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Coronavírus: frigoríficos concentram um terço dos casos de covid-19 no RS, diz Ministério Público do Trabalho

MPT contabiliza 2.079 casos confirmados de contaminação pelo novo coronavírus entre trabalhadores de 21 frigoríficos distribuídos por 16 municípios do Rio Grande do Sul - Getty Images
MPT contabiliza 2.079 casos confirmados de contaminação pelo novo coronavírus entre trabalhadores de 21 frigoríficos distribuídos por 16 municípios do Rio Grande do Sul Imagem: Getty Images

Luiz Antônio Araujo - De Porto Alegre para a BBC Brasil

26/05/2020 19h27Atualizada em 27/05/2020 08h29

Órgão contabiliza 2.079 casos confirmados de contaminação pelo novo coronavírus entre trabalhadores de 21 frigoríficos distribuídos por 16 municípios do Rio Grande do Sul.

O Ministério Público do Trabalho (MPT) contabiliza 2.079 casos confirmados de contaminação pelo novo coronavírus entre trabalhadores de 21 frigoríficos distribuídos por 16 municípios do Rio Grande do Sul.

O número equivale a 32,1% dos 6.470 casos contabilizados pela Secretaria da Saúde do Estado até a tarde desta segunda-feira (25).

O número total de trabalhadores nas 21 unidades é de 24.488, incluindo os que testaram positivo. Esse montante, por sua vez, equivale a quase 40% da mão de obra do setor no Rio Grande do Sul, que emprega cerca de 65 mil pessoas. Juntamente com o oeste de Santa Catarina, o Estado concentra o maior número de casos de covid-19 em frigoríficos no Brasil.

"Esses são os mais recentes dados que possuímos, sobretudo em razão de grandes testagens em alguns frigoríficos", afirma a procuradora do Trabalho Priscila Schvarcz, gerente nacional adjunta da força-tarefa do MPT para adequação das condições de trabalho em frigoríficos.

Ela atribui o alto índice de contaminação ao funcionamento das unidades, com mão de obra intensiva, aglomeração no transporte e trocas de turno e ambientes refrigerados.

"Temos insistido muito na necessidade de as empresas adotarem um sistema de vigilância ativa diante da pandemia", diz Schvarcz.

O MPT afirmou não dispor da informação de quantos testes foram aplicados em trabalhadores de frigoríficos. O governo do Estado afirmou não possuir levantamento de quantos testes foram realizados no total desde o início da pandemia.

A Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul havia distribuído 10.871 caixas de testes rápidos de anticorpos (por amostra de sangue ou plasma), cada uma com 20 testes, aos municípios gaúchos até 14 de maio, num total de 217.420 testes.

Foram distribuídas também 3.060 caixas para estoque às 19 regiões de Saúde do Estado, a Secretaria de Segurança Pública e pesquisadores da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Desde 23 de março, o Rio Grande do Sul só aplica testes RT-PCR, considerados mais precisos, em pacientes em estado grave e profissionais de saúde.

Inquérito sobre aglomeração

Trinta instalações de empresas frigoríficas são alvo de inquéritos civis instaurados pelo MPT em razão da covid-19. Outras 13 já funcionam ou estão em vias de retomar atividades por meio de Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) firmados com o órgão, que incluem testagem de 100% dos funcionários, redução do número de trabalhadores por turno e distanciamento social, entre outras medidas.

A primeira reclamação sobre aglomeração, em um estabelecimento do Grupo JBS, em Passo Fundo, foi recebida pelo MPT em 27 de março. Até 15 de maio, o órgão já havia identificado casos em 19 frigoríficos. Nos últimos 10 dias, foi registrada ocorrência da doença em mais dois estabelecimentos.

Dois frigoríficos foram interditados e um teve atividade reduzida no Estado desde o início da pandemia. Além do estabelecimento da JBS em Passo Fundo, por decisão do Tribunal do Trabalho da 4ª Região, uma unidade da BRF em Lajeado teve de paralisar atividades por determinação do Tribunal de Justiça do Estado.

A Justiça Estadual determinou também a redução em 50% dos abates da unidade da Companhia Minuano, de Lajeado.

Distante 112 quilômetros de Porto Alegre, Lajeado é o município gaúcho com maior incidência de casos de covid-19 por 100 mil habitantes (1.108,4) e o terceiro em número de mortes (16).

Passo Fundo, distante 288 quilômetros de Porto Alegre, é a segunda em número de mortes (29), atrás da capital, com 30. O município apresenta incidência da doença por 100 mil habitantes de 244,5, mais de seis vezes o índice da capital.

No sistema de monitoramento adotado pelo governo do Estado, Lajeado e Passo Fundo estão sob bandeira laranja, que designa risco médio. Nenhuma das 20 regiões de monitoramento recebeu bandeiras vermelha e preta, de risco alto e altíssimo, na semana de 25 a 31 de maio.

A BBC News Brasil tentou contatar as assessorias dos grupos JBS, BRF e Companhia Minuano, mas não havia obtido retorno até a publicação desta reportagem.

Após a publicação desta reportagem, a BRF enviou nota de esclarecimento sobre a questão. Segue a íntegra:

"A BRF informa que, desde o início da pandemia, vem implementando uma série de ações protetivas em todas as suas operações, contando com um Comitê Permanente de Acompanhamento Multidisciplinar, composto por executivos e especialistas, como o infectologista Esper Kallas, além da consultoria do Hospital Israelita Albert Einstein. A empresa também foi a primeira do setor a assinar voluntariamente um compromisso junto ao Ministério Público do Trabalho (MPT), em nível nacional, que endossa práticas de proteção aos colaboradores que já vinham sendo adotadas.

Sobre a aplicação de testes em suas unidades nas cidades de Lajeado (RS) e Concórdia (SC), a empresa informa que todos os colaboradores que apresentaram resultado positivo nos testes rápidos, portanto suspeitos, foram afastados preventivamente e submetidos ao teste RT-PCR, que tem por objetivo confirmar com mais assertividade o resultado. Vale ressaltar que, nos procedimentos que estão sendo realizados em outras plantas da BRF, o RT-PCR tem confirmado apenas entre 10% e 18% dos casos apontados como positivos nos testes rápidos. Em Concórdia, 93,4% dos funcionários voltaram ao trabalho na segunda-feira (25), mesma data que, em Lajeado, terminou a restrição de 50% de colaboradores na operação.

É importante salientar que os resultados positivos dos testes rápidos podem indicar presença de anticorpos (pessoas recuperadas), presença do vírus (mesmo em casos assintomáticos) ou falsos positivos, que podem surgir por reação cruzada com anticorpos de outros microrganismos (como parainfluenza, influenza A, influenza B, HIV, vírus da varicela, citomegalovírus, vírus do sarampo e da caxumba, entre outros). Por isso, os resultados positivos dos testes rápidos não indicam, necessariamente, que as pessoas tenham ou tiveram Covid-19, sendo então inicialmente considerados casos suspeitos. A confirmação de possível infecção pela Covid-19 se dá com a realização de exame mais preciso (RT-PCR).

Adicionalmente, a empresa também informa que, entre as iniciativas adotadas em todas as suas unidades estão o uso obrigatório de máscaras e demais EPIs, distanciamento mínimo entre funcionários, medição de temperatura nas entradas das unidades, afastamento de colaboradores do grupo de risco e casos suspeitos, reforço de higienização em diversas áreas e nos veículos de transporte fretado e busca ativa de potencial contaminação com o intuito de mitigar a exposição ao vírus.

Na área logística, a BRF também adotou procedimentos de segurança e orientações aos motoristas, como o uso obrigatório de máscaras, de álcool em gel, limitação da circulação nas áreas comuns das unidades para diminuir risco de contágio, oferta de refeições prontas e suporte médico para as transportadoras para tratar casos suspeitos. Em relação aos produtores integrados, a Companhia intensificou a comunicação, estendeu seu canal de esclarecimento e orientação médica 24 horas, além de reforçar orientações de higiene dentro e fora do ambiente de trabalho.

A BRF segue acompanhando a evolução da doença no Brasil e não medirá esforços para garantir a efetividade de suas ações, implementando novas medidas sempre que necessário e em consonância com as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde."