Quanto mais forte a autoestima, menos sofrido será lidar com a doença
Segundo a psicóloga Stela Duarte Pinto, do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo), cada pessoa reage de um jeito ao receber o diagnóstico de uma doença grave como o câncer.
Ela cita a psiquiatra suíça Elizabeth Kübler-Ross, autora do livro “Sobre a Morte e o Morrer”, que disse que a morte é uma questão iminente, quando se descobre que se tem uma doença como o câncer, que pode ser fatal. A pessoa, então, fica em choque e costuma passar por algumas fases nestas situações.
As cinco fases são: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. “Porém, as reações costumam vir das características anteriores da pessoa”, conta a psicóloga, acrescentando: “Uma deprimida irá enfrentar de modo diferente de alguém que não teve problemas psicológicos anteriores. Para saber melhor como uma pessoa irá reagir é preciso conhecer sua história de vida, de trabalho, se tem suporte de amigos e família, como enfrentava os problemas do dia a dia e se esta soma ajuda ou atrapalha".
“Pelo que noto, a Flávia é alguém que não se acomodou e foi em busca de estimular isso também em outras pessoas que passam pelo mesmo que ela. Assim, acaba ajudando aquelas não têm este recurso interno”.
Pensando nessa troca, o próprio Icesp costuma realizar eventos para aproximar as pessoas. São desfiles de moda onde os pacientes são os modelos, voluntárias disponibilizando perucas e lenços e aulas de maquiagem com apoio de uma famosa empresa de cosméticos, entre eles.
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Apoio e abandono
É mais comum a mulher ser abandonada nesta situação que o oposto ou isso é um mito? “Seria preciso saber como era a relação antes da doença. Se era um relacionamento frágil, pode acontecer de o homem não ter o desejo de continuar”, diz a psicóloga.
Porém, ela constata que mulheres são mais presentes que homens: “É algo cultural. É muito mais do gênero feminino cuidar, zelar de quem se gosta que o masculino, que tem outra função: prover. Hoje em dia, até que o papel do homem vem mudando, mas há certas ações esperadas das mulheres. Afinal, é muito mais comum ver mães solteiras que pais”.
Stela Duarte Pinto conta, ainda, segundo a literatura médica, quanto mais fontes de apoio a pessoa tiver para fortalecer a autoestima, melhor. “Isso torna mais possível e menos sofrido lidar com a trajetória da doença”.
Porém, ela frisa que não é porque uma pessoa se deprimiu que vai morrer. Mesmo quem possui bons recursos de enfrentamento tem dificuldades. As coisas podem se modificar e a pessoa que era negativista pode melhorar sua situação, tornando seu percurso menos doloroso.
Por isso mesmo, é indicado manter algumas atividades durante o tratamento. Criar uma página para lidar com a situação e inspirar outras pessoas pode ser uma delas.
Todas as pessoas famosas que enfrentam doenças ou grandes problemas servem de exemplo, conta a psicóloga: “Muitos pacientes que atendo falam do Reynaldo Gianecchini. Ele teve todo o movimento de passar pela doença, dar a volta e ajudar outras pessoas que também estavam doentes. Elas o veem na televisão bem e trabalhando. Ele é um exemplo”.
Homens x mulheres
A psicóloga comenta que o câncer de mama é o mais falado. Por isso, o desconforto e o embaraço das mulheres que perdem o seio são tão conhecidos.
“Porém, os homens também sentem vergonha especialmente quando usam aquelas bolsas drenáveis para estoma intestinal (cirurgia de derivação intestinal para o exterior). Isso mexe com a autoimagem. O câncer de próstata é o mais conhecido entre eles, mas suas consequências, impotência e incontinência urinária, não são tão visíveis como a perda de uma mama”, esclarece ela.
E o mesmo vale na hora de se fazer uma terapia, por exemplo. Mesmo sem ser algo físico, é mais comum as mulheres trazerem as dificuldades à tona. Já os homens são mais fechados em relação a sentimentos.
Autodefesa
A psicóloga conta que também não é incomum a pessoa, diante de dificuldades, ter uma forma de se defender sofrendo o mínimo possível. “Nestes casos, costuma falar coisas como ‘eu tenho um negócio’, ‘ o médico achou um troço em mim’. Ou seja, não quer falar sobre a doença, finge que não é com ela. Diminui o valor do problema”.
Ela alerta, porém, que por mais animada que uma pessoa assim possa parecer e por mais que evite a situação, em certo momento terá de tomar conhecimento de seus problemas e enfrentá-los.
“É importante ter acompanhamento psicológico. Às vezes a pessoa não se permite entrar em contato com o que está sentindo. Tive uma paciente que me disse: ‘vou perder um seio, mas vou ficar viva’. Ela estava ampliando sua consciência: ‘eu não sou só este pedaço do meu corpo’. Isso é muito importante”, finaliza a psicóloga.
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