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Menina de 8 anos luta contra raro tipo de câncer de mama nos EUA

A campanha para ajudar Chryssie já arrecadou mais de US$ 50 mil  - Chrissy Alliance
A campanha para ajudar Chryssie já arrecadou mais de US$ 50 mil Imagem: Chrissy Alliance

Alessandra Corrêa

De Winston-Salem (EUA) para a BBC Brasil

27/11/2015 09h16

O caso de uma menina de oito anos diagnosticada com um tipo raro de câncer de mama vem intrigando médicos e provocando uma campanha de solidariedade nos Estados Unidos.

A pouca idade de Chrissy Turner, que mora na cidade de Centerville, no Estado de Utah, já seria suficiente para fazer dela uma paciente incomum quando se trata de câncer de mama. Mas além disso, a forma da doença que ela desenvolveu, chamada de carcinoma secretor, é raramente encontrada mesmo em adultos.

Acredita-se que Chrissy seja uma das pacientes mais jovens no mundo a receber esse diagnóstico.

"O caso de Chrissy é muito, muito raro", disse à BBC Brasil seu médico, Brian Bucher, cirurgião pediatra do Primary Children's Hospital, no Estado de Utah.

Choque

Mesmo em adultos, o carcinoma secretor responde por menos de 0,15% dos cânceres de mama. Em crianças, é mais raro ainda.

"Quando se olha a literatura médica, você talvez encontre um ou dois casos (de crianças com essa doença) em um período de 20 ou 30 anos", afirma o médico.

Segundo Bucher, a paciente mais jovem já diagnosticada com a doença foi uma menina de três anos de idade.

O diagnóstico de Chrissy veio no mês passado, depois que a descoberta de um caroço no peito da menina levou a uma bateria de exames.

"Eu fiquei um pouco assustada ao descobrir o que era", disse Chrissy em entrevista ao canal de TV ABC.

"Foi um choque muito grande", desabafou sua mãe, Annette. "Nenhuma criança deveria ter de enfrentar um câncer."

Nas próximas semanas, a menina será submetida a uma mastectomia. "Vamos remover todo o tecido mamário remanescente", disse Bucher à BBC Brasil.

O médico afirma que o prognóstico é positivo.

"De acordo com relatos na literatura médica, a maioria das crianças com esse tipo de câncer se recuperou bem. É definitivamente curável", salienta.

Campanha

O drama da família é agravado pelo fato de Annette e o marido, Troy, também já terem lutado contra o câncer.

Ela se recuperou de um câncer de colo do útero. Troy enfrenta o retorno de um linfoma não-hodgkin, diagnosticado inicialmente em 2008.

Comovidos com a situação enfrentada pelos Turner, amigos da família lançaram uma página no Facebook e uma campanha no site de financiamento coletivo GoFundMe para ajudar nas despesas médicas.

"Chrissy está prestes a entrar na maior luta de sua vida, e a família Turner precisa de toda a ajuda que conseguir", escreveu a autora da campanha, Melissa Papaj.

A amiga lembra que a família ainda sofre para pagar as despesas médicas do tratamento de Troy, um veterano militar.

Em sete dias, a campanha já arrecadou mais de US$ 50 mil e mensagens de apoio de várias partes do mundo.

Raridade

Apesar da comoção causada pelo caso de Chrissy, médicos salientam que cânceres de mama são raríssimos em crianças e não há motivo para pânico entre os pais.

"Antes de Chrissy, eu nunca havia visto outro caso de câncer de mama em uma criança tão jovem", ressalta Bucher.

"Vejo muitas crianças com massa mamária e são quase sempre tumores benignos", afirma Bucher.

O presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, Ruffo de Freitas Junior, disse à BBC Brasil que a paciente mais jovem que já tratou tinha 17 anos.

Segundo o médico brasileiro, de maneira geral o câncer de mama se manifesta depois dos 20 anos de idade.

Chances

Há vários tipos e subtipos de câncer de mama, alguns mais agressivos que outros.

"Tumores menos agressivos costumam incidir em mulheres acima de 50 anos", diz Freitas Junior.

"Em mulheres mais jovens, eles costumam ser mais agressivos, principalmente abaixo dos 40 anos. De forma geral, são tumores que surgem em decorrência de alterações germinativas", observa.

"São erros herdados do pai ou da mãe, e como esse indivíduo já nasceu com esse erro, o corpo tem menos habilidade de se defender."

O médico brasileiro ressalta que vários fatores afetam as chances de cura, entre eles o estadiamento - o tamanho em que o tumor foi descoberto. Também deve ser considerada a presença ou ausência de proteínas.

Entre os tumores de bom prognóstico, Freitas Junior cita o carcinoma mucinoso, com cerca de 90% a 95% de chance de cura.

No caso de tumores metaplásicos, as chances de cura costumam girar entre 60% e 70%, diz.