É preciso frisar que ele demora para fazer isso e tem os seus limites" Mais
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É comum sentir dor no fígado quando se tem hepatite. PARCIALMENTE VERDADE: segundo o hepatologista Raymundo Paraná, pode haver dor, mas não sempre. "Quando a pessoa tem hepatite, o fígado aumenta de tamanho e o paciente pode sentir um desconforto no lado direito, bem abaixo das costelas", confirma a cirurgiã Liliana Ducatti Mais
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Examinando o fígado pode-se diagnosticar várias doenças. VERDADE: segundo o hepatologista Raymundo Paraná, um exame físico cuidadoso pode mostrar se o órgão está acometido por doenças sistêmicas como vasculites, lúpus, deficiências enzimáticas de origem genética e várias parasitoses. "Muitas doenças reumáticas descobrimos assim, por exemplo. Já a gordura no fígado pode ser diabetes e o paciente nem sabe que tem. Há também a anemia falciforme", diz a hepatologista Monica Viana Mais
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Remédio em excesso faz mal ao fígado. PARCIALMENTE VERDADE: o hepatologista Raymundo Paraná, professor da Universidade Federal da Bahia, diz que é preciso entender que a maioria dos casos de toxicidade por medicamentos é imprevisível. "É o produto do metabolismo do remédio gerado no fígado que pode causar a toxicidade. O problema é que cada pessoa metaboliza uma mesma droga de forma diferente. Há também implicações genéticas que tornam a toxicidade imprevisível para diversos medicamentos". A também hepatologista Monica Viana lembra que não só remédios, mas vitaminas e chás também podem fazer mal, assim como vários anti-inflamatórios e antidepressivos. "Muitos dentistas, quando tiram o dente do siso do paciente, recomendam o iboprufeno, que também pode fazer muito mal ao fígado", diz ela. O coordenador de transplantes do Hospital Israelense Albert Einstein, Marcelo Bruno de Rezende, afirma que muitas drogas podem causar falência hepática, como flutamida ou metildopa, assim como o paracetamol. "Isso se forem tomadas doses por longos períodos ou em excesso, por isso é importante ter o acompanhamento médico e usar com parcimônia!" Mais
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O bom funcionamento do fígado está ligado ao bom humor. MITO: na Grécia antiga se tinha esta crença. "Como a bile é amarga, acreditava-se que o fígado purgava o amargor da vida, portanto seria responsável pelo humor. Hoje sabemos que não é nada disso", diz o hepatologista Raymundo Paraná. A cirurgiã Liliana Ducatti, da equipe de transplante de fígado e órgãos do aparelho digestivo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, afirma que as alterações do nosso humor estão ligadas ao funcionamento do cérebro e seus neurotransmissores Mais
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Pessoas com hepatite têm maiores chances de desenvolver câncer de fígado. VERDADE: "Especialmente se a hepatite for crônica", alerta o hepatologista Raymundo Paraná, acrescentando: "Isso pode acontecer com as hepatites B, C e D". A cirurgiã Liliana Ducatti concorda: "Uma inflamação crônica do fígado pode levar ao desenvolvimento de câncer com maior frequência" Mais
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O fígado da criança é proporcionalmente maior do que o do adulto. VERDADE: nascemos com o fígado quase do mesmo tamanho que o de um adulto Mais
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Alimentos gordurosos fazem mal ao fígado. PARCIALMENTE VERDADE: para o hepatologista Raymundo Paraná, a gordura faz mal ao organismo como um todo, mas não especificamente ao fígado. "Pior ainda é o açúcar. Eu sempre falo para meus pacientes que doce é pior que picanha. A pessoa está triste? Como doce! Brigou com o namorado? Come chocolate. Falam que carne faz mal, mas se comer fraldinha ou filé mignon, com parcimônia, não tem problema", diz a hepatologista Monica Viana Mais
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Mesmo sem funcionar bem, o fígado continua a eliminar toxinas. VERDADE: ainda que doente, o órgão funciona até os estágios terminais. "O fígado é o órgão mais guerreiro que Deus inventou. Como já falei, ele funciona até estar com 80% a 90% de sua capacidade comprometida, sem que apareçam sinais disso", afirma a hepatologista Monica Viana Mais
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Magros também podem ter o fígado recheado de gordura. VERDADE: o hepatologista Raymundo Paraná, professor da Universidade Federal da Bahia, conta que pacientes magros com dislipidemia (presença de níveis elevados ou anormais de lipídios e/ou lipoproteínas no sangue) ou resistência à insulina de origem genética podem ter gordura no fígado de forma semelhante aos obesos. "Especialmente diabéticos que nem sabem que têm a doença", frisa a hepatologista Monica Viana. Ela conta que a pessoa precisa fazer um exame para verificar o colesterol e triglicérides com 12 horas de jejum, mas que muitos laboratórios deixam o paciente esperando e horas a mais causam diagnósticos errados. "Gordura no fígado é uma epidemia. Quando chegam no hepatologista, já estão com 80% a 90% do fígado destruído. Daí, só com um transplante", finaliza Mais
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Transplantes de fígado costumam ser bem-sucedidos. VERDADE: transplantes de fígado são seguros e a sobrevida do paciente é longa e de qualidade, afirma o hepatologista Raymundo Paraná. Mas a cirurgiã Liliana Ducatti lembra que, ainda que os resultados do transplante sejam muito bons atualmente, não deixa de ser uma cirurgia muito grande e delicada. "Não me canso de falar que o Brasil é o país que faz o melhor transplante de fígado do mundo. O problema é a espera. São dois a três anos na fila. Precisamos aumentar a campanha de doação de órgãos", indica a hepatologista Monica Viana. O coordenador de transplantes do Hospital Israelita Albert Einstein, Marcelo Bruno de Rezende, conta que tudo depende da compatibilidade do peso e do tipo sanguíneo. "Podemos dividir um fígado adulto e fazer dois transplantes. Ou transplantar um fígado infantil num adulto. O órgão tem de pesar 1% do peso da pessoa. Assim, um adulto de 70 quilos precisará de um fígado de no mínimo 700 gramas. Hoje temos 15 doares para cada milhão de habitantes. A meta é chegar a 20, pois muitos ainda morrem na fila" Mais
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Alimentos amargos como alcachofra fazem bem ao fígado. MITO: segundo o hepatologista Raymundo Paraná, a alcachofra, assim como fitoterápicos ou medicamentos que são vendidos como protetores do fígado (extrato hepático, silimarina, vitamina B e metionina) não possuem comprovação científica. "Os hepatologistas não os prescrevem", encerra. "Alcachofra diminui o colesterol e ajuda na digestão, mas afirmar que os alimentos amargos ajudam o fígado não tem nenhum fundamento", completa a hepatologista Monica Viana Mais
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Dietas desintoxicantes ajudam a proteger o fígado. MITO. "Esta é uma situação absurda de ataque à boa fé das pessoas, São modismos para ganhar dinheiro às custas da ingenuidade alheia. Tudo isso é crendice. As dietas desintoxicantes do fígado são uma grosseira enganação. Caso de polícia. Infelizmente, este tipo de prática está cada vez mais comum no Brasil", afirma o hepatologista Raymundo Paraná. Já a cirurgiã Liliana Ducatti alerta que toda dieta bem equilibrada faz bem para o fígado como para todo o organismo, mas não existe um alimento milagroso que proporcione uma desintoxicação. "Cuidado, pois vive surgindo alguma maluquice 'do momento'. Cuidado com chás verdes, como falei antes, já tive um paciente na UTI por excesso desta bebida. Melhor tomar água!", ensina a hepatologista Monica Viana Mais
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Protetores hepáticos de venda livre são úteis após o abuso de álcool e gordura. MITO: todos os entrevistados afirmaram que não há comprovação da eficácia de produtos como fitoterápicos ou medicamentos que são vendidos como protetores do fígado. Caso do extrato hepático, da silimarina, da vitamina B e metionina. "Os hepatologistas não os prescrevem", revela o hepatologista Raymundo Paraná. "O melhor é tomar água. Quando algum paciente irá passar por cirurgia, peço que tome fluimucil, que é usado para exames que precisem de contraste, pois protege o fígado, mas só nessas ocasiões eu o recomendo", conta a hepatologista Monica Viana Mais
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Doenças hepáticas são diagnosticadas com exames simples de sangue. VERDADE: "Quando falamos em check-up, lembramos apenas do coração, mas é preciso saber que o fígado é um órgão silencioso. Ele tolera uma agressão por anos sem qualquer sintoma. Se fizermos exames de sangue simples como AST (aspartato aminotransferase), ALT(alanina aminotransferase), fosfatase alcalina e Gama GT (gama glutamil transferase), poderemos diagnosticar precocemente várias doenças. O anti-HCV (marcador de triagem para a hepatite C) e o AgHBs nos ajudam no diagnóstico precoce das hepatites, por exemplo", conta o hepatologista Raymundo Paraná, professor da Universidade Federal da Bahia Mais