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Comediantes têm 'altos níveis de traços psicóticos', diz pesquisa

17/01/2014 09h40

Comediantes têm traços de personalidade ligados à psicose, assim como outras pessoas criativas - e essa pode ser uma da razão pela qual eles são tão divertidos, indica uma pesquisa realizada na Universidade de Oxford e publicada no British Journal of Psychiatry.

Sua pontuação foi alta na medição de características que, em casos extremos, são associadas a doenças mentais. E, surpreendentemente, apresentam altos níveis tanto de introversão quanto de extroversão.

Os pesquisadores explicam que os elementos criativos necessários para o humor são similares aos traços observados em pessoas com psicose.

A pesquisa envolveu 523 comediantes (404 homens e 119 mulheres) do Reino Unido, EUA e Austrália. Eles responderam um questionário online, criado para medir traços psicóticos em pessoas saudáveis.

Foram medidos quatro aspectos: 1) experiências incomuns (crença em telepatia e eventos paranormais); 2) desorganização cognitiva (distração e dificuldade em se concentrar); 3) anedonia introvertida (habilidade reduzida de sentir prazer físico e social); e 4) não-conformidade impulsiva (tendência a comportamentos impulsivos e antissociais).

O questionário também foi preenchido por 364 atores - outra profissão que envolve performance - como grupo de controle, e por outras 831 pessoas que trabalham em áreas não-criativas.

Os comediantes pontuaram significativamente mais do que o grupo geral, em todos os tipos de traços de personalidade psicótica. Apresentaram níveis particularmente altos tanto em traços de personalidade extrovertida e introvertida.

Os atores pontuaram mais que o grupo geral em três dos quatro tipos - mas não no aspecto introvertido.

Entreter

Os estudiosos acreditam que essa estrutura incomum de personalidade pode ajudar a explicar a habilidade dos comediantes em entreter.

"Os elementos criativos necessários para produzir humor são incrivelmente similares aos que caracterizam o estilo cognitivo de pessoas com psicose - a esquizofrenia e a bipolaridade", diz Gordon Claridge, professor do Departamento de Psicologia Experimental da Universidade de Oxford.

Ainda que a psicose esquizofrênica em si prejudique o senso de humor, em uma forma mais branda ela pode aumentar a habilidade da pessoa em associar coisas estranhas ou "pensar fora da caixa", prossegue Claridge.

E traços similares à bipolaridade pode ajudar pessoas a combinar ideias para formar conexões novas e engraçadas.

"Comediantes tendem a ser levemente introvertidos, que nem sempre querem socializar, e sua comédia é quase uma válvula de escape para isso", diz Claridge à BBC.

Para Paul Jenkins, presidente da entidade Rethink Mental Illness, as descobertas são interessantes, mas é preciso ficar atento para não reforçar o "estereótipo do gênio criativo louco".

"Doenças mentais como esquizofrenia podem afetar qualquer pessoa, seja ela criativa ou não. Nosso entendimento sobre doenças mentais ainda é deficiente, e precisamos de mais pesquisas nessa área".