Pesquisas mostram efeitos do meio ambiente à saúde

Dado Ruvic/Reuters
CÂNCER: a agência especializada em câncer que integra a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou em outubro de 2013 que a poluição do ar é uma das principais causas ambientais de morte por câncer. Por meio de uma avaliação do Programa de Monografias da Agência Internacional para Pesquisa sobre o Câncer (Iarc, na sigla em inglês) foram encontradas evidências suficientes de que a exposição ao ar poluído causa câncer de pulmão e aumenta o risco de câncer de bexiga. Estudos indicam que nos últimos anos os níveis de exposição aumentaram significativamente em algumas partes do mundo, particularmente nos países muito populosos e com rápido processo de industrialização
Gareth Fuller/AP
OZÔNIO: 90% dos moradores de zonas urbanas europeias continuam expostos a uma poluição com partículas e um número ainda maior ao ozônio, em níveis que superam os recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), advertiu um relatório da Agência Europeia do Meio Ambiente (AEE). "Grandes proporções da população não vivem em um ambiente saudável (...). A Europa deve ir mais longe na legislação aprovada", menos rígida que as recomendações da OMS, considera o diretor-executivo da AEE, Hans Bruyninckx
abio Martins/Futura Press
MORTALIDADE: na cidade de São Paulo, morrem mais pessoas (4.000) em decorrência da poluição do que por acidentes de trânsito (1.556), quase 3 vezes e meia mais do que por câncer de mama (1.277) e 4,5 vezes mais que de Aids (874) ou câncer de próstata (828). São 7.000 mortes ao ano prematuras na região metropolitana e 4.000 na capital. Os dados fazem parte da pesquisa "Avaliação do impacto da poluição atmosférica sob a visão da saúde no Estado de São Paulo", divulgada em setembro de 2013 pelo Instituto Saúde e Sustentabilidade
Renato S. Cerqueira/Futura Press/Estadão Conteúdo
MORTALIDADE: o estudo (Avaliação do impacto da poluição atmosférica sob a visão da saúde no Estado de São Paulo) sobre a relação entre mortes, adoecimento e a poluição neste Estado foi realizado com informações obtidas entre os anos de 2006 e 2011, e utilizou como base a análise do poluente PM 2,5 (material poluente particulado que mais afeta a saúde)
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MORTALIDADE: a pesquisa "Avaliação do impacto da poluição atmosférica sob a visão da saúde no Estado de São Paulo" avaliou a situação ambiental da poluição e seus efeitos sobre a saúde de duas maneiras: mortalidade atribuível e o Daly (Disability Adjusted Life Years, que possui dois componentes: o número de anos perdidos por morte precoce e o de anos de vida vividos com incapacidade), um parâmetro criado pela OMS para indicar a carga de dano de doenças no mundo. Essa medida não mostra apenas a mortalidade, mas também a perda de qualidade de vida por doenças respiratórias, cardiovasculares e câncer de pulmão, atribuíveis à poluição atmosférica, especificamente o poluente material particulado, objeto do estudo
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EM CASA: quem pensa que, ao entrar em casa, no escritório ou em um consultório se livra da poluição está muito enganado. Paredes e janelas não conseguem manter o ar saudável. Com um aparelho do Laboratório de Poluição Atmosférica da Universidade de São Paulo (USP), uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo visitou ambientes internos de dez pontos da capital paulista e constatou a presença de partículas inaláveis em índices até 392% superiores ao recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Poeira fina formada em até 80% pela queima de combustíveis, esse material particulado é um dos principais poluentes da cidade. As partículas ficam em suspensão no ar - especialmente em dias secos e frios - e circulam normalmente em ambientes internos, o que colabora para a sensação de que um piso que acabou de ser limpo, por exemplo, fique imediatamente sujo. Além disso, penetram pelo nariz e chegam ao pulmão e ao sangue, aumentando o risco de doenças. Em duas medições internas, os resultados foram maiores do que o das vias. Para o professor Paulo Saldiva, coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica da USP, os índices achados pelo Estado são absurdos para uma cidade como São Paulo. "Avenidas de Nova York e Boston não são tão poluídas quanto ambientes internos aqui", afirma
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APENDICITE: de acordo com um estudo publicado online no periódico "Environmental Health Perspectives" em julho de 2013, a poluição do ar aumenta ligeiramente o risco de apendicite. Pesquisadores estudaram 35.811 pacientes internados com apendicite em 12 cidades canadenses de 2004 a 2008. Eles usaram dados de dispositivos de monitoramento da qualidade do ar dessas cidades para calcular a concentração máxima de ozônio diária. Esse componente natural da atmosfera superior da Terra torna-se perigoso quando atinge certas concentrações no nível do solo. Estudos em camundongos demonstraram que a poluição do ar pode alterar bactérias presentes no abdêmen desses animais. "A poluição do ar talvez aumente o risco de desenvolver o tipo mais perigoso de apendicite", afirmou o Dr. Gilaad G. Kaplan, principal autor do estudo e professor adjunto de medicina da Universidade de Calgary, no Canadá
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BAIXO PESO: estudo descobriu que mesmo níveis relativamente baixos de poluição do ar estão associados a um aumento significativo do risco de nascimentos de crianças com baixo peso. Pesquisadores europeus reuniram dados de 14 estudos que incluíam mais de 74 mil mães de 12 países e seus filhos. Os cientistas também estimaram as concentrações de material particulado no ar dentro da residência da mãe durante a gestação. "Temos evidências de estudos com animais de que partículas diminutas entram na corrente sanguínea e chegam ao feto", afirmou Rémy Slama, autor sênior do estudo e pesquisador sênior do Instituto de Pesquisas Médicas e da Saúde de Grenoble, na França. "Podemos esperar outros impactos sobre a saúde dessas crianças? Existem indícios de que sim, o peso baixo ao nascer é um marcador de impactos negativos na idade adulta", afirmou
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AUTISMO: mulheres grávidas que estiveram expostas a altos níveis de ar poluído têm duas vezes mais possibilidades de dar à luz a uma criança autista do que as que moraram em áreas com baixa contaminação do ar, segundo um estudo da Universidade de Harvard. De acordo com os especialistas, este é o primeiro estudo nacional que examina a ligação entre a poluição e o desenvolvimento desta condição. A pesquisa foi publicada na revista "Environmental Health Perspectives" e foi iniciada em 1989. Foram pesquisadas 116.430 mulheres. Para a análise, foram selecionadas 325 mulheres, que tiveram um bebê autista e 22.000 que tiveram um filho não afetado por este fenômeno patológico
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DEFEITOS CONGÊNITOS: exposição à poluição do ar proveniente do tráfego nos dois primeiros meses de gestação aumenta de forma acentuada o risco de defeitos congênitos. Pesquisadores usaram dados de dois estudos extensos realizados em oito condados do Vale de San Joaquim, na Califórnia. Um dos estudos analisou os defeitos congênitos registrados a partir de 1997 e o outro registrou as concentrações de dióxido de nitrogênio, óxido de nitrogênio, monóxido de carbono e material particulado de 20 pontos diferentes do vale a partir dos anos 1970. Os resultados foram publicados online no periódico "The American Journal of Epidemiology" em abril de 2013. Amy M. Padula, principal autora do estudo e pesquisadora de pós-doutorado da Universidade Stanford, reconheceu que algumas associações podem acontecer por acaso quando muitas variáveis são analisadas. "Esses resultados precisam ser considerados dentro de um contexto", afirmou. "São necessários mais estudos para confirmar essas associações antes de fornecermos alguma recomendação clínica às gestantes"
Laura Rauch/AFP
INFERTILIDADE: poluentes químicos jogados nos rios do Reino Unido estão afetando seriamente a reprodução das lontras, indica longo estudo feito na Universidade de Cardiff, na Inglaterra. Biólogos detectaram aumento de cistos no canal que carrega o esperma, má formação nos testículos, além da diminuição do tamanho dos pênis dos machos. A pesquisa sugere que os problemas detectados na espécie pode afetar também a saúde sexual dos homens, causando a redução da contagem de esperma, tumores nos testículos e até impotência. "Os efeitos reportados nas lontras podem ser causados pelos mesmos produtos químicos suspeitos de causar câncer nos testículos e redução da contagem de esperma de humanos, o que afeta a reprodução masculina", ressalta comunicado do projeto de Lontras da Universidade
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INFERTILIDADE: pesquisa realizada pela Universidade de Pisa, divulgada em 2008, analisou 10 mil homens durante 30 anos e verificou que houve uma diminuição no número de espermatozoides, principalmente entre os que vivem em grandes centros urbanos e zonas mais poluídas. O estudo, realizado pelo Departamento de Andrologia da universidade, examinou homens jovens e saudáveis, com idade média de 29 anos, de várias regiões da Itália. Os resultados mostraram que a quantidade de espermatozoides contidos em um mililitro de esperma diminuiu nos últimos 30 anos, passando de 71 milhões para 60 milhões. A conclusão é a de que nos grandes centros urbanos, em áreas poluídas por lixo industrial ou em algumas zonas agrícolas onde são usados pesticidas, os espermatozoides são 20% menos velozes do que em cidades pequenas
Carlos Eduardo Ferreira/BBC
INFERTILIDADE: descartar de forma irregular remédios pela rede de esgoto está fazendo com que peixes masculinos percam a capacidade de fecundar óvulos e, em casos mais graves, até desenvolvam ovas, uma característica feminina. Essa foi a constatação do professor do Instituto de Química da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Wilson Jardim, após uma pesquisa no rio Atibaia, que abastece 90% da cidade de Campinas, interior de São Paulo. O estudo foi divulgado em janeiro de 2013. Já em relação aos humanos, há indícios de que contaminantes como hormônios naturais e sintéticos, como o estrógeno, podem provocar mudanças no sistema endócrino de homens e mulheres. Uma hipótese, que carece de maiores estudos, considera que esse tipo de contaminação poderia estar contribuindo para que a menarca (primeira menstruação) ocorra cada vez mais cedo entre as meninas
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RINITE: poluição e manutenção inadequada dos aparelhos de ar condicionado colocaram a rinite alérgica no topo do ranking das doenças mais comuns no mundo corporativo, de acordo com pesquisa realizada pela operadora de saúde Omint. A operadora avaliou 15 mil profissionais, entre média gerência e alto escalão, de grandes companhias com atuação no Brasil e 28,97% deles foram diagnosticados com a doença. Em seguida estão a alergia de pele (22,41%), dor no pescoço ou nos ombros (19,36%) e profissionais com excesso de peso (18,42%). Completam a lista dor de cabeça frequente (16,50%), ansiedade (18,19%), asma ou bronquite (13,47%), insônia (10,83%), colesterol alto (11,53%) e dor crônica nas costas (8,52%)
Thomas Samson/AFP
LONGEVIDADE: doenças associadas ao ambiente como poluição, ruídos do tráfego e precárias condições de habitação causam a morte de um em cada cinco cidadãos na Europa. Num estudo, divulgado em fevereiro de 2013 em Bonn, na Alemanha, a Organização Mundial da Saúde informou que problemas gerados somente pela poluição podem levar a uma redução de 8 meses na expectativa de vida dos europeus
Jan Woitas/EFE
AUDIÇÃO: outra preocupação dos especialistas que realizaram o estudo para a OMS na Europa são os níveis de ruído do tráfego. Além disso, anualmente, 100 mil pessoas morrem naquele continente por causa de condições inadequadas de moradia. Nos novos países da União Europeia, 7 milhões de pessoas não têm banheira ou chuveiro em casa. Durante o inverno, 16 milhões de europeus passam frio por não ter recursos para aquecer suas casas
Leandro Moraes/ UOL
INTOXICAÇÃO: Maria Neira, diretora de Saúde Pública e do Meio Ambiente da Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou sobre a morte, a intoxicação e o tratamento de centenas de milhares de crianças por causa da exposição a tintas com chumbo, em outubro de 2013. Em declarações à Rádio ONU, de Genebra, ela abordou o impacto dos problemas irreversíveis causados aos menores que, na sua maioria, vivem em países em desenvolvimento
Grzegorz Michalowski/Efe
PESTICIDAS: testes realizados para o estudo do Greenpeace "Ervas chinesas: elixir da saúde ou coquetel de pesticidas?", divulgado em junho de 2013, abordavam os efeitos nocivos da indústria agropecuária chinesa de larga escala e mostrou que alguns níveis de resíduos de pesticidades superaram em centenas de vezes os padrões de segurança da União Europeia. As ervas da medicina tradicional chinesa estavam contaminadas por um coquetel tóxico de pesticidas, que representam um risco à saúde do consumidor e ao meio ambiente
Getty Images/iStockphoto
PESTICIDAS: "As ervas chinesas são usadas como ingredientes alimentares para fins curativos por milhões de pessoas em todo o mundo. São parte simbólica do nosso patrimônio que precisamos preservar. As ervas chinesas devem curar e não prejudicar as pessoas e devem ser livres de pesticidas", afirmou o ativista de agricultura ecológica do Greenpeace, Jing Wang. Para ele, os resultados expõem as falhas do atual sistema de agricultura industrial, que é "amplamente dependente de produtos químicos às custas da saúde humana e ambiental", completou acrescentou.
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PESTICIDAS: mais de 1.700 pessoas em todo o Japão afirmaram ter ficado doentes por consumir alimentos congelados contaminados com pesticidas, em janeiro de 2014. A quantidade de pesticida medida nos produtos afetados é tão alta que levantou a suspeita de uma introdução deliberada de Malathion, um inseticida utilizado na agricultura e de fácil acesso