Vacina da febre amarela é mortal? Quem não toma fica desprotegido? Entenda
“A vacina contra a febre amarela é perigosa? Quem está gripado e com febre, deve evitar? Mas se eu não posso tomar, ficarei desprotegido? Devo vacinar meus filhos?” Ao mesmo tempo que o surto de febre amarela em São Paulo causou preocupação e corrida aos postos de vacinação, as possíveis, mas raras, reações adversas à vacina têm alarmado algumas pessoas e levantado uma série de dúvidas.
Nos últimos dias, vieram à tona histórias como a de uma criança de 3 anos que morreu após tomar a vacina e a de um jovem de 14 anos que faleceu com suspeita de leucemia e reação à dose. Contudo, nenhum dos casos teve diagnóstico conclusivo. E os sintomas que os pacientes tiveram podem estar associados a diversas outras causas.
Ao mesmo tempo que milhares de pessoas estão sendo vacinadas, mortes por diferentes motivos continuam ocorrendo, o que pode levar a associações equivocadas. "Toda vez que se faz uma campanha de vacinação, seja ela qual for, quando morre alguém, as pessoas fazem uma relação temporal com a vacina. Mas não significa que a morte foi causada pela vacina", diz Alfredo Gilio, pediatra e coordenador da clínica de imunização do Hospital Israelita Albert Einstein.
Isso posto, é importante atentar para as contraindicações relacionadas à vacina e os cuidados que devem ser tomados no momento da vacinação (veja lista abaixo). “O perigo de casos [de alarmismo] é matar a campanha. Quem tem indicação, precisa se vacinar para evitar a doença”, diz Gilio.
Chance de morte em acidente de trânsito é 32 vezes maior
Em geral, a vacina contra a febre amarela é considerada segura. Reações adversas são bastante raras. Elas podem ocorrer devido ao fato da vacina ser feita com um vírus vivo atenuado. A dose desperta nosso sistema imunológico, que cria defesas contra a doença. Reações locais, como vermelhidão e inchaço, são mais comuns. Em pessoas frágeis e que possuem alguma incompatibilidade genética, a aplicação da vacina pode induzir quadros mais graves.
Uma das possíveis reações indesejadas é a doença viscerotrópica, quando o vírus atenuado da vacina começa a se replicar no organismo. Ela ocorre na proporção de 1 a cada 400 mil pessoas vacinadas. Comparando com outra causa de morte, há 32 vezes mais chances de morrer vítima de acidente de trânsito na cidade de São Paulo, que possui índices considerados seguros em comparação com o restante do país (8 mortes no trânsito por 100 mil habitantes, contra 23 a cada 100 mil no Brasil).
A vacina da febre amarela não é a única que pode causar reações adversas. A vacina da poliomielite, por exemplo, também pode induzir quadros graves, mas em índice bem mais baixo. No Brasil, é registrado 1 caso de paralisia infantil causada pela vacina a cada cerca de 5 milhões de doses de gotinhas ministradas em crianças.
“A vacina da febre amarela é utilizada há muito tempo e faz parte da rotina de vacinação infantil nas regiões endêmicas do país“, diz Celso Granato, infectologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e do Fleury Medicina e Saúde. Vinte estados brasileiros possuem indicação para vacinação contra febre amarela. Essa área inclui agora todo o Estado de São Paulo.
Quem não pode se vacinar não fica desprotegido
Pessoas que possuem qualquer característica ou problema que reduza as defesas do organismo não devem tomar a vacina. Estão nesse grupo bebês recém-nascidos e pessoas muito idosas, por exemplo. E também quem possui doenças que debilitam o sistema imunológico, como câncer e o vírus do HIV, ou que tomam medicamentos que interferem nas defesas do corpo, como corticoides.
Mas não significa que essas pessoas ficarão desprotegidas durante e após o surto de febre amarela. “Ela vai ser beneficiada de qualquer forma pela campanha. Quando há uma massa de gente vacinada, o vírus não circula na população”, explica Granato.
O infectologista chama a atenção para o fato do surto atual estar ocorrendo em localidades onde a cobertura vacinal estava baixa, com menos da metade da população vacinada. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), para evitar a transmissão da doença numa região com um surto de febre amarela, é importante vacinar 80% ou mais da população.
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No caso de um surto como o que ocorre em São Paulo, as áreas de maior risco são aquelas próximas a locais onde foi registrado caso da doença em macacos ou humanos, como no município de Mairiporã, no Horto Florestal e na região do zoológico. Na cidade, a campanha de vacinação está ocorrendo na zona norte e em alguns bairros das zonas oeste, sul e leste. A vacina deverá ser oferecida a todos os paulistanos até o fim do semestre.
Veja abaixo cuidados a serem tomados durante a vacinação. Especialistas consultados: Alfredo Gilio, pediatra e coordenador da clínica de imunização do Hospital Israelita Albert Einstein e Celso Granato, infectologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e do Fleury Medicina e Saúde.
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Crianças com menos de seis meses não podem ser vacinadas
Bebês de menos de 6 meses, que não possuem o sistema imunológico desenvolvido, não podem tomar a vacina.
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Entre 6 e 9 meses, o ideal é não vacinar
Entre seis e nove meses, o ideal é não vacinar. O sistema imunológico ainda está se desenvolvendo nessa fase. Mas quando o bebê vive em região onde há grande chance de transmissão da febre amarela, é possível aplicar a dose após avaliação da relação entre risco e benefício da vacina.
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Podem se vacinar quem tem de 9 meses até 59 anos
A partir dos 9 e até 59 anos, todas as pessoas podem tomar a vacina. A não ser que, por qualquer motivo, a pessoa tenha alterações no sistema imunológico que enfraquecem a defesa do organismo.
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A imunossenescência a partir dos 60 anos
Se nos primeiros meses de vida as defesas do corpo ainda não estão desenvolvidas, a partir dos 60 anos ocorre o contrário: o enfraquecimento gradual do sistema imunológico associado à velhice. É o que é chamado de imunossenescência. Após os 80, a imunidade pode estar ainda mais frágil. É necessário que um médico avalie se o idoso possui condições de se vacinar.
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Quem não pode tomar a vacina?
Não podem tomar a vacina quem vive com HIV e tem contagem de células CD4 menor que 350, quem está em tratamento com quimioterapia ou radioterapia, quem é portador de doença autoimune e quem está em tratamento com imunossupressores. Também não podem tomar a vacina mulheres amamentando crianças menores de 6 meses.
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Quem precisa passar por consulta médica?
Idosos a partir de 60 anos, gestantes, quem terminou tratamento com quimioterapia ou radioterapia, quem é portador de doença renal, hepática ou no sangue e quem faz uso de corticoide precisa passar por consulta médica antes de tomar a vacina.
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Quem está com gripe ou febre pode se vacinar?
Quem está com gripe ou febre, é preciso esperar o organismo se recuperar para tomar a vacina. São dois os motivos. O primeiro é que a febre causada pela gripe pode ser confundida com uma reação à vacina. O segundo é que quando estamos gripados, nosso organismo produz substâncias que podem cortar o efeito da vacina e inviabilizar a imunização. Ou seja, a vacina pode falhar e não garantir a proteção.
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Nariz escorrendo e tosse impede vacina?
Quem está com sintomas leves de resfriado, como coriza, tosse ou nariz escorrendo, não precisa se preocupar e pode tomar a vacina normalmente. O mesmo vale para crianças que estão com cólicas leves. Contudo, a vacinação poderia ser postergada em casos assim para evitar um duplo desconforto em crianças pequenas.
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Pode ocorrer inchaço e vermelhidão no braço
Cerca de 4% das pessoas que tomam a vacina tem reações locais, como vermelhidão e inchaço no braço. Isso pode ocorrer entre 24 e 48 horas após a vacinação. Nesses casos, é recomendado fazer compressa de água fria no local da aplicação da vacina.
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Quem tem anemia e traço falciforme pode se vacinar?
Muitas pessoas no Brasil possuem o chamado traço falciforme, que é a presença de apenas um dos genes que causam a anemia falciforme. Essas pessoas não desenvolvem a doença e podem ser vacinadas normalmente. Quem possui a anemia falciforme, doença grave que provoca deformação nas moléculas de hemoglobina do sangue, não pode ser vacinado. Leia mais
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Quando a vacina causa febre e dores
Entre 3 e 7 dias após a vacinação, também pode ocorrer reações mais fortes à vacina, como febre e dor no corpo. Igualmente, cerca de 4% dos vacinados têm esse tipo de reação. Em crianças pequenas, é possível perceber que há dor quando se queixam ao levantar os braços ou dobrar as pernas.
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Pode dar analgésico e antitérmico em caso de dor e febre?
Em caso de febre, dor de cabeça e dores no corpo, a pessoa pode tomar analgésicos e antitérmicos para aliviar a dor e baixar a temperatura do corpo. A febre causada por reação à vacina não costuma ser muito alta.
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Quando levar ao médico?
Se dor e febre persistem por mais de três dias, é preciso procurar um médico ou pediatra. Até porque qualquer outro problema pode estar causando a febre, e a pessoa precisa ser avaliada. Não adianta ir a um posto que esteja apenas aplicando a vacina.
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O que o médico poderá fazer em casos adversos?
Não existe um tratamento específico nem para a febre amarela, nem para reações à vacina. Contudo, quem apresenta reações que podem exigir maior cuidado, poderá ser melhor observada e acompanhada quando recebe atendimento médico.
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A fracionada possui efeitos diferentes?
A vacina fracionada, composta por 1/5 da dose integral, não pode ser dada para quem tem menos de 2 anos de idade. Isso porque não existem pesquisas que indiquem se ela seria eficaz nessa faixa etária. Para quem tem mais de 2 anos e pode tomar a dose fracionada, ela tem o mesmo efeito da dose integral, com a única diferença de que protege por ao menos 8 anos, e não pela vida toda.
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Casos graves podem ocorrer após quantos dias?
Quadros mais graves, como efeitos neurológicos e a doença viscerotrópica, podem ocorrer entre uma e três semanas após a vacinação. A doença neurológica é caracterizada por confusão metal, quadro de meningite, inflamação do cérebro e Síndrome de Guillain-Barre, que levam a convulsões. Já a doença viscerotrópica aguda manifesta os mesmos sintomas da febre amarela, com possibilidade de falência do fígado e do rim.
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