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Mortes por leptospirose assuntam moradores de Campo Largo, no Paraná

Carlos Kaspchak

Do UOL, em Curitiba

13/03/2013 18h41

Os moradores de Campo Largo, município da região metropolitana de Curitiba (PR), estão preocupados com o aumento de casos de leptospirose registrados na cidade nos primeiros meses deste ano. Foram duas mortes e 15 notificações apenas no período de janeiro a março de 2013. Em todo o ano passado, houve 17 notificações e nenhuma morte.

A Secretaria de Saúde de Campo Largo é cautelosa ao tratar do assunto. “Não podemos dizer que haja um surto, talvez possamos falar em princípio de surto”, disse ao UOL nesta quarta-feira (13), o diretor técnico da Secretaria de Saúde de Campo Largo, Kengi Itinose. Ele nega qualquer tipo de “invasão” ou aumento na infestação de ratos na cidade, mas confirma que houve um aumento no número de notificações e que isso é motivo de preocupação.
 
Para ele, não há nenhuma evidência técnica que confirme que há um surto de leptospirose no município. “Na nossa avaliação, o aumento nas notificações se deve ao fato que neste verão tivemos um volume de chuvas maior que o normal. E é por meio da água que a contaminação da leptospirose acontece”, explicou.
 
O médico disse que a prefeitura está monitorando os animais domésticos, principalmente cães, que apresentem sintomas da doença. “É uma zoonose. Transmitida entre animais e depois para os humanos. Este monitoramento sempre é feito e não constatamos qualquer situação alarmante”, disse.
 
Itinose disse que a população está sendo informada sobre os cuidados para se prevenir da doença. “Os médicos e os profissionais das unidades de saúde foram alertados. Também estamos alertando a população de casa em casa nas áreas de maior risco”, informou.
 
Lixo
 
“Estou preocupada porque até parece que temos uma invasão de ratos na cidade e pessoas já morreram por isso”, afirmou a cabeleireira Maria Helena, que mora no bairro Ferraria, em Campo Largo (PR). Segundo ela, o problema é que existem muitos terrenos baldios e com lixo na região onde ela mora. “É um perigo.”
 
O mecânico Leonardo Zanin, que mora no Conjunto Águas Claras, em Campo Largo, disse que não percebeu que exista uma “invasão” de ratos na cidade. “Não sei de nada disso”, comentou. “Sei que tem muito lixo e água parada em muitos lugares e que isso ajuda os ratos e facilita pegar doenças”.
 
Mortes
 
Os dois casos de mortes registrados por leptospirose este ano em Campo Largo foram de Luiz Fernando Ferreira de Souza, 16 anos, que faleceu no dia 2 de fevereiro e era morador do bairro Jardim Tropical. Outro caso foi o de uma menina de 13 anos, que morreu no dia 26 de fevereiro, e morava no bairro Rivabem 2.
 
Segundo a Secretaria Estadual de Saúde do Paraná, em 2013 já foram registrados 161 casos e quatro mortes por causa da leptospirose em todo o Estado. Em 2012, foram 201 casos, com 21 mortes e em 2011, 422 casos com 55 mortes.
 
Doença
 
O diretor técnico da Secretaria de Saúde disse que o diagnóstico da leptospirose é difícil e pode ser confundido com gripe, gastroenterite e virose. “Os sintomas podem ser confundidos nos primeiros dias. É uma doença bifásica, quando há uma aparente melhora e depois volta em uma forma mais grave”, relatou.
 
A leptospirose é causada pela bactéria leptospira, presente na urina de ratos e ratazanas. Com as chuvas, a urina se mistura à água de valetas, lama, lagoas e cavas. A bactéria penetra no corpo humano através de pequenos ferimentos na pele, ou pelo simples contato excessivo com a água. Após a infecção, o período de incubação da doença é em média de 7 a 14 dias.
 
“Em 90% dos casos a evolução é benigna, mas a doença pode levar a morte se não for tratada de modo correto e precocemente”, informou o médico. Os primeiros sintomas são febre alta, mal-estar, dores de cabeça constantes e intensas dores pelo corpo, principalmente na panturrilha (barriga da perna), cansaço e calafrios.
 
Veneno
 
O médico alerta que a compra de raticidas proibidos, como os vendidos na forma líquida e o chumbinho, representam um grande risco para a saúde das pessoas e de animais domésticos. “O uso destes produtos só aumenta os casos de intoxicações acidentais. São venenos. O correto é manter os ambientes limpos e lembrar que alguns fatores determinantes como acesso, abrigo, alimento e água facilitam a instalação de ratos e outros animais que podem trazer doenças”, alertou Itinose.