Otimistas tendem a ser mais saudáveis; já o pessimismo pode até gerar doenças
É fato, no senso comum, que há pessoas otimistas e pessimistas, avaliadas assim a partir do comportamento que apresentam. As primeiras são mais positivas e esperançosas, enquanto as segundas são negativas e pautadas pelo desânimo.
“No âmbito da psicologia, tais características têm relação com a capacidade de lidar com os instintos de vida e de morte presentes na psique humana”, explica Cristiane Moraes Pertusi, doutora em Psicologia do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo (USP).
Segundo a teoria psicanalítica, o homem carrega, dentro de sua estrutura emocional, estas duas forças – pulsões ou instintos –, havendo uma ambivalência nas dobradinhas alegria e tristeza, amor e ódio, afeto e agressividade.
"Então, na perspectiva clínica, o otimista teria maior predominância de instintos de vida e o pessimista de instintos de morte. Ambos ficam fora do campo da consciência em um primeiro momento, e são estimulados de acordo com questões culturais, sociais e familiares.”
Além dos pulsões de vida e de morte, há que se considerar outros fatores, como os fisiológicos: os níveis de hormônios que regulam o humor, por exemplo. A cultura também conta: nas sociedades muito rígidas, como a japonesa, a vida é encarada com seriedade e rigor, o que leva a um alto índice de suicídios – e nos mostra a pressão psíquica que gera comportamentos autodestrutivos.
“A questão ambiental igualmente tem sua parcela de responsabilidade, como as relações no meio familiar, principalmente as primeiras, com pai e mãe”, salienta Cristiane Pertusi.
Não há como negar: os otimistas veem o horizonte com mais leveza e, na maioria das vezes, têm mais coragem para enfrentar as dificuldades, criando e percebendo possibilidades para melhorar sua vida. “Eles acreditam mais, aprendem com os problemas e experiências ruins, tendem a levar uma vida mais saudável e, logo, ficam menos doentes”, acredita Regiane Machado, psicóloga clínica formada pela Universidade Católica de Santos.
Boas mensagens
Mas será que o otimismo, e o seu oposto, perduram pela vida afora? De uma maneira geral, sim. Indivíduos com comportamentos "para cima" acumulam experiências positivas desde a infância, assim como maior autoestima. “Muito provavelmente tiveram, no contato com pais e cuidadores, estímulos para uma postura feliz. Internamente, sua psique e seu processo cerebral estão mais habituados a produzir mensagens positivas”, observa Cristiane Pertusi.
E não é só isso: o otimista saudável apresenta mais condições de perceber o mundo e suas relações de maneira inteira e realista, sem distorcer o horizonte, assim como dispõe de um suporte maior para lidar com as vicissitudes sem se sentir derrotado.
O pessimismo, por outro lado, dependendo da dimensão, pode trazer prejuízos até físicos, causando depressão e doenças psicossomáticas ou autoimunes.
“É possível que provoque alterações bioquímicas nas células corporais. Além da baixa autoestima, a pessoa não se respeita, tem uma autoimagem distorcida, dificuldades de relacionamento e, consequentemente, uma vida social limitada e que não a satisfaz”, analisa Regiane Machado, enfatizando a necessidade de cautela em ambos os perfis se os mesmos forem extremados.
“Enquanto o pessimista tende a ver e vivenciar o negativo, o otimista pode vislumbrar tudo cor-de-rosa e não perceber alguns riscos no dia-a-dia.” Veja, a seguir, conselhos para ser um otimista equilibrado.
Procure pensar nas coisas que você faz bem. Valorize-as, dê a elas a importância que têm |
Busque ter uma vida social – e não se feche em si mesmo |
Descubra quais são seus sonhos. “E monte estratégias e metas para alcançá-los. Acredite que são passíveis de realização e parta para a ação”, incentiva a psicóloga Regiane Machado |
Invista em atividades que gosta e tem habilidade para desenvolver. “Faça isso no trabalho e na vida íntima – cultivando hobbies, por exemplo”, recomenda a psicóloga Cristiane Pertusi |
Converse e procure estar próximo de pessoas que incentivam você a crescer pessoal e profissionalmente. “Envolva-se com quem é otimista e, por esforço próprio, colheu bons resultados em experiências. Histórias reais servem de incentivo”, diz Machado |
Não se deixe abater por algum desafio ou problema. “Se precisar, vá atrás de opiniões e ideias de amigos e familiares que podem ajudá-lo a solucionar e superar essa situação”, diz Pertusi |
Caso se sinta muito impotente e descontente com sua vida, incapaz de lidar com os revezes que se apresentam, vá atrás de apoio psicológico – será ótimo fazer uma terapia. “Vale investir no autoconhecimento, que possibilita uma existência melhor e mais feliz”, diz Pertusi |
Não se acomode em ver a vida em preto-e-branco. “Lute para compreender que há momentos, sim, com essas duas cores. Mas, mesmo nestes cenários, outras nuances do arco-íris estão presentes” |
Pense que uma pessoa saudável compreende o entorno de maneira integral, com seus aspectos positivos e negativos, sabendo lidar com ambos sem que um se sobreponha exageradamente sobre o outro. “Nesse caminho, cultivam hábitos que trazem satisfação e prazer, fazem questão de ter uma dinâmica social ativa e estabelecem relações com maior igualdade e menos conflitos”, pondera Pertusi |
Um último toque: otimismo em excesso, com euforia constante, pode estar relacionado a uma visão idealizada e até maníaca da vida. “Com isso, perde-se a noção de perigo e o indivíduo fica sem limites e muito ansioso. Com certeza, também precisa de ajuda. O ideal é ter equilíbrio, sabendo lidar com sentimentos ambivalentes e contraditórios sem que estes o façam divagar em análises distorcidas e irreais”, conclui Pertusi |
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