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Mundo se prepara para pós-pandemia com esperança na eficácia das vacinas

Vacina da Universidade de Oxford, desenvolvida em parceria com a AstraZeneca, é uma das que apresentou bons resultados - Lidianne Andrade/MyPhoto Press/Estadão Conteúdo
Vacina da Universidade de Oxford, desenvolvida em parceria com a AstraZeneca, é uma das que apresentou bons resultados Imagem: Lidianne Andrade/MyPhoto Press/Estadão Conteúdo

24/11/2020 09h58

Os anúncios de elevada eficácia de várias vacinas em testes, o mais recente deles nesta terça-feira pela Rússia, aumentam as esperanças e países como a França se preparam para suspender restrições planejar o cenário pós-pandemia, no qual ter sido vacinado pode ser obrigatório para entrar em um avião.

A Sputnik V, vacina contra a covid-19 desenvolvida pelo Centro de Pesquisas Gamaleya de Moscou, tem eficácia de 95%, anunciou o instituto.

Estes são resultados preliminares obtidos com voluntários 42 dias após a aplicação da primeira dose, afirma um comunicado conjunto do centro Gamaleya, ministério russo da Saúde e do Fundo Soberano russo envolvido no desenvolvimento da vacina.

O grupo farmacêutico AstraZeneca e a Universidade de Oxford anunciaram na segunda-feira uma vacina com eficácia média de 70% após os testes em 23.000 pessoas.

Na semana passada, duas vacinas, um projeto conjunto da americana Pfizer com a alemã BioNTech e outra da americana Moderna, anunciaram eficácia de mais de 90%.

Ao contrário das três vacinas, o projeto russo não realizou testes clínicos em larga escala e alguns cientistas ocidentais expressam inquietação, com a advertência de que queimar etapas de modo muito rápido pode ser perigoso.

As esperanças depositadas nas vacinas contra a covid-19 representam um alívio aos cidadãos cansados do vírus em todo o planeta, mas a doença continua endêmica e os governos pedem paciência.

O presidente francês, Emmanuel Macron, discursará nesta terça-feira à noite ao país, atualmente confinado, para anunciar mudanças nas restrições após a queda do número de infecções.

O aguardado discurso de Macron acontecerá um dia depois da declaração do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, de que graças aos avanços nas vacinas "se vislumbra a saída" da pandemia. Johnson afirmou que, apesar de a "cavalaria científica" estar chegando, "o Natal não será normal este ano" e resta um longo caminho até primavera (hemisfério norte).

O mundo enfrenta uma pandemia sem precedentes, que derrubou a economia e infectou 58,9 milhões de pessoas, com quase 1,4 milhão de mortos.

Vacinas para voar

O diretor geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou que os avanços mais recentes jogam luz no fim do "longo túnel escuro", mas advertiu que é necessário garantir que as vacinas serão distribuídas de maneira justa.

"Todo governo deseja, com razão, fazer todo o possível para proteger sua população. Mas agora existe um risco real de que os mais pobres e vulneráveis sejam pisoteados no estampido pelas vacinas", completou.

No mundo pós-pandemia, a vacina pode ser obrigatória para poder viajar livremente, como demonstra o anúncio da companhia aérea australiana Qantas de que os passageiros internacionais terão que comprovar a vacinação contra covid-19 para embarcar em seus aviões.

O CEO da Qantas, Alan Joyce, disse que a medida será implementada quando a vacina estiver disponível. "Sem dúvida, para os visitantes estrangeiros que vêm (à Austrália) e para as pessoas que deixam o país acreditamos que é uma necessidade", afirmou.

Joyce prevê que a norma deve se tornar algo geral em todo o mundo à medida que governos e companhias aéreas estudam a introdução de passaportes eletrônicos de vacinação.

Outras companhias, como a Korean Air e a Japan Airlines, afirmaram que é muito cedo para adotar a medida.

Após o anúncio da Qantas, o ministro da Saúde da Austrália, Greg Hunt, disse que "ainda não foi tomada uma decisão final", mas que a vacinação ou uma quarentena estrita de duas semanas seriam possíveis condições para entrar no país.

O estado australiano de Victoria anunciou que seu último paciente com covid-19 foi caro, um fato importante na região que foi o epicentro da segunda onda no país.

Na China, onde o vírus foi detectado pela primeira vez no fim do ano passado, centenas de voos foram cancelados no aeroporto Pudong de Xangai após a detecção de um pequeno foco de casos relacionados com funcionários do transporte de cargas.

Em Hong Kong as autoridades reforçaram as medidas de distanciamento social após um aumento de infecções, com o fechamento de bares, pubs, salões de festas e casas noturnas.

Estados Unidos, país mais afetado do mundo pela pandemia, celebra o Dia de Ação de Graças na quinta-feira e muitos americanos planejam passar o feriado em família, apesar do risco de agravar os contágios.

Quase 258.000 pessoas morreram no país e o número de casos se aproxima de 12,4 milhões, de acordo com a Universidade Johns Hopkins.

Pela primeira vez, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) pediram aos americanos que evitem viajar durante o feriado, quando as famílias costumam se reunir.

O último fim de semana foi o mais intenso desde o início da pandemia, com mais de três milhões de pessoas nos aeroportos do país, segundo a Administração de Segurança do Transporte.

"Nossas súplicas de ajuda caíram em ouvidos surdos egoístas", tuitou Cleavon Gilman, médico do serviço de emergência no Arizona, onde os hospitais estão "lotados" com pacientes de covid-19.