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Os mistérios da menopausa que a ciência ainda não conseguiu resolver

As reações à menopausa podem variar de acordo com a cultura - Thinkstock
As reações à menopausa podem variar de acordo com a cultura Imagem: Thinkstock

Rose George

Da BBC News

24/01/2016 17h49

A ciência ainda não tem respostas para algumas questões básicas a respeito da menopausa: para que ela serve? Como funciona? Qual a melhor forma de tratamento?

Uma reportagem detalhada na revista especializada "Nature" afirma que "a vida útil dos ovários humanos está determinada por uma coleção de fatores genéticos, hormonais e ambientais completas e altamente não identificada".

Também é pouco o que se sabe sobre quando os ovários começam a falhar e os níveis de hormônio começam a flutuar.

Do ponto de vista biológico ou intelectual a menopausa também não faz muito sentido.

Em um livro lançado recentemente sobre a ecologia dos primatas é explicado que a "menopausa ainda é considerada uma característica distintiva dos humanos".

Vivemos muito além de nossa idade reprodutiva e, para ajudar a explicar as implicações deste fato existe a chamada "hipótese da avó".

Segundo este raciocínio as mulheres vivem muito além da idade reprodutiva pois sua presença beneficia os filhos e netos.

Comportamento diferente

Uma mulher pode nascer com mais de um milhão de óvulos em seus ovários. A cada mês um destes óvulos é liberado, um processo desencadeado pela liberação de hormônios, incluindo estrogênio.

Depois dos 40 anos, os ovários começam a excretar menos estrogênio e, citando a organização especializada em saúde feminina Women's Health Concern, isto faz com que o corpo se comporte de "uma forma diferente".

O corpo de cada mulher reage de uma forma diferente às mudanças dos níveis de estrogênio, dificultando certos diagnósticos de menopausa.

Para enfrentar os sintomas da menopausa médicos receitam de tudo para as mulheres - Thinkstock - Thinkstock
Para enfrentar os sintomas da menopausa médicos receitam de tudo para as mulheres
Imagem: Thinkstock

As diretrizes do Instituto Nacional para Saúde e Excelência do Cuidado (NICE, na sigla em inglês), um instituto do governo para a melhora da saúde e o cuidado social na Inglaterra e País de Gales, advertem contra qualquer outro procedimento que não seja a observação para o diagnóstico.

Durante a conferência anual da Sociedade Britânica de Menopausa foram revelados vários dados. Por exemplo: as doenças cardiovasculares são a causa de morte mais comum entre as mulheres, dez vezes mais que o câncer de mama, segundo o cardiologista Peter Collins.

Outro problema: são receitados muitos remédios e feitas muitas recomendações de forma irresponsável: lubrificantes vaginais, isoflavonóides, vitamina D e antidepressivos, vitaminas etc.

A mensagem espantosa passada durante a conferência foi consistente: um transtorno que afeta metade da população mundial está tristemente negligenciado.

Não há dados nem medicamentos suficientes. A falta de atenção em relação à menopausa e a saúde da mulher em geral sempre dificultou a vida de qualquer um que tente cuidar de uma mulher nesta fase.

Reposição hormonal

No começo do século 21 o tratamento para menopausa ficou ainda mais difícil.

Até 2002, era receitada às mulheres a terapia de reposição hormonal para ajudar a combater os sintomas da menopausa.

Para as mulheres que ainda tinham útero, a terapia era uma combinação de estrogênio e progesterona.

Mas um estudo publicado na Women's Health Initiative afirmava que esta terapia aumentava o risco de infarto, de acidente vascular cerebral, da criação de coágulos, de câncer e demência.

Meios de comunicação bombardearam as mulheres com a mensagem que a terapia de reposição hormonal era perigosa - apesar de que, desde então, já saíram vários estudos questionando os resultados da Women's Health Initiative e outras pesquisas parecidas.

Recentemente a Sociedade Britânica de Menopausa escreveu que, se este estudo tivesse sido publicado agora, teria tido "muito menos impacto na mulher pós-menopáusica".

Na clínica de tratamento da menopausa da especialista Julie Ayres, em Leeds, na Inglaterra, a maioria das pacientes chegam com ideias pré-concebidas.

"Elas dizem 'já sei que há risco de câncer de mama (na terapia de reposição hormonal)'", segundo a médica. Mas, a especialista afirma que elas estão tão desesperadas com os sintomas, que aceitam todos os tratamentos.

"Chegam com palpitações, ansiedade e ataques de pânico e acreditam que vão ficar loucas", acrescentou.

E o que ocorre, na verdade, é que estão sofrendo com o poder do estrogênio no corpo.

"Mas como têm palpitações, o médico de família não receita a terapia de reposição hormonal devido ao risco cardíaco."

Proteção

Na conferência da Sociedade Britânica de Menopausa o especialista em metabolismo John Stevenson, do Hospital Royal Brompton, apresentou um trabalho sobre o papel protetor que a terapia de reposição hormonal pode ter para o coração.

Segundo ele é "provavelmente o melhor tratamento apra as mulheres pós-menopáusicas".

Hoje existem outros tratamentos como o da terapia de hormônios bioidênticos, que usa estrogênio derivado de plantas como a soja e a batata, e a progesterona está micronizada, um processo que reduz o diâmetro das partículas sólidas.

O especialista Yehudi Gordon, que tem uma clínica de tratamento com hormônios bioidênticos em Londres, explica que estes fatores fazem com que este tipo de hormônio seja melhor processado para o corpo humano do que qualquer outro preparado convencional.

No entanto, atualmente não há nenhum controle ou regulamentação na produção, receitas e doses dos hormônios bioidênticos.

Críticas

A população de mulheres que sofrem com os sintomas da menopausa é imensa e não está sendo bem atendida.

Escritores como Louise Foxcroft e Roy Porter criticaram a medicalização de algo que é natural e inevitável na vida das mulheres.

Esta postura pode ser questionada por muitos médicos, profissionais de saúde e por muitas mulheres que estão passando por esta etapa da vida.

E, por isso, surgem dúvidas de como as mulheres na menopausa devem proceder.

O que se sabe é que as reações à menopausa podem variar de acordo com a cultura, dieta, o estilo de vida, a idade e a condição física da mulher.

Em vários lugares da Grã-Bretanha a estimativa é que aproximadamente 75% das mulheres na menopausa sofram com ondas de calor. Segundo as estimativas, o número das japonesas que afirmam sofrer com este mesmo problema é bem menor, uma em cada dez.

No entanto, durante uma visita ao Japão, a ginecologista e editora da revista especializada em terceira idade Maturitas, Margaret Rees, ouviu muitas mulheres que disseram que sofriam com as ondas de calor mas apenas não falavam a respeito.

Também há um componente cultural sobre a menopausa que pode distorcer as coisas: algumas depressões estão ligadas ao transtorno hormonal causado pela menopausa, mas algumas podem ocorrer devido ao desprezo das outras pessoas relatado por mulheres nesta fase da vida.

Contudo não há dúvida de que a população de mulheres que sofre com os sintomas da menopausa é imensa e não está sendo bem atendida.