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Eutanásia: 'Suicídio assistido do meu marido ajudou outras pessoas, mas devastou minha vida'

Claire Williams - Do programa Victoria Derbyshire, da BBC

04/12/2018 16h36

Deborah Binner fala sobre como sentiu a decisão do marido de se submeter à eutanásia, poucos anos após uma das filhas ter morrido de câncer.

O marido de Deborah Binner, Simon, tinha 57 anos quando decidiu se submeter à eutanásia, a morte assistida por um médico, na Suíça.

O empresário britânico tomou a decisão após 10 meses vivendo com a doença dos neurônios motores, uma condição rara e sem cura que afeta o cérebro e os nervos.

Deborah respeitou a escolha do marido, mas disse ao programa da BBC Victoria Derbyshire que tal decisão devastou a sua vida.

"As pessoas diziam: 'Ele não fez uma coisa maravilhosa?' Mas eu tinha duas filhas que estavam despedaçadas", disse Deborah.

Simon viajou à Suíça para morrer em uma clínica da Fundação Espírito Eterno, em outubro de 2015.

Ele foi acompanhado da esposa e de uma equipe de filmagem.

O documentário da BBC resultante disso, How to Die: Simon's Choice (Como morrer: A escolha de Simon, em tradução livre), foi "a única coisa boa que saiu disso", diz Deborah.

"Ele tinha essa característica de ser altruísta, então, sentiu que mostrar sua história poderia ajudar muita gente", lembra ela.

"Eu fui e ainda sou bombardeada por cartas de pessoas dizendo que (assistir) foi muito útil e fez com que se sentissem menos sozinhas."

Deborah afirma que "a morte de Simon não foi ruim", mas questiona: "Quando você abre a porta (para a morte assistida), o que acontece depois?".

"Pessoas mais velhas solitárias, ou pessoas com muito dinheiro, sentem um fardo - e algo sobre o valor que damos à vida humana realmente me preocupa."

Vida ativa

Deborah descreve o marido como "um turbilhão de pessoa - engraçado e leal".

"Eu não queria que ele me deixasse", diz ela. "Ele era como uma rocha. Estava sempre do meu lado."

Uma de suas filhas, Chloe, morreu aos 18 anos, três anos antes de Simon. Ela tinha sarcoma de Ewing - um tipo de câncer ósseo.

"Simon foi diagnosticado porque teve uma sensação estranha na língua. Nós havíamos perdido Chloe um ano antes e eu não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Eu pensava, 'Por favor, Deus, que isso seja só um derrame'. Mesmo tendo perdido Chloe, eu não podia imaginar que mais alguma coisa pudesse acontecer à minha família."

A doença dos neurônios motores (MND, da sigla em inglês), também conhecida como esclerose lateral amiotrófica (ELA), é uma doença progressiva e incurável, que prejudica a função dos nervos e dos músculos, resultando em graves danos ao cérebro e à medula espinhal.

Segundo informações do Ministério da Saúde do Brasil, trata-se de uma das principais doenças neurodegenerativas, ao lado da doença de Parkinson e Alzheimer.

Sua incidência na população varia de 0.6 a 2.6 casos por 100 mil habitantes, sendo mais prevalente em pacientes entre 55 e 75 anos de idade. "A sobrevida média da ELA é de 3 a 5 anos", informou ainda o ministério em texto sobre a doença publicado em 2009.

No caso de Simon, alguns meses após o diagnóstico, ele mal conseguia falar.

O marido tentou cometer suicídio duas vezes antes de ela concordar em ir com ele para a Suíça.

"Quando eu me lembro daquela época - em que vivemos um horror atrás do outro - vejo que subestimei o quão importante foi eu ter ido com ele."

A organização britânica de apoio às mortes assistidas Dignity in Dying estima que a cada oito dias alguém do Reino Unido viaja para a Suíça em busca de ajuda para morrer.

De acordo com a lei britânica Suicide Act 1961, incentivar ou auxiliar o suicídio ou tentativa de suicídio de outra pessoa na Inglaterra e no País de Gales é crime e pode levar a 14 anos de prisão. A morte assistida também é ilegal na Escócia e na Irlanda do Norte.

"Eu não me preocupei propriamente em infringir a lei, embora não quiséssemos que as meninas viessem por esse motivo", diz Deborah. "Eu sabia que nós todos estávamos trabalhando com as melhores intenções."

Deborah explica que experimentou o luto de maneira diferente quando perdeu Simon e Chloe.

"Perder um filho é diferente de tudo. A dor é essencial para quem você é e você não quer que ela vá embora. Às vezes, quando estou feliz, me sinto culpada. A dor faz você lembrar deles, do que você gosta", diz ela.

A vida agora

A morte de Chloe foi lenta, o que Deborah diz que foi fundamental para ela ser capaz de viver.

"O modo como Simon morreu foi tão diferente. Havia a preocupação sobre se estávamos fazendo a coisa certa. Com Chloe, não havia escolha", diz ela.

Ela agora está fazendo campanha com oncologistas e especialistas da indústria farmacêutica para melhorar o acesso de crianças e adolescentes a medicamentos, e reduzir a idade de participação em testes de remédios de 18 para 12 anos.

Deborah também escreveu um livro sobre as experiências que teve. "Uma coisa que eu prezo muito é a importância da resiliência e de fazer escolhas para viver depois", diz ela.

"Espero que as pessoas pensem: 'Céus, se ela pode fazer isso, eu também posso'. Eu acho que essa é a razão principal pela qual eu escrevi meu livro e porque leio outros nos meus momentos mais difícieis. Sempre há uma escolha, por piores que sejam as circunstâncias. "

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