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Cientistas dos EUA alertam para pandemia de zika e cobram ação da OMS

28/01/2016 10h22

Cientistas americanos pediram à Organização Mundial de Saúde (OMS) que tomem medidas urgentes contra o zika que, segundo eles, têm um "potencial pandêmico explosivo".

Em um artigo publicado em uma revista médica eles citam as "lições aprendidas com a epidemia de ebola" para solicitar a convocação de um comitê de emergência reunindo especialistas na doença.

Escrevendo na revista Journal of the American Medical Association, Daniel Lucey e Lawrence Gostin afirmaram que o fato de a OMS não ter tomado providências logo no início da crise do ebola na África - há dois anos - provavelmente custou milhares de vidas.

Os pesquisadores dizem que a OMS "ainda não assumiu um papel de liderança na pandemia de zika", apesar de "as dimensões globais da zika estarem claras e de urgência renovada com a aproximação dos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro".

"Um Comitê de Emergência deve ser convocado urgentemente para aconselhar a diretora-geral (da OMS) a respeito das condições gerais necessárias para declarar uma Emergência Pública de Saúde de Preocupação Internacional", escreveram Lucey e Gostin.

"O próprio processo de convocar este comitê catalisará a atenção internacional, verbas e pesquisa", acrescentaram.

O porta-voz da Casa Branca Josh Earnest afirmou na quarta-feira que o governo dos Estados Unidos quer um esforço mais coordenado para esclarecer os cidadãos americanos sobre os riscos associados à doença.

Vacina

O vírus, que já se espalhou por ao menos 21 países das Américas, foi ligado a microcefalia em bebês, e 3,4 mil casos no Brasil estão sendo investigados pelo Ministério da Saúde. Há, segundo o órgão, 270 casos confirmados da má-formação.

Não há cura para o vírus. A busca por uma vacina já começou e está sendo liderada por cientistas da Universidade do Texas.

Cientistas americanos visitaram o Brasil para coletar amostras e as levaram para análise em um laboratório de alta segurança em Galveston, Texas.

O acesso ao laboratório é restrito, e é monitorado pela polícia e pelo FBI. Falando com a BBC dentro das instalações, Scott Weaver, diretor do Instituto de Infecções Humanas e Imunidade, afirmou que as pessoas estão certas em temer o vírus.

"Com certeza é um risco considerável e se a infecção do feto ocorrer e a microcefalia se desenvolver, não temos a capacidade de alterar o resultado daquilo que é uma doença muito ruim e que, às vezes, é fatal ou deixa crianças incapacitadas mentalmente para o resto da vida", afirmou.

O vírus foi descoberto em macacos em 1947 na Floresta Zika, em Uganda.

O primeiro caso humano foi registrado na Nigéria em 1954, mas, durante décadas, o zika não parecia ser uma grande ameaça e foi praticamente ignorado pela comunidade científica.

Foi apenas depois de um surto na ilha de Yap, na Micronésia, em 2007, que os pesquisadores começaram a se interessar pela doença.

Weaver diz que ano passado o vírus "explodiu", atingindo o Caribe e a América Latina, "provavelmente infectando alguns milhões de pessoas".

Os sintomas em adultos e crianças são parecidos com o da dengue, porém mais suaves: dores pelo corpo parecidas com as que ocorrem em casos de gripe, inflamação nos olhos, dores nas juntas e manchas vermelhas no corpo. Mas algumas pessoas não apresentam sintomas.