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Provas a céu aberto e hipismo em bairro olímpico 'preocupam', diz chefe de combate ao Aedes no Rio

Parque de Deodoro, centro olímpico de hipismo preocupa autoridades em combate contra Aedes Aegypti - Antonio Lacerda / EFE
Parque de Deodoro, centro olímpico de hipismo preocupa autoridades em combate contra Aedes Aegypti Imagem: Antonio Lacerda / EFE

Jefferson Puff

Da BBC Brasil no Rio de Janeiro

26/01/2016 19h57Atualizada em 27/01/2016 09h24

O bairro de Deodoro, na Zona Norte do Rio de Janeiro, tem obras e instalações olímpicas com características que o tornam o núcleo de competições dos Jogos do Rio com as maiores dificuldades para o controle do mosquito Aedes aegypti, diz Marcus Vinicius Ferreira, coordenador de Vigilância Ambiental em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro.

Encarregado de chefiar os esforços de combate ao mosquito transmissor da dengue, chikungunya e zika vírus no Rio, ele diz que embora o chamado Índice de Infestação Predial (IIP) do bairro seja baixo, há uma série de fatores que elevam o nível de preocupação.

"O que mais me preocupa é a grande quantidade de obras ainda em curso no local, o fato de serem obras mais complexas do que as dos outros núcleos, e de que muitas instalações lá são a céu aberto, diferente da Barra, onde a maioria é coberta", indica, em referência a instalações como a pista de mountain bike, o estádio de canoagem slalom e o circuito de BMX, todos a céu aberto.

Ferreira ressalta que há outros motivos que tornam a região complicada, como as obras do BRT, muito próximas, as instalações militares no entorno e o centro de hipismo.

"Alguns dos piores lugares que eu tenho aqui no Rio para combater o mosquito são o colégio militar e o jóquei. Lugares com a presença de cavalos são complicadíssimos, por causa da água usada nas baias, que fica parada. Ou seja, é mais difícil controlar", explica.

Ele afirmou, no entanto, que todas as áreas olímpicas estão recebendo "atenção constante" e igual da prefeitura, independentemente dos desafios.

Ferreira conversou com a BBC Brasil nesta terça-feira, durante ação de controle do mosquito no sambódromo do Rio incluindo o "fumacê", dedetização com uma caminhonete e com agentes. Deve haver mais uma ação semelhante antes do Carnaval e outra entre os desfiles.

Números , 'bairros olímpicos' e alto risco

A pedido da BBC Brasil, o encarregado do combate ao mosquito Aedes aegypti no Rio informou o Índice de Infestação Predial dos quatro bairros que sediarão provas dos Jogos Olímpicos.

Ele explica que um IPI de 0,4%, por exemplo, representa que a cada mil casas inspecionadas, quatro mostraram presença do mosquito.

Quanto às escalas, ele explica que um índice de até 1% é considerado de "baixo risco", e um índice de até 3,9% é visto como de "médio risco" e quando a medição ultrapassa os 3,9% já é classificada como de "alto risco".

No bairro da Barra da Tijuca, onde estão localizados o Parque Olímpico e a Vila dos Atletas, além do centro de mídia, o IPI é de 0,4%. Em Copacabana, onde há várias provas de rua, o índice é de 0,4% numa parte do bairro e de 1% em outra (onde está localizado o Morro do Cantagalo). Já no Maracanã a medição está em 0,5% e em Deodoro o IPI é de 0,2%.

Ferreira também adiantou à BBC Brasil que a cidade tem atualmente duas regiões de "alto risco": nos bairros de Irajá, na Zona Norte, com IPI de 4,5%, e de Pechincha, na Zona Oeste, com índice de 4,4%.

Marcus Vinicius Ferreira disse que a Barra possui características que facilitam o controle do Aedes aegypti.

"Na Barra, os mangues, as áreas alagadas e a mata são habitados por outra espécie de mosquito, o Culex (pernilongo). Como o Aedes tende a preferir áreas de maior densidade populacional, não há tanta incidência (dele) na Barra", diz, acrescentando que no Parque Olímpico um dos focos do controle do Aedes será no centro de mídia, onde centenas de jornalistas transitarão diariamente.

Mas Mario Alberto Cardoso da Silva Neto, professor do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ que pesquisa o Aedes aegypti, afirma que há mais fatores a serem avaliados.

O especialista diz que é preciso levar em consideração que as áreas urbanizadas da Barra também podem trazer riscos e que "a distribuição do mosquito depende, sim, em áreas urbanizadas, da prevenção feita pelos cidadãos e pelas autoridades responsáveis".

Outro fator, segundo ele, é que "as obras do Parque Olímpico em si afetam o papel estrutural da área e eventualmente desalojam criadouros ou podem até criar outras áreas".

Exército, reforços e estrangeiros

Sobre as medidas de controle ao mosquito específicas com relação aos Jogos, adiantadas pela BBC Brasil no último fim de semana, Ferreira disse que a 30 dias do início das Olimpíadas uma medição da quantidade de mosquitos em cada local de competição definirá a necessidade de dedetizações com "fumacê".

"Posso mudar a minha estratégia de combate em cada um desses bairros devido aos resultados desta medição vetorial", diz.

Questionado sobre o anúncio do Ministério da Saúde, que prometeu enviar 220 mil homens das Forças Armadas a diversas cidades do país para combater o mosquito, Ferreira disse que o Rio não deve receber nenhum e que o contigente de 3,3 mil agentes de monitoramento cobre as necessidades da cidade.

"Não vamos receber, não precisamos. Temos até mais agentes do que o necessário. O que eu tenho aqui dá conta. Não teremos contratações, não há necessidade de reforço, nem mesmo durante os Jogos."

Apesar dos alertas das agências de saúde dos Estados Unidos, Canadá e União Europeia, que pediram a mulheres grávidas que evitem viajar ao Brasil e outros países da América Latina que enfrentam epidemias de zika vírus, e da atenção internacional que o assunto tem recebido, Ferreira disse que não vê problemas para a vinda de turistas estrangeiros para os Jogos.

"Na época da Olimpíada dificilmente teremos forte incidência do mosquito, até por conta do frio. Aqui no Rio, mesmo quando houve epidemia, os números foram menores nos meses de julho e agosto, quando serão realizados os Jogos", explica.

Para o especialista da UFRJ, o frio realmente tem um impacto na incidência do mosquito.

"Sim de fato, no inverno do Rio de Janeiro em geral o desenvolvimento da população de Aedes e sua distribuição são significativamente menores. Nesse caso a série histórica de temperaturas mais baixas sem dúvida será um fator positivo a favor de uma diminuição significativa na população de mosquitos e na eventual transmissão de arboviroses em julho e agosto", opina.

Questionado se será seguro para os turistas estrangeiros virem ao Brasil, o encarregado do combate ao mosquito diz: "Podem vir. Eu falei isso na Copa do Mundo e duvidaram de mim. Podem vir sim".