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Boatos e fake news podem explicar por que vacina contra febre amarela encalhou

Febre amarela e baixa adesão - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem - Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem
Procura por vacina foi grande no início da campanha de vacinação, mas diminuiu posteriormente
Imagem: Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem

Roberta Jansen

09/03/2018 07h40

Com os casos de febre amarela se multiplicando no País, Aline (nome fictício), de 46 anos, tentava decidir se tomava ou não a vacina. Foi quando recebeu, pelo WhatsApp, áudio de uma suposta médica desaconselhando a imunização. A comerciante carioca não lembra o nome da profissional nem onde ela trabalha. Também não sabe dizer quem divulgou o áudio, que chegou pelo grupo da família. Ainda assim, bastou para que decidisse: não se protegeu do vírus.

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"Não me vacinei nem vou me vacinar", diz Aline. "No áudio, a médica explica que a vacina foi feita de qualquer jeito e é muito perigosa, que daqui a dez anos as pessoas terão problemas por causa de reações. Vou tomar uma coisa dessas?"

O País enfrenta surto da doença, com letalidade que beira 50%. E lida com a epidemia de informações mentirosas, que têm afastado muita gente da vacina, a mais eficiente forma de prevenção. "Notícias falsas sobre febre amarela se alastram numa velocidade alarmante nas redes sociais", atesta o pesquisador da Fiocruz Igor Sacramento, que estuda fake news na saúde.

Uma notícia falsa que circulou no WhatsApp relacionava a vacina a casos de autismo - o que tampouco é verdadeiro. Há outra feita supostamente com base em um estudo da Fiocruz. O texto diz que a vacina não seria capaz de imunizar e remetia ao link do artigo da instituição - que não afirma que a vacina não funciona. A Fiocruz desmentiu o boato. "Estão ficando mais sofisticadas, com cara de notícia verdadeira, edição profissional, usando estudos verdadeiros como base", diz Sacramento.

Cobertura

Coordenador regional de Saúde Norte da Secretaria Municipal da Saúde, José Mauro Correa afirma que a cobertura vacinal da zona Norte,  primeira a ser imunizada na capital, chegou a 75% e a meta é imunizar toda a população da região até o fim de junho. "Estamos pedindo que a população vá às unidades de saúde para fazer a avaliação para saber se pode tomar a vacina. Nosso esforço é para fazer a cobertura vacinal e vamos conseguir vacinar todo o território."

Correa afirma que houve muita procura no início da campanha, mas que o movimento caiu. Agora, diz, a ação casa a casa realizada pelos agentes está fazendo a diferença. "É um trabalho forte de sedução do funcionário, que tem de dar conta do funcionamento normal da UBS e da imunização. Eu considero que essa é uma ação que está tendo êxito."

Desafio

Segundo Marcos Boulos, coordenador de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde, campanhas de imunização que têm adultos entre o público-alvo costumam ter problemas com adesão. "Vacinar adulto é muito difícil, porque as pessoas acham que não vai acontecer nada com elas, mas boa parte das pessoas que morreram por causa da febre amarela não tinha tomado a vacina. Sabemos que a vacina não é uma coisa inócua, mas a doença é muito mais grave do que a vacina."

Boulos diz que a cobertura vacinal no Estado, embora esteja aumentando, ainda pode ser considerada baixa (45%). Ele afirma que a ação casa a casa está sendo realizada em todos os municípios do Estado. De acordo com Boulos, o índice na capital é de 17,1% (dados até 29 de janeiro deste ano). "É considerado baixo, mas não era uma área de recomendação. Agora, vai ter de subir." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.