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Menos fome, mais obesidade: América Latina está sob alerta

Isabel Reviejo

No México

29/02/2016 20h09

Apesar de os países da América Latina e do Caribe terem conseguido diminuir notavelmente a fome na região, outro risco aumentou progressivamente: o da obesidade, que afeta 22% da população, conforme alertou nesta segunda-feira a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

Em meio à inauguração da XXXIV Conferência Regional da FAO para a América Latina e o Caribe, que neste ano é realizada no México, a organização informou que nos últimos 25 anos, mais de 31,7 milhões de pessoas superaram a fome na região, principalmente entre os anos 2000 e 2008.

No entanto, "foi aumentando o número de pessoas com obesidade e sobrepeso", que trazem consigo doenças "não transmissíveis" como diabetes ou doenças cardíacas, afirmou o diretor da FAO para a região, Raúl Benítez, em entrevista à Agência Efe.

Estas tendências não podem ser consideradas "um problema individual ou familiar, mas um problema de toda a sociedade", por isso Benítez pediu uma seleção cautelosa dos alimentos para o consumo, de modo a evitar os muito doces, gordurosos ou excessivamente salgados.

O diretor da entidade pediu que seja tratada com "grande responsabilidade" a perda de comida, já que na região "são desperdiçados 350 milhões de quilos de alimentos por dia", enquanto ainda há 34 milhões de pessoas que passam fome.

"O desafio do século XXI é conseguir erradicar a fome e a pobreza, mas de maneira sustentável", condição que atualmente não respeita os sistemas de produção e consumo.

No primeiro dia da conferência, que se estenderá até a próxima quinta-feira, funcionários dos 33 Estados-membros do organismo na região analisaram a evolução do continente rumo à meta de erradicar a fome para 2025.

O oficial da FAO Adoniram Sanches destacou a "rapidíssima erradicação" que países como Bolívia e Nicarágua tiveram contra a subalimentação e classificou como "bastante preocupante" os números de obesidade regionais, liderados por México e Chile, por isso solicitou o início de "sistemas de alimentação inclusivos e sensíveis aos temas de nutrição".

Segundo a análise da FAO, os países da região mais bem-sucedidos em diminuir a pobreza foram os que aplicaram medidas que, em primeiro lugar, deram maior urgência a atender os grupos vulneráveis, como problemas de crianças que vão à escola sem se alimentar, informou Benítez.

Além disso, houve melhores resultados quando se foram aplicadas medidas para atacar as causas que resultam a "vulnerabilidade dos grupos sociais mais pobres", e que impactam em fatores como "o mercado de trabalho, o acesso à terra, os mercados" e o financiamento dos pequenos produtores.

Benítez destacou a importância de aplicar "políticas específicas destinadas a apoiar os pequenos produtores", que apesar de serem maioria (constituem 80% dos agentes produtivos), só produzem 20% da soma final, em algumas ocasiões por diferenças tecnológicas.

Países como Argentina e Brasil são exemplo de que "quando há políticas concretas de apoio aos agricultores familiares, este setor é capaz de se transformar em parte da solução para o problema", por isso é preciso estimular os processos de capacitação.