Topo

'Nunca vimos um inimigo tão devastador', afirma virologista

29/02/2016 14h02

ARACAJU - A microcefalia já existia em Sergipe antes do zika. Médicos e enfermeiras estavam acostumados a ver um ou dois casos por mês nos hospitais do Estado, mas a notificação não era compulsória. Até que, em agosto de 2015, apareceram cinco casos, seguidos de outros 15 em setembro e mais 35 em outubro. "Aí, pronto, alguma coisa estava errada", diz o obstetra Luis Eduardo Prado Correia, superintendente da Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, instituição de referência para gestações de alto risco da Secretaria de Estado da Saúde, em Aracaju.

"Houve um aumento repentino do número de casos, sem dúvida, de uma maneira assustadora", lembra a infectologista e superintendente do Hospital Universitário de Sergipe, Angela Maria da Silva. Em novembro, o número saltou para 64. Depois, caiu para 37 em dezembro e 21, em janeiro. Neste mês, foram 17. "A estatística vem diminuindo, mas ainda está muito acima do esperado", avalia Mércia Feitosa de Souza, uma das coordenadoras do Plano Estadual de Combate à Microcefalia.

Sequelas. A gravidade dos casos é variada, mas todos os bebês precisam de acompanhamento. Um relato frequente das mães é que eles choram muito e têm dificuldade para mamar. Outras complicações incluem dificuldade respiratória, problemas de visão e audição, espasmos e rigidez muscular. Há crianças que nascem com deformações nos braços e nas pernas, que, segundo os médicos, podem também estar relacionadas ao zika.

"Temos de encarar esse vírus com muito respeito. Nunca vimos um inimigo tão oculto, mas tão devastador", alerta o pediatra e virologista Saulo Passos, da Faculdade de Medicina de Jundiaí, que participou do trabalho de campo em Sergipe. "Eu vim aqui para olhar na boca do leão; e o que a gente viu até agora assusta."


As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Herton Escobar, enviado especial