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Implante no céu da boca pode reduzir ronco

O implante promete reduzir em até 80% o ruído do ronco e tratar casos leves de apneia do sono - Getty Images
O implante promete reduzir em até 80% o ruído do ronco e tratar casos leves de apneia do sono Imagem: Getty Images

Fernanda Bassette

Em São Paulo

06/08/2012 09h13Atualizada em 17/08/2012 12h30

Pacientes que roncam e foram diagnosticados com apneia leve têm agora mais uma opção de tratamento. Um dispositivo implantado no fundo do céu da boca, o chamado palato mole, por meio de um procedimento minimamente invasivo, promete reduzir em até 80% o ruído do ronco.

Estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) aponta que 33% dos moradores de São Paulo sofrem de apneia do sono, caracterizada pela interrupção momentânea da respiração enquanto a pessoa dorme. Há estimativas que indicam que 50% da população em geral tenha o problema, que pode acarretar males como hipertensão, diabetes tipo 2 e acidente vascular cerebral (AVC).

O implante palatal é comercializado com o nome Pillar e é fabricado pela Medtronic. A técnica, já usada na Europa e nos Estados Unidos, foi aprovada recentemente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Cada unidade custa cerca de US$ 200 - são usadas de três a cinco implantes em cada paciente.

Nesta semana, a técnica será apresentada por médicos do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital São Camilo, em São Paulo, durante um curso sobre diagnóstico e tratamento da apneia obstrutiva do sono.

Segundo José Antonio Pinto, chefe do serviço de otorrinolaringologia do São Camilo, a técnica é uma boa opção para pessoas com grau leve de apneia do sono, que é caracterizada por 5 a 15 interrupções da respiração em cada hora de sono. A apneia moderada ocorre quando o sono é interrompido de 15 a 30 vezes e a grave quando é acima de 30.

Técnica

De acordo com Pinto, a técnica usa minúsculos implantes de polietileno - um tipo de plástico usado na área cirúrgica e em outros enxertos. No consultório, o paciente recebe anestesia local ou sedação e, por meio de uma pistola especial, os implantes são aplicados no fundo do céu da boca do paciente, onde ocorre a maior vibração.

Em geral, são usados três implantes e o procedimento dura 20 minutos. Até agora, cinco pacientes do São Camilo receberam o implante, mas ainda não é possível avaliar os resultados porque o procedimento foi realizado recentemente. “Esses implantes produzem uma reação naquela região, gerando uma fibrose, uma cicatrização que enrijece o tecido e, consequentemente, reduz o ronco”, disse Pinto.

O paciente retoma as atividades normais em seguida e consegue até se alimentar. Nas primeiras semanas pode ser necessário tomar algum analgésico para reduzir o inchaço. “Fica uma sensação de corpo estranho na garganta, mas some rápido.”

Pouco eficaz

Para a médica Lia Bittencourt, coordenadora do Instituto do Sono, os resultados com o implante palatal não são tão eficazes quanto o uso do CPAP (aparelho que impede o fechamento da garganta durante o sono) e do aparelho intraoral (tipo de mordedura de silicone que mantém a boca do paciente fechada durante o sono e que puxa a mandíbula para a frente).

“O uso do CPAP é melhor para todos os casos, mas nem todos os pacientes aderem. Não está totalmente comprovado se o implante palatal realmente ajuda a regularizar as interrupções da respiração para menos de cinco vezes por hora de sono. Por isso, ainda não usamos”, diz.

O otorrinolaringologista Michel Cahali, do Hospital das Clínicas de São Paulo, conhece a técnica e diz ter uma impressão ruim sobre sua eficácia. “Aparentemente, o implante seria eficaz para reduzir o barulho do ronco, mas teria eficácia quase zero para tratar apneia. E menos de 5% dos pacientes têm ronco sem apneia associada.”

Para Cahali, ainda é necessário que sejam realizadas mais pesquisas na área para demonstrar que o implante é realmente uma boa alternativa, especialmente por causa do preço. “Não é um procedimento novo. Nos EUA deve ser usado desde 2004, mas a difusão ainda é baixa porque a tecnologia é cara.” As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.